Com a idade de 11 anos foi transferido para o templo Rinzai, Daichu-ji. Um ano mais tarde, após uma alteração com um companheiro de estudos foi transferido para o templo Soto, Teishin-ji, estudando com Yasutani Ryogi, de quem adotou o nome.

Com a idade de dezesseis anos passou para o templo Soto Denshin-ji, em Shimoda, umas 75 milhas afastado na ponta da península de Izu, onde continuou seus estudos e serviu como assistente de Zenji Nishiari Bokusan.

Dos vinte aos quarenta anos continuou seus estudos e treinamento no Japão, viajando de templo em templo, encontrando-se com variados monges budistas e mestres Zen na sua busca pela verdade.

Casou-se com trinta anos e mesmo sendo monge, como não havia nenhum templo disponível, atuou 10 anos como professor e diretor na escola elementar. Neste ínterim teve 5 filhos. Mesmo durante este tempo continuou sua peregrinação pelos templos procurando por um mestre genuíno.

Em 1925, com quarenta anos, encontrou seu mestre e passou a dedicar todo seu tempo as atividades de monge da seita Soto, no templo Hosshin-ji, com o grande mestre Zen, das linhagens Soto e Rinzai, Roshi Harada Daiun Sogaku.

Dois anos mais tarde sobre a supervisão de Harada alcançou o Kensho. Dezesseis anos depois, no dia 8 de abril de 1943, com 58 anos de idade recebeu o Inka.

A partir do verão de 1962, Roshi Yasutani, fez a primeira de suas seis viagens aos Estados Unidos, que continuaram até 1969. Na primeira visita em 1962, conduziu sesshins em Honolulu (Havaí), Los Angeles e Claremont (Califórnia), Wallingford (Pensilvânia), Nova York, Boston, Massachusetts e Washington. Nas cinco visistas seguintes repetiu estas atividades.
Yasutani Roshi morreu em 28 de março de 1973.

O que diferencia Roshi Yasutani de outros mestres contemporâneos do Zen foi a forma intensa, com que conseguiu sintetizar o que considerou melhor das seitas Rinzai e Soto, no processo de criação de uma nova linhagem do Zen que chamou de Sanbo Kyodan, "a participação dos três tesouros", enfatizando o Koan e o Kensho suportados pelo Zazen e por Shikantaza.

D.T.Suzuki e Roshi Yasutani foram sem dúvidas os personagens mais influentes na propagação do Zen moderno no Ocidente.

Aos oitenta anos o Mestre Zen Hakuun Yasutani está prestes a embarcar para uma prolongada estada na América, a fim de expor o Dharma de Buda. Com este passo, evoca o espírito do famoso Bodhidharma, que nos últimos anos de sua vida voltam as costas à sua terra natal e encaminhou-se para longínquas paragens, a fim de plantar a semente viva do budismo. Para Yasutani-roshi, porém, este não é nada mais do que um dos acontecimentos importantes numa vida marcada por incomparáveis realizações.

Desde seu septuagésimo quinto aniversário, escreveu e publicou cinco volumes completos de comentários sobre as coleções de koan conhecidas por ‘Mumonkan", Hekigan-roku", "Shoyo-roku", e a "Denkoroku", e sobre os "Cinco degraus do Tozan" (Go-i em japonês). Reunidas,, esta série representa um fato único na moderna história do Zen.

Estes escritos são apenas uma faceta da sua extensa atividade de ensino. Além de realizar sesshin mensais de três a sete dias no seu próprio templo nos subúrbios de Tóquio, e sesshin periódicos em Kyushu e Hokkaido, extremos sul e norte do Japão, cada semana dirige um grande número de sesshin de um dia (zazenkai) na área do grande Tóquio. Entre outros lugares, contam-se uma grande universidade, diversas fábricas, a academia de autodefesa, e diversos templos.

Por duas vezes viajou para o Ocidente. Na sua primeira visita à América em 1962 realizou sesshin de quatro a sete dias em Honolulu, Los Angeles, Califórnia, Wallingford, Pensilvânia, Nova-Iorque, Boston e Washington D.C. No ano seguinte repetiu os sesshin na América, aumentando suas atividades e incluindo conferências sobre o Zen na Inglaterra, na França e na Alemanha.

Esposo, pai, professor e finalmente mestre Zen, Hakuun Yasutani não alcançou sua posição atual fugindo aos sofrimentos e alegrias que ocorrem na vida do homem comum, mas antes experienciando-os e transcendendo-os. Neste ponto sua vida reflete o ideal do mahayana de que a autopercepção tanto é possível para o chefe de família como para o monge celibatário.

Yasutani-roshi nasceu de uma piedosa mãe budista e de um pai proprietário de uma pastelaria numa pequena aldeia. Com cinco anos raspou sua cabeça, simbolizando sua admissão no monaquismo budista. Depois seus pais, conforme o costume das famílias devotas daquele tempo, mandaram-no habitar num templo, para que absorvesse a atmosfera religiosa e fosse influenciado na direção do sacerdócio.

Permaneceu neste templo até os doze anos, fazendo os serviços de neófito, freqüentando uma escola primária e recebendo instruções sobre os fundamentos do budismo do sacerdote principal. Completando seus treze anos, tornou-se noviço de um grande templo Soto. Freqüentou em seguida dois anos mais de estudos numa escola pública, cinco anos num seminário dirigido pela seita Soto, e finalmente quatro anos numa escola de treinamento de professores.

