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Nan-Chuan (748-835)
Referências/Varenne

Referências1

Nanquan Puyuan (Nan-ch'uan P'u-yuan, Nansen Fugan), 748-835.
Um Herdeiro de Dharma de Mazu Daoyi. Ele teve dezessete herdeiros, entre eles Zhaozhou Congren, Changsha Jingcen e Cihu Lizong. Ele aparece em "Registros do Precipício Azul" 28, 31, 40, 63, 64, 69, "Registros do Silêncio" 9, 10, 16, 23, 79, 90, 93 e "Gateless Gate" 14, 19, 27, 34.


Nan-Chuan (748-834) e Chao-Chou (778-897)2

Por Jean-Michel Varenne

Esses dois mestres seguiram, à sua maneira, o ensinamento de Lin-Tsi. Entretanto, a doutrina começava a enfraquecer. ameaçada de corrupção pelo discurso didático e a exegese dos diálogos.

Um dia, Chao-Chou (Joshu Hushin) fechou-se na cozinha do monastério e deliberadamente, deixou que se enchesse de fumaça antes de clamar por socorro em altos brados. Os monges acudiram-no, mas ele se recusou a abrir antes que lhe fornecessem "a palavra justa".

Nan-Chuan (Nansen), silenciosamente, passou-lhe a chave pela janela. Chao-Chou, aparentemente satisfeito, abriu e saiu sem uma palavra.

Nan-Chuan poderia abrir a porta por fora; contudo, essa atitude racional não corresponde à verdade do Zen. Só se pode abrir de dentro, por si mesmo... desde que, é claro, um mestre forneça a chave!

A anedota ilustra a transmissão do espírito, que tanto tem intrigado os comentadores.

Chao-Chou gostava de dizer: "Nada tenho por dentro, nada procuro fora".
A um novato que gabava ter chegado de mãos vazias, exigiu: "Então põe tudo no chão".
Estupidamente, o aluno persistiu no erro: "Pôr o quê, se não trago nada?"
E Chao-Chu: "Está bem, então continua a carregá-lo".

O exemplo mostra a maiêutica herdada de Lin-Tsi. O visitante (aluno) prega uma peça ao anfitrião (mestre), referindo-se a um ponto do Tch’an (chegar de mãos vazias:

estar livre do pensamento). Mas esse discípulo, muito limitado, contenta-se em repetir uma fórmula. Ele está, na verdade, possuído por idéias feitas. O mestre atira-lhe a isca pedindo que deposite esse fardo (a presunção errônea da verdade) no chão. O aluno não percebe o sentido da apóstrofe e persiste no lugar-comum, no clichê zen. Com bonomia, o mestre tenta pela última vez apontar-lhe o caMinho...

O frescor do Tch ‘an impregnado pela língua vernacular torpedeia a suficiência de certos adeptos.

Chao-Chou respondeu a um monge que o interrogava sobre "o princípio mais visceralmente importante do Zen": "Agora preciso ir urinar. Pensa bem, até uma insignificância como essa devo fazer sozinho!"

Isso lembra o célebre dito de Lin-Tsi: ‘‘Adeptos! Não há trabalho no Zen. É preciso apenas manter-se na comum das coisas e, sem cuidados, cagar e mijar, vestir-se e comer!’’

Infelizmente, essa leveza foi se perdendo com o tempo, atolando-se na contemplação própria. O espírito do Tch’an-não se perdeu, não foi dilapidado. O ‘capital" espiritual frutificou sob os Song e mesmo sob certos mestres japoneses, mas o jorro inicial foi estancado.

Privado do impulso inicial, o Tch’an se viu condenado irremediavelmente à repetição enfadonha.

É assim que o emprego do koan veio a se tornar um artificio mais ou menos cômodo, um compromisso, às vezes, eficaz, porém fadado a mascarar uma perda de autenticidade.

Chao-Chou constatava já esse apoucamento do Tch’an quando escreveu:

‘‘Há 90 anos, vi mais de oitenta mestres iluminados na linhagem de Matsu, todos dotados de espírito criador. Nos últimos tempos, a busca do Tch´an foi aos poucos se banalizando e se ramificando.
Cada vez mais distanciado do espírito original que animava homens de suprema sabedoria, o processo de degenerescência prosseguirá de geração em geração...’


  1. Extraído de "Ensinos do Mestre Zen Anzan Roshi"(texto compilado pelo Ven. Jinmyo Fleming ino e traduzido ao Português por Claudio Miklos.
  2. Extraído de "O Zen" de Jean-Michel Varenne



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