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A Primeira Nobre Verdade
(Incluindo uma Discussão sobre a Temporaneidade)
(Anzcca)

O budismo, não sendo uma religião revelada, pelo menos não no sentido usual da palavra, baseia-se totalmente na experiência humana, O seguidor do Buda éexortado a não acreditar em nada que não tenha ainda experimentado ou averiguado ser verdadeiro.

Consideraremos agora, na segunda parte deste livro, os principais dogmas da filosofia budista. Não devemos esquecer, entretanto, que estas "verdades" não são apresentadas ao suposto budista como elementos de fé nos quais ele necessite acreditar para ser salvo. Elas são o resultado da busca de um homem pela verdade e pela liberdade, e têm sido consideradas válidas por milhares de pessoas que o seguiram; mas cada um por si só, desde que seja um verdadeiro seguidor do Buda, deverá ponderar seus próprios passos, e eventualmente experimentar a verdade, não através do que ouviu dizer, mas através do conhecimento que adquiriu durante sua própria vida. Até o dia de sua iluminação, ele não será capaz de avaliar totalmente a profundidade e a sublimidade do ensinamento do Buda.

A primeira verdade para a qual o Buda despertou naquela noite de lua cheia do mês de maio foi a verdade do sofrimento (dukkha).

O homem mais calmo e feliz do mundo admitiria que muitas coisas desta vida são dukkha. Existem doenças mentais e físicas, existe a dor, existem o desgosto e a tris

teza que são ocasionados pela perda ou separação de alguém a quem amamos. Existe a morte:

"Nem no céu, nem no meio do oceano, ou em cavernas, existe um lugar sobre a terra onde o que é perdurável triunfará sobre a morte".

Aqueles de caráter menos feliz poderão adicionar a esta lista a frustração de não se obter aquilo que se deseja, ou se estar amarrado ao que se odeia. Quem de nós jamais experimentou o sofrimento que acompanha a raiva, ou não conheceu o medo, a solidão e o desespero?

Muito antes de a química e a física haverem descoberto a transitoriedade e instabilidade da matéria/energia, o Buda havia se dado conta da impermanência fundamental de todos esses fenômenos — inclusive de tudo aquilo que um homem poderia chamar de seu "eu"; o corpo e a mente, as sensações, percepções e sentimentos são instáveis e sujeitos a mudanças. Sendo instáveis, são também insatisfatórios e, portanto, duklcha. Dois mil e quintos anos antes de a angst existencial ter destruído o contentamento da Europa industrial, os monges budistas meditavam e eram silenciosamente destruidos pela mesma angústia quando o conhecimento de que todas as coisas estão em estado de fluxo e de que o sofrimento está fundado na estrutura real da existência brotava-lhes dentro de si.

O conhecimento de que a existência em si é o sofrimento, que o prazer não é mais do que uma "dor embelezada", e de que a morte é a única certeza, Levou muitos homens a trilharem outros caminhos. Para alguns deles, a experiência foi tão catastrófica que apenas o suicídio ou a loucura puderam libertá-los desta memória. Para outros, este vôo aos domínios do acte gratu~t ou humour noir foi menos dramático, mas igualmente trágico. Alguns voltaram-se para as drogas, bebidas, perversões ou diversões de todos os tipos. Outros transformaram-se em maníacos do poder ou em vagabundos, alguns em jogadores e outros "viram a luz e foram salvos". O Buda foi ao centro do conhecimento da verdade do sofrimento e penetrou em. sua causa. E é a isso que os budistas chamam de "a segunda nobre verdade": a verdade da. causa do sofrimento.




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