Hakuun Yasutani casou-se com trinta anos e começou a formar sua família, que cresceu até o número de cinco filhos. Nominalmente sacerdote, ocupou a posição de Mestre numa escola primária para sustentar sua família que crescia, uma vez que não conseguiu lugar em templo algum. Ensinou por mais cinco anos e, promovido a diretor, serviu ainda quatro anos nessa mesma escola.

Apesar dos encargos de criar uma família de cinco e das exigências de sua função, por todos aqueles anos continuou, sob vários mestres, o zazen que iniciara há muitos anos passados, mais exatamente, na idade de quinze anos. Uma vez que estes mestres eram reconhecidamente os melhores da seita Soto, o fato de tratarem do satori nos seus princípios gerais mais indeterminados, levou a que sua realização concreta parecesse remota e quimérica. Sentiu sempre a necessidade de um mestre genuíno, uma figura semelhante a Buda que orientasse seus pés para a verdadeira trilha. Com quarenta anos encontrou-o finalmente com Harada-roshí, e com este contato sua vida tomou um rumo decisivo.

Abandonou o cargo de diretor, tornou-se sacerdote de fato, tanto quanto de nome, começou a freqüentar regularmente os sesshin no Mosteiro de Harada-roshi, Hosshin-ji. Logo no seu primeiro sesshin obteve o "kensho" com o koan Mu.

Yasutani-roshi tinha cinqüenta e oito anos quando Harada-roshi lhe deu a carta de aprovação ("inka shomei') e o nomeou sucessor do Dharma. Esta prova de estima significava que era profunda a sua percepção espiritual, alto seu caráter moral e aprovada sua capacidade de ensinar.

Como seu modesto templo, Yasutani-roshi é simples e natural. Suas duas refeições diárias não incluem nem carne, peixe e ovos, nem álcool. Pode ser visto freqüentemente caminhando apressado por Tóquio, numa veste andrajosa e sapatos de tênis em direção a um encontro de zazen com seus livros de conferências numa bolsa atirada às costas, ou em pé num trem de segunda classe suburbano superlotando Na sua extrema simplicidade, e indiferença pelo requinte, riqueza ou fama, caminha nas pegadas de uma fileira de mestres Zen ilustres.

por Charlotte Joko Beck

Na década de 60, Hakuun Yasutani Roshi começou uma série de visitas anuais para pregar o dharma nos Estados Unidos. Em cada visita, conduzia sesshins que duravam uma semana inteira, na parte sul da Califórnia. Como tantos outros que começaram a prática zen com Yasutani Roshi durante tais visitas, comecei a praticar intensamente com ele, por sete dias, todos os anos, e, no resto do ano, continuava meu zazen por conta própria. Aqueles sesshins eram bastante difíceis para mim, e devo acrescentar que, se alguma vez houve uma prática confusa, foi a minha. Entretanto, ter a oportunidade de estudar com ele, mesmo que fosse por sete dias a cada ano, e ver o que ele era: humilde, suave, vigoroso, espontâneo — era o suficiente para manter-me nesse caminho.

Ele já era muito idoso quando o conheci, perto dos oitenta e tantos anos, e apresentava algumas dificuldades físicas. Quando entrava no zendo, ficava atenta para ver se ele conseguia chegar até o lugar em que se sentava. Um homenzinho miúdo, curvado, entrando na sala. Quando começava a falar sobre dharma, eu não conseguia acreditar! Era como uma corrente elétrica percorrendo a sala:

a vitalidade, a espontaneidade, a devoção total. Não importava o que ele dizia, nem o fato de precisar de intérprete. Sua presença em si revelava o dharma: não se podia esquecê-lo depois de tê-lo visto uma só vez.

Duas qualidades em Yasutani Roshi impressionaram-me profundamente. Eu diria que ele era, ao mesmo tempo, luminoso e comum. Se olhássemos em seus olhos durante uma entrevista formal, veríamos que ali não existia nada, era como um espaço de milhares de quilômetros vazios. Era espantoso. Porém, de alguma forma, naquele espaço aberto havia a cura total.

Fora do zendo ele era apenas um homenzinho igual a todos, indo de um lado para outro com sua vassoura, de calças enroladas, comendo cenoura. Ele adorava cenoura.

Yasutani Roshi foi minha primeira experiência do que é um verdadeiro mestre zen e foi uma experiência de muita humildade, porque ele era muito humilde. Irradiavam-se dele liberdade, espontaneidade e compaixão, a jóia que todos nós buscamos com nossas próprias práticas. Entretanto, precisamos tomar cuidado para não buscar a jóia no lugar errado, fora de nós, e assim ficaremos sem ver que nossa vida em si é a jóia, talvez ainda em estado bruto, mas já perfeita, completa e inteira.

1. Extraído de "Zen Buddhism - Hakuin School"
   (www.ciolek.com/WWWVLPages/ZenPages/Hakuin.html) e http://www.ysdharma.org/ourzen.htm.
2. Extraído do site http://www.impermanent.net/zcboston/lineage.html
3. Extraído de "Os três pilares do Zen" de Philip Kapleau