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com o comentáriodo Venerável Rendawa, Zhön-nu Lo-drö.
Traduzido do original tibetano para inglês
pelo Geshe Lobsang Tharchin e Artemus B. Engle,
traduzido para o português por Manoel Vidal.

Alguém destinado a manter os Caminhos,
Após o Nirvana do Sugata,
Aparecerá depois de transcorrido algum tempo.
Sabei que ele será dotado de grande sabedoria.

Na região sulina, na Terra das Palmeiras,
Há de surgir o monge Shriman, de grande renome.
Ele será cognominado O Naga, e destruirá
Os extremos da existência e da não-existência.

Após pregar ao mundo meu veículo
Sob a forma do insuperável Mahayana
E alcançar o estágio da Grande Felicidade,
Ele partirá para o paraíso Sukhavati.
(Lankavatara Sutra)


Nagarjuna, como é amplamente sabido, fundou a tradição Madhyamika (Caminho do Meio) do buddhismo. Seu aparecimento foi profetizado em numerosos textos, entre os quais o Lankavatara Sutra, o Manjushri Mulakalpa Sutra, o Mahamegha Sutra e o Mahabheri Sutra.

Quatrocentos anos após o nirvana do Buddha Shakyamuni, vivia no sul da Índia, em uma região chamada Vidarbha (Terra das Palmeiras), um próspero brâmane que não tinha filhos. Em um sonho, apareceu-lhe um sinal indicativo que teria um filho desde que rendesse homenagens a cem brâmanes. Ele assim o fez, rogando ardorosamente para que seu desejo, guardado no fundo do coração, viesse a se realizar. Dez meses mais tarde, nascia o menino.

Um adivinho, a quem o recém-nascido fora levado, dissera que a criança, embora de fato portasse sinais de ser uma pessoa excepcional, viveria apenas sete dias. Os pais, ansiosos, perguntaram se havia alguma coisa a fazer para impedir esse destino. O adivinho respondeu que, se eles desse de comer a cem pessoas, o menino viveria sete dias, e que, se fizessem oferendas a cem monges, viveria sete anos, e nada além disso poderia ser feito. Os pais completaram a segunda das oferendas sugeridas. Ao se aproximar o final dos sete anos, o menino foi enviado em viagem na companhia de vários criados, pois os pais não se sentiam capazes de suportar a cena do cadáver do filho.

Durante a viagem, o menino teve uma visão da divindade Khasarpana (uma das manifestações de Avalokiteshvara). Logo depois, o grupo alcançou o grande monastério de Nalanda. Próximo à morada de um brâmane chamado Saraha, o menino recitou vários versos. O brâmane, ao ouvir as estrofes, convidou o grupo a entrar e perguntou sobre a viagem e como haviam chegado até Nalanda. Um dos criados narrou a história do menino e falou de sua morte iminente. Ao que Saraha respondeu que, se o menino abandonasse a vida mundana e fizesse voto de renúncia, poderia evitar a catástrofe. O menino seguiu o conselho e foi iniciado primeiramente na Mandala de Amitabha que Conquista Yama. Em seguida, foi instruído a recitar dharanis (mantras longos). Na véspera de seu sétimo aniversário, recitou mantras especiais durante a noite toda e, assim, superou o encontro com Yama, o Senhor da Morte.

Ao completar oito anos, o menino tomou o voto de renúncia e iniciou seus estudos sobre as ciências tradicionais. Estudou, igualmente, os textos das escrituras de cada uma das principais escolas de pensamento buddhista. Algum tempo depois, voltou a encontrar-se com os pais. Mais tarde pediu ao mesmo brâmane Saraha que o instruísse nos ensinamentos esotéricos de Shri Guhyasamaja e recebeu os ensinamentos dos tantras adequados junto com todas as respectivas instruções orais. A seguir, depois de apresentar uma solicitação formal ao abade do mosteiro, recebeu a ordenação plena de monge e passou a ser conhecido como o monge Shrimata.

Por ser uma dessas pessoas por quem Manjushri vela em todas as suas vidas, o monge teve oportunidade de escutar, na íntegra, o Dharma dos sutras e dos tantras diretamente do mestre Bodhisattva Ratnamuni, manifestação de Manjushri em seu aspecto de jovem divino. Assim, o monge Shrimata tornou-se um mestre consumado do Dharma.

