logo FALE CONOSCO
shunya meditação mestres textos zen dzogchen links

O caminho do BudaO CAMINHO DO BUDA
de H. Saddhatissa
Tradução: Irley Fernandes Franco
Zahar Editores, 1977


"O presente livro foi considerado pela crítica mundial a melhor, mais simples e mais facilmente compreensível introdução aos ensinamentos do Buda até hoje escrita para um público ocidental.

O Pandita H. Saddhatissa dispôs-se a explicar, em O Caminho do Buda, os princípios e as práticas budistas do modo mais claro e acessível.

O Dr. H. Saddhatissa nasceu no Ceilão (hoje Sri Lanka), foi ordenado em 1926 e atingiu o mais alto grau de Manathera. Cursou a Universidade de Londres, que lhe conferiu uma bolsa para pesquisas. Doutourou-se na Universidade de Edimburgo com uma tese sobre Filosofia Budista.

É versado nos idiomas hindi, pali, sânscrito e cingalês; lecionou filosofia oriental em universidade indianas, inglesas e americanas, e exerceu o cargo de professor de Budismo nas Universidades de Varanasi (Uttar Pradesh, Índia) e Toronto (Canadá).

Serve atualmente no Conselho Executivo da Pali Text Society de Londres, e é Presidente da British Mahabohdi Society e do Sangha Council of Great Britain". (Texto extraaído da "orelha" do livro).


PREFÁCIO

Muitos ocidentais têm demonstrado, recentemente, um considerável interesse pelos ensinamentos do Buda como uma filosofia de vida que responde às suas necessidades práticas, embora vivam numa sociedade altamente industrializada. Apesar desta significante solicitação de livros que preencham suas exigências, o suprimento existente não alcançou as expectativas.

Inúmeros livros sobre budismo, em geral, têm sido publicados, mas nenhum, até agora, realmente respondeu à necessidade de uma abordagem direta do Dhamma (o ensinamento do Buda) de natureza não-escolástica e por um preço acessível.

Empenhei-me, portanto, neste volume, em apresentar o ensinamento despojado de acréscimos que tendem a obscurecer o significado real daquilo que o Buda queria dizer, e reduzi a terminologia a um mínimo absoluto. Tentei demonstrar que ao budismo não se encaixa em nenhuma das definições padronizadas tais como "religião", "filosofia", "ética" e afins, mas, antes, é de algum modo uma síntese de todas elas somada a algo que lhe é peculiar. O "exercício mental", a "observação da mente" ou apenas a simples "meditação" têm recebido grande atenção nos últimos anos, e assim qualquer trabalho introdutório sobre budismo seria incompleto sem a menção desta faceta do Dhamma que é considerada, de qualquer modo, indispensável para sua verdadeira compreensão.

O presente trabalho é destinado, principalmente, ao estudante ocidental que quase não conhece o assunto, mas que deseja seriamente obter algum conhecimento a seu respeito através de um volume compacto e abrangente que não deixará, entretanto, de descrever detalhadamente as doutrinas fundamenttais e singulares do budismo.

Se este modesto trabalho for capaz de incentivar um estudo e uma prática ulteriores, então meus esforços terão sido amplamente recompesados.

Devo sinceros agradecimentos á Sra. Irene R. Quittner e ao Sr. Russell B. Webb, respectivamente presidente e secretário-geral da British Mahabodhi Society, por sua valiosa colaboração na complementação deste trabalho.

H. Saddhatissa

INTRODUÇÃO

Existem dois modos de pensar, dois pólos pelos quais alguém orienta sua vida: a política e a religião.

Por política, entendemos qualquer código de comportamento que implique uma classificação dos homens em dois ou mais grupos – esta classificação pode ser numérica, racial, econômica, cultural, e assim por diante – e portanto a superioridade de um grupo sobre outro. Um exemplo do pensamento político altruísta é o axioma "O maior bem advém do maior número". Uma abordagem possivelmente mais realista é exemplificada pela máxima "Quem paga o gaiteiro dá o tom".*

Uma das expressões mais brutais do pensamento político é a intolerância racial, sendo uma de suas manifestações mais controvertidas o exemplo das cidades-estados gregas onde a arte e a liberdade floresceram apesar de toda degradação e escravidão.

O pensamento religioso, por outro lado, deveria ser capaz de alibertar a mente dos efeitos limitadores dos dogmas geralmente associados à palavra "religião". Como escreveu Milton: "Deixe que a verdade e a falsidade lutem entre si; quem jamais ouviu falar da derrota da verdade num encontro livre e aberto?". Dois milênios antes, o Buda enfatizava a total liberdade de pensamento sem a qual nenhuma verdade ou introversão poderia ocorrer e nenhum esforço ser exercido: "Não sigais aquilo que ouvis repetidamente; nem tampouco a tradição, ou rumores: nem o que está escrito, ou sequer uma axioma ou raciocínio especioso; nem mesmo a tendência a uma noção ponderada; ou ainda a aparente habilidade de outrem; nem sigais a consideração `O monge é nosso mestre`. Quando vós mesmos souberdes: `Isso é bom; isso não é censurável, isso ó louvado pelos sábios; assegurado e observado, isso conduz ao benefício e à felicidade, entregai-vos e sede tolerante".

Para se viver no mundo, a elaboração de uma hipótese que incorpore elementos de ambos os modos de pensar se faz necessária. Diferentes idades, raças e indivíduos têm movimentado a balança em favor de um ou de outro.

Pelo fato de sentirmos que muitas pessoas estão começando atualmente a se revoltar contra o pensamento político – e contra revivificações religiosas que são políticas em seus objetivos ou métodos – compilamos este livro. Ele é uma tentativa de apresentar ao leitor ocidental o aspecto ético-filosófico do budismo, despojado das implicações políticas que adquiriu durante os séculos. Nosso objetivo não é converter o leitor ao budismo, mas apenas encorajá-lo em sua procura de uma base religiosa válida e vital sobre a qual possa construir sua vida.




Web hosting by Somee.com