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A volta para casa Tão logo acordou, de manhã cedo, T’ô soube que havia uma grande aglomeração na praça do mercado. Thach Lang já tinha acordado e estava calmamente sentado, tomando conta de T’ô. Contou que havia muitos homens armados, discutindo com aldeões, interrogando-os. T’ô entendeu que pessoas do governo tinham vindo do quartel-geral. Ela desceu da carroça. — Vamos, mano Thach Lang. Vamos pedir para eles encontrarem nossa mãe. Thach Lang também desceu e, enquanto se aproximavam do soldado, T’ô perguntou: — Por favor, senhor, ajude-nos a encontrar nossa mãe. Thach Lang falou mais alto: — Senhor, minha irmãzinha não pode enxergar. É cega. Descemos ontem da Aldeia de Cima com nossa mãe. Ela estava no mercado quando começou a batalha. Não sabemos agora onde ela está. Thach Lang falou com tanto desembaraço e com tal cortesia que T’ô ficou impressionada. Mas, ao invés de responder, o homem dirigiu-se a outro e falou com ele em voz baixa. Este último tinha uma voz autoritária. Perguntou o nome da mãe. —Senhor — respondeu T’ô — minha mãe é a senhora Ba Ty. É lenhadora. Nossa casa fica perto da floresta Dai Lão, na Aldeia de Cima. O comandante (T’ô entendeu que era o chefe do grupo) voltou-se para os aldeões e perguntou se alguém sabia alguma coisa a respeito dessa mulher. Disseram que ela não estava nem entre os mortos nem entre os feridos. Alguém sugeriu que ela podia ter sido levada pelos atacantes. O homem voltou-se para as crianças, disse para elas voltarem para casa e esperarem. — Vocês devem voltar para casa e não se preocupar. Tão logo tivermos notícias de sua mãe, mandaremos informações. As duas crianças, obedientes, voltaram para perto do flamboyant. Empurrando e puxando a carroça, voltaram para a Aldeia de Cima. A volta foi fácil sem a carga de lenha. Porém não falaram nem riram alegremente como tinham feito na ida. Thach Lang já conhecia o caminho. Puxou a carroça sem nunca perguntar o caminho. Chegaram em casa quando o sol já estava alto. Thach Lang carregou para dentro as coisas que a mãe de T’ô havia comprado no dia anterior. T’ô seguia Tach Lang. Sem a mãe, a casa parecia tão vazia e tão fria! T’ô perguntou a Thach Lang se estava com fome, mas nem um nem outro estava com vontade de comer. Saíram e sentaram-se na soleira da porta e ficaram espreitando em silêncio. Em seguida, Thach Lang propôs que T’ô pegasse a flauta e fosse com ele até o riacho. Embora ela estivesse tão ansiosa e não estivesse com vontade de tocar, T’ô atendeu. Ele falou: — Os peixinhos devem estar mortos agora. Thach Lang foi procurar uma bacia, encheu-a de água e colocou dentro o pacote, todo embrulhado com folha de bananeira. Após um momento disse: — Quase todos estão mortos. Apenas dois sobreviveram. Dois bem pequeninos: um cor-de-rosa e outro prateado. Vamos colocá-los no riacho. Thach Lang carregou a bacia e T’ô, a flauta. Desceram a colina com dificuldade. Quando atingiram o regato, ajoelharam-se e, com ambas as mãos, libertaram os dois peixinhos. Thach Lang se debruçou sobre a água e deixou-os irem. — Pois é, T’ô, nós os colocamos no riacho. |