Tempos mais tarde, uma grande escassez de alimentos abateu-se sobre Nalanda, deixando a comunidade monástica sem meios de subsistência. O abade Sthavira Rahulabhadra nomeou o monge Shrimata despenseiro da comunidade monástica. Embora a carestia perdurasse por doze anos, reduzindo muito a população da região de Magadha, o monge conseguiu sustentar a comunidade monástica valendo-se de seus conhecimentos de ciência alquímica. Ele adquirira tais conhecimentos de um brâmane versado em alquimia da seguinte forma: o monge preparou, inicialmente, duas folhas de sândalo como encantamento para produzir o poder da ligeireza, conhecido como Pés de Vento. Levando uma folha na mão e a outra escondida na sola do sapato, dirigiu-se à ilha distante onde habitava o brâmane e solicitou-lhe instruções sobre o "elixir que transforma metais comuns em ouro".

O brâmane pensou consigo que o forasteiro devia portar algum encantamento especial que lhe permitira chegar à ilha. Ávido por obtê-lo, disse ao monge: "Conhecimento deve se trocado por conhecimento, ou então ser remunerado em ouro". "Pois bem", respondeu o monge Shrimata, "vamos trocar conhecimentos", e entregou ao brâmane o encanto que trouxera na mão. Acreditando que o visitante não mais poderia deixar a ilha, o brâmane deu-lhe as instruções. Usando, então, a folha que guardara na sola do sapato, o monge retornou a Magadha. Assim, valendo-se do elixir alquímico, conseguiu suprir amplamente todas as necessidades essenciais da comunidade monástica de Nalanda transmutando grandes quantidades de ferro em ouro.

Algum tempo depois, o monge Shrimata passou a ocupar o cargo de abade de Nalanda. Prestou grande tributo aos membros da comunidade monástica que observavam adequadamente os três treinamentos (disciplina, sabedoria e meditação) e expulsou todos os monges e noviços que eram moralmente corruptos. Conta-se que baniu um total de oito mil monges.

Foi durante esse período, também, que um monge chamado Shamkara compôs um texto intitulado "O Ornamento do Conhecimento". Escrito em doze mil versos, representava uma tentativa de desacreditar a doutrina Mahayana. Fazendo uso da lógica, o monge Shrimata foi capaz de refutar a argumentação por completo. Também refutou muitos outros escritos que negavam a validade do Mahayana. Certa vez, em um local chamado Jatasamghata, suplantou quinhentos intelectuais não-buddhistas em um debate, convertendo-os à religião buddhista ao debelar suas visões errôneas.

Em uma ocasião, quando o mestre Shrimata estava ensinando a muitos seguidores o Dharma do Tripitaka (o cânone buddhista), dois jovens, que na verdade eram emanações de nagas (seres com cabeça humana e corpo de serpente), vieram ter com ele à procura do Dharma. Com a presença desses jovens, todo o ambiente impregnava-se de perfume de sândalo. Quando partiam, o perfume desaparecia e quando retornavam, voltava a aparecer. O mestre Shrimata perguntou-lhes a razão disso e os jovens responderam que eram filhos de Takshasa, rei dos nagas. Eles haviam-se ungido com a "argila dos nagas" (essência de sândalo) como imunização contra as impurezas humanas.

O mestre pediu então que lhe dessem um pouco de argila dos nagas para uma imagem de Tara, e que o assistissem na construção de templos. Os dois responderam que teriam de consultar o pai, partindo em seguida. Regressaram dois dias depois para dizer ao mestre Shrimata que só fariam o que ele propusera se fosse pessoalmente até a Terra dos Nagas. Ciente dos benefícios que a sua ida resultaria para todos os seres, o mestre Shrimata viajou à Terra dos Nagas, onde o rei Takshasa e outros nagas de mente nobre o presentearam com inúmeras oferendas. O mestre Shrimata pregou o Dharma aos nagas em resposta a suas solicitações, causando-lhes tanta satisfação que lhes rogaram que permanecesse entre eles para sempre. Sua resposta foi: "Como vim aqui com o propósito de obter o Prajna-paramita Sutra (Discurso sobre a Perfeição da Sabedoria) em Cem Mil Versos, bem como a argila dos nagas necessária à construção de templos e stupas (relicários), não posso permanecer agora. Talvez possa retornar no futuro."

Depois de ter adquirido a versão expandida da Mãe dos Vitoriosos (Prajna-paramita, a Perfeição da Sabedoria), vários textos curtos sobre Prajna-paramita e grandes quantidades de argila dos nagas, o mestre Shrimata preparou-se para retornar ao nosso mundo, Jambudvipa. Conta-se que, para assegurar o regresso do mestre Shrimata à sua terra, os nagas retiveram uma pequena parte final dos Cem Mil Versos. A parte faltante — os dois últimos capítulos do Discurso Não-condensado sobre a Perfeição da Sabedoria — foi, então, substituída pelos capítulos correspondentes do Discurso sobre a Perfeição da Sabedoria em Oito Mil Versos. Esta é a razão de os dois capítulos finais de ambos de ambos dos textos serem idênticos.

