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A partida T’ô inclinou a cabeça: — Mas como? Onde? Não temos a mínima idéia do lugar onde ela possa estar! — Não, não sabemos. Mas devemos procurá-la como fizemos ontem na Aldeia de Baixo. Iremos em todos os lugares, em qualquer lugar onde as pernas puderem levar-nos. E pode acreditar em mim: nos a encontraremos. Não podemos continuar a ficar aqui esperando sua volta. Não podemos permanecer sentados aqui, para sempre. T’ô percebeu que o amigo, ou melhor, o irmão, estava certo. Deviam partir, mesmo que fosse preciso escalar montanhas e atravessar rios. Se um mês não fosse suficiente, seriam dois. Se um ano não bastasse, seriam dois, três, quatro anos. Eles deviam encontrar a mãe. T’ô, bem no fundo, sabia que, uma vez reencontrada a mãe, tudo retomada à mais perfeita calma, tudo seria maravilhoso. Era devido ao fato de a mãe não estar junto deles ontem que tinham ficado tão inquietos, tão assustados. Uma vez reencontrada a Má, tudo estaria novamente bem: os bandidos parariam de atirar, as crianças não seriam mais feridas e cessaria a destruição das aldeias. Ela agora estava convencida de que a única coisa a ser feita era partir, ir procurar a mãe em toda parte. Ela perguntou: — Quando iremos partir? — Podemos sair já. Sabe, os peixinhos que sobreviveram, um rosa e outro prateado, você sabe, coloquei-os no riacho e eles partiram à procura de sua mãe peixe. Agora é a nossa vez de ir procurar nossa Má. T’ô levantou e Thach Lang também. Juntos, subiram a colina e entraram na casinhola, T’ô saiu com uma grande bolsa de pano que encheu com arroz, sal, uma caixa de fósforos, uma marmitinha, dois pares de varinhas de comer, duas tigelas, um pratinho de estanho, até a bolsa ficar cheia. Thach Lang pegou-a e a colocou nos ombros. Em seguida, T’ô pegou um barbante e amarrou a flauta atravessada nas costas. Remexeu também até encontrar um velho poncho de pano emborrachado que o pai usava nos dias de chuva na floresta. Abriram a porta e deixaram a casa. Foram primeiramente à Aldeia de Cima. Pararam à porta da escola e perguntaram se alguém tinha visto a senhora Ba Ty, sua mãe, mas ninguém a tinha visto. Foram até a Aldeia de Baixo. Soldados estavam de sentinela em vários lugares. Montes de brasas e âmbar resinoso proveniente das toras de pinheiro ainda estavam acabando de queimar. Em todos os lugares só havia desolação. Thach Lang disse a T’ô que os aldeões ainda consertavam os terríveis estragos. Perguntaram novamente se alguém havia visto a mãe. Pacientemente exploraram os arredores da aldeia, porém sempre em vão. Afinal resolveram abandonar a Aldeia de Baixo. Não tinham a mínima idéia aonde levava o caminho. Sabiam apenas que deviam ir adiante, qualquer que fosse a direção. Enquanto a estrada se estendesse frente a eles, e continuariam a andar, embora não soubessem a que distância estava a próxima aldeia. Subiram por várias colinas e atravessaram alguns bosques. Caía a noite, mas não viam casas em nenhum lugar, nem mesmo uma cabaninha ou um pequeno abrigo. Mais longe, ainda havia colinas e bosques. Ao atravessarem uma ponte, pararam um instante para descansarem as pernas. Sentaram-se de um lado e balançaram os pés para frente e para trás. T’ô pediu a Thach Lang para procurar três pedras, para ela colocar a marmita, e um feixe de galinhos secos, para o fogo pegar. Em seguida, abriu a bolsa, pegou arroz, colocou na marmita e o entregou a Thach Lang para lavá-lo no riacho. Já estava completamente escuro quando o arroz ficou pronto. Uma lua ainda mal redonda estava suspensa num céu vazio. Para T’ô não havia problema. Mas ela pensou que não devia ser fácil para Thach Lang comer no escuro. Embora só tivessem arroz cozido e sal grosso, estavam com tanta fome que comeram tudo. Novamente Thach Lang foi ao riacho e trouxe água para beber e lavar os pratos. Deitaram-se depois numa extremidade da ponte, lado a lado debaixo do grande poncho. |