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Thach Lang De repente, T’ô parou sem jeito. Sabia que alguém estava de pé diante dela e a observava. Tão absorta estava pela vida da floresta que não tinha ouvido passos se aproximarem. Agora, alguém estava aí diante dela, alguém com respiração leve e perfumada. T’ô sentiu que, quem quer que fosse, tinha presença agradável. Ela nunca havia encontrado alguém antes cuja respiração fosse tão leve e tão pura. — Quem está aí? — perguntou T’ô com sua vozinha suave. Ninguém respondeu. — Quem está aí? Qual o seu nome? De onde vem você? — perguntou ainda. A resposta veio, incerta: — Thach Lang. Meu nome é Thach Lang e estou vindo do alto da montanha. Sua voz era tão leve quanto uma nuvenzinha. Essa voz não era tão diferente assim do canto do passarinho que tinha vindo ver T’ô e falar com ela durante nove dias. Thach Lang disse apenas uma dúzia de palavras, num tom suave e hesitante, mas bastou para que T’ô pudesse imaginar a pessoa que estava diante dela. Thach Lang era um rapazinho bastante jovem, de onze ou doze anos, com traços finos, num rosto cheio e oval, um rosto parecido com manga. Os olhos eram brilhantes e claros como um céu de verão. T’ô gostou do seu novo amigo. Ela apontou o pé da árvore perto do qual estava sentada: — Thach Lang, sente-se por favor. Thach Lang sentou. T’ô ainda perguntou: — Onde é sua casa? Lá no alto da montanha? Mas o menino ficou em silêncio. Passado um instantinho, T’ô disse ainda: — Que idade você tem, irmão? Onze anos? Thach Lang respondeu: — Não sei minha idade. Eu talvez seja muito, muito velho. T’ô deu uma risada gostosa e pediu a Thach Lang para aproximar-se dela. Levantou as mãos e tocou o rosto de Thach Lang. Sim, de fato, esse rosto tinha um formato de manga e sua pele era fresca como a água do riacho no verão. Thach Lang ficou sentado sem se mexer, deixando a menina explorar seu rosto. Seus cabelos eram bastante compridos: cobriam quase toda a testa e desciam até a nuca. Quando T’ô acabou, ela começou a rir. — É exatamente como eu pensava. Você deve ter mais ou menos onze anos. Talvez doze, mas não mais. Diga-me, por favor, onde é sua casa? E o que fazem seus pais? Quanto a mim, me chamo T’ô, vivo com minha mãe. Meu pai morreu. Nossa casa é pertinho daqui. Mas Thach Lang ficou calado. "Certamente é um menino calmo", pensou T’ô. Entretanto, sentiu que ele era feito de inocência e espanto. Ele tinha dito que sua casa era no alto da montanha. Era óbvio que não queria dizer mais nada. Era o bastante. "Não vou aborrecê-lo mais", pensou T’ô. E ficou calmamente ao lado do novo amigo. De repente, Thach Lang falou: — Por favor, Chi1, toque flauta. T’ô; riu novamente: — Não me chame de Chi, por favor. Só tenho nove anos e poderia ser sua irmã caçula. Repita corretamente agora e eu tocarei para você. Diga, por favor: "Irmãzinha, toque flauta para mim, seu irmão mais velho Thach Lang." Thach Lang repetiu exatamente essas palavras. T’ô riu com seu riso claro e cristalino. Em seguida, ergueu a flauta doce até os lábios e começou a tocar. Nota 1: Chi - irmã mais velha. |