Depois de obter tais textos, o mestre Shrimata ampliou muito a influência da tradição Mahayana. Quando pregava o Dharma no parque do monastério, os nagas executavam atos de reverência — serpentes, por exemplo, formavam um guarda-sol para protegê-lo dos raios solares. Tornando-se o Senhor dos Nagas, o mestre Shrimata foi cognominado "O Naga". Devido à sua habilidade em difundir o Dharma do Mahayana, que se assemelhava à velocidade de arremesso e à maestria do famoso arqueiro Arjuna, ele também passou a ser conhecido como "O Arjuna". Outra versão, ainda, diz que era chamado "Nagarjuna" pois, ao executar as sadhanas (práticas meditativas) da divindade Kurukulla (Tara Vermelha), adquiriu autoridade sobre nagas como o rei Takshara e outros.

Nagarjuna viajou mais tarde à região de Pundravardhana onde, por meio da prática da alquimia, executou muitos atos de grande generosidade. Em especial, conferiu grande quantidade de ouro a um casal idoso de brâmanes, infundindo-lhes grande fé. O velho brâmane passou a servir Nagarjuna e a ouvir o Dharma junto a ele; após sua morte, o brâmane renasceu como o mestre Bodhinaga.

Nagarjuna também construiu muitos templos. Certa vez, quando se preparava para transformar em outro um grande rochedo em forma de sino, uma emanação de Tara, sob a forma de uma mulher idosa, apareceu e disse, "Em vez de fazer isso, você deveria ir à Montanha do Esplendor e praticar o Dharma". Tempos depois, ele de fato foi até esse local praticar as sadhanas de Tara.

Em outra ocasião, quando havia executado as sadhanas que invocavam a divindade Chandika, a própria divindade alçou Nagarjuna ao céu, tentando transportá-lo aos reinos celestiais. "Não me exercitei com o objetivo de viajar até os reinos celestiais", disse ele, "eu vos invoquei a fim de obter ajuda para a comunidade monástica Mahayana, enquanto perdurar o ensinamento do Buddha."Eles retornam, e a divindade estabeleceu-se a oeste de Nalanda, manifestando-se sob a forma de uma nobre da casta real. Nagarjuna instruiu-a, dizendo, "Uma grande estaca de madeira de khandira, tão pesada que um homem mal consegue levantá-la, foi introduzida na parece de um templo de pedra dedicado a Manjushri. Até que essa estaca se transforme em cinza, vós deveis prover a subsistência da comunidade monástica do templo". 

Por doze anos, a nobre senhora fez oferendas de produtos de todo gênero à comunidade monástica. Durante esse período, o encarregado de despensa do monastério, um noviço de má índole, dirigia-lhe, continuamente, propostas indecorosas. A senhora não lhe dava resposta, até que um dia disse, "Se a estaca de khandira vier a se tornar cinza, nós poderemos nos unir". O noviço então ateou fogo à estaca e, quando ela se reduziu a cinzas, a divindade desapareceu.

Em outra ocasião, uma manada de elefantes estava ameaçando estragar a árvore bodhi em Vajrasana (Bodhgaya), sob a qual o Buddha atingiu a iluminação. Nagarjuna ergueu então duas colunas de pedra atrás da árvore sagrada, que lhe serviam de proteção por muitos anos. Quando os elefantes reapareceram, Nagarjuna construiu duas imagens de Mahakala, montadas em um leão e brandindo uma clave. Isso também surtiu efeito, embora o perigo, mais tarde, voltasse a surgir. Uma cerca de pedra foi então levantada em torno da árvore e, do lado de fora do cercado, Nagarjuna construiu 108 stupas. Estes eram enormes, cada um encimado por um stupa menor que continha relíquias dos ossos do Buddha.

Nagarjuna, ademais, construiu muitos templos e stupas nas seis principais cidades de Magadha — Shravasta, Shaketa, Champaka, Varanasi, Rajagriha e Vaishali — e proporcionou subsistência a muitos pregadores do Dharma.

