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Os amigos se conhecem T’ô falava devagar, claramente, parando de vez em quando para explicar algumas palavras que pensava serem um pouco difíceis para ele. Parecia que Thach Lang sabia poucas coisas da vida e da linguagem daqui, de baixo da montanha. Por exemplo, ela explicou que uma praça de feira é um lugar vasto e plano onde as pessoas se juntavam para comprar e vender coisas, tais como: verduras, arroz, peixe e lenha. De vez em quando, ele interrompia T’ô para perguntar detalhes suplementares a propósito de uma coisa ou outra. Isto dava a T’ô a impressão de ser sua professora. Ela repartia com ele seus conhecimentos sobre vários assuntos. O sol estava alto, quase acima da cabeça. Finalmente T’ô disse a Thach Lang que falaria ainda com ele, mais tarde. Mas, por ora, ela devia voltar para casa e preparar a refeição para a mãe. Convidou-o a vir com ela. Pôs a mão para frente e pegou a dele. Ambos deixaram a floresta a fim de ir para a casinha no flanco da encosta. Embora não pudesse ver as coisas no quintal, T’ô mostrou ao amigo as árvores, os arbustos, as ferramentas, o jardim e a casa. Disse o nome de cada coisa. Bastava falar uma única vez e ele se lembrava. Ela perguntou se ele estava com fome, mas Thach Lang reagiu como se não tivesse nenhuma idéia do significado de "fome" ou "comer". Este fato divertiu tanto a T’ô que ela soltou uma boa gargalhada. Ela o levou à pequena alcova que servia de cozinha. Pegou uma vasilha, lavou e colocou o arroz para cozinhar. Foi então procurar verduras. Sabia que Thach Lang estava observando e, assim, tomou mais cuidado. Mas ele chegou perto dela e ajudou-a a catar e descascar as verduras e em breve o arroz estava pronto. Saíram e sentaram na soleira da porta da casa esperando a volta da mãe de T’ô. Thach Lang pediu a T’ô que explicasse melhor como o pai tinha sido mandado para o exército e como ela tinha ficado cega com desfolhantes. A conversa cessou um pouco quando a mãe de T’ô chegou. T’ô apresentou o novo amigo e ela o fez tão bem que ele não teve de acrescentar nada. A mãe de T’ô, entretanto, fez-lhe algumas perguntas sobre a casa e os pais. Mas ele parecia tão hesitante em suas respostas que ela pensou que, tais como milhões de outras crianças, ele se tinha encontrado em circunstâncias trágicas devido a essa interminável e mortífera guerra. Parou, pois, de fazer perguntas. Saiu no quintal para lavar as mãos e, quando voltou, disse às crianças que se sentassem e comessem a sopa. T’ô percebia que Thach Lang estava comendo muito pouco e até mesmo que a observava para saber como comer. T’ô pediu então à mãe para Thach Lang ficar com ela. A mãe estava maravilhada por sua filha ter encontrado um novo e encantador amigo. Tão logo terminaram a refeição, disse às crianças que podiam descer até o riacho e aproveitarem a brisa do entardecer. Ao se sentarem numa pedra na margem do riacho, T’ô pediu para Thach Lang descrever cada coisa que visse em volta. Thach Lang primeiro ficou hesitante, mas, em breve, falou da cor do céu e das nuvens e, ao longe, do verde escuro da floresta. O rostinho de T’ à brilhava de prazer, pois parecia enxergar tudo. Era como se pudesse ver com os olhos dele. De vez em quando, Thach Lang hesitava, pois faltavam-lhe palavras. Mas T’ô vinha logo em seu socorro com as palavras que ele estava procurando, exatamente aquelas que ele precisava. As duas crianças continuaram a conversa até que Thach Lang acabou de descrever, tão exatamente quanto possível, o que via. A voz de Thach Lang soava maravilhosa aos ouvidos de T’ô. Era algumas vezes clara e alegre como o canto dos passarinhos e outras vezes era profunda e grave como o som da terra. Ou, então, levantava-se muito alto como o vento, ou, ainda, fugia leve como a pálida neblina. |