Acima de tudo, Nagarjuna sabia que praticamente ninguém sabia o verdadeiro significado da coletânea do Discurso sobre a Perfeição da Sabedoria. Sabia também que, sem compreendê-lo perfeitamente, não haveria como alcançar a liberação. Proclamou, então, o Caminho do Meio, o qual afirma que o shunyata (o significado essencial da originação dependente, segundo o qual todas as coisas são inteiramente vazias de uma natureza que tenha existência própria) é totalmente coerente com os princípios que expressam uma relação infalível entre karma bom ou ruim e suas conseqüências. Em seu trabalho sobre lógica, uma coletânea em cinco partes, Nagarjuna explicitou com clareza o sentido último da sabedoria do Buddha. Esta coletânea compreende o tratado principal, o Mulamadhyamika Karika (Versos Raiz sobre o Caminho do Meio) e seus quatro braços, o Yukti Shashtika, o Shunyata Saptati, o Vaidalya Sutra e o Vigraha Vyavarttani.

Depois desse período, Nagarjuna ficou por seis meses no monte Ushira, localizado ao norte. Fazia-se acompanhar de mil discípulos, que sustentava com um tablete diário de um rasayana mercurial que havia preparado. Um dia, um dos dois discípulos, Siddha Singkhi, levou respeitosamente o tablete à fronte, mas não o ingeriu. Nagarjuna perguntou a razão disso e o discípulo respondeu: "Não tenho necessidade do tablete. Se lhe aprouver, mestre, faça preparar uma porção de vasilhas cheias de água". Assim, mil grandes recipientes foram preenchidos com água e colocados ali, na floresta. Siddha Singkhi acrescentou, então, uma gota de urina a cada uma das vasilhas, o que transformou todo o líquido em "elixir de outro". Nagarjuna recolheu todas as vasilhas e as escondeu em uma caverna remota e inacessível, recitando uma prece para que elas pudessem beneficiar os seres dos tempos futuros.

Siddha Singkhi nem sempre se mostrara tão hábil. Quando encontrou Nagarjuna pela primeira vez, era tão obtuso que não conseguia aprender sequer um único verso em um período de vários dias. Nagarjuna, então, disse-lhe, em tom jocoso, para meditar que um chifre crescia sobre sua cabeça. O discípulo assim o fez, mantendo seu objeto de meditação tão firmemente que adquiriu sinais visíveis e tangíveis de ter desenvolvido chifres. Dessa forma, foi-lhe impossível sair da caverna em que estivera meditando, pois os chifres prendiam-se nas paredes. Siddha Singkhi então recebeu instruções para meditar que os chifres não mais existiam, com o que eles desapareceram.

Percebendo que as características mentais de seu discípulo haviam se tornado agudamente desenvolvidas, Nagarjuna ensinou-lhe vários significados profundos dos mantras secretos. A seguir, Nagarjuna instruiu-o uma vez mais em meditação, e o discípulo por fim alcançou a realização do Mahamudra (Grande sinal).

O mestre viajou depois ao continente setentrional de Kurava. No caminho, em uma cidade chamada Salamana, encontrou várias crianças que brincavam na estrada. Nagarjuna profetizou que um dos meninos, de nome Jetaka, se tornaria rei. Na viagem de retorno, depois de concluir seu trabalho em Kurava, Nagarjuna voltou a se encontrar com o jovem, que já se tornara rei. Por três anos, Nagarjuna permaneceu com Kurava, que ofereceu ao mestre muitas jóias. Em reconhecimento, ele compôs para o rei uma "jóia" do Dharma, isto é o Ratnavali.

Foi então que viajou para o sul, tal como lhe aconselhara a emanação de Tara, para praticar meditação na Montanha do Esplendor. Aí, Nagarjuna também girou a Roda do Dharma extensamente, tanto com relação aos sutras quanto aos tantras. Foi nesta ocasião que compôs o Dharmadhatu Stava.

De modo geral, os escritos de Nagarjuna são divididos em três coleções:

  1. Coleção dos Discursos: incluindo obras como Ratnavali, Suhrllekha, Prajna Shataka, Prajna Danda e Janaposhana Bindu;

  2. Coleção dos Tributos: Dharmadhatu Stava, Lokatita Stava, Achintya Stava e Paramartha Stava;

  3. Coleção dos Escritos sobre Lógica: o já citado Mulamadhyamika Karika e assim por diante.

Além desses, Nagarjuna escreveu outros tratados importantes, explicando os significados não só dos sutras, como dos tantras, realizando atividades como se, de fato, o Buddha houvesse voltado.

Diz-se que Nagarjuna fez três "grandes proclamações do Dharma". A primeira foi sua preservação do vinaya (disciplina monástica) em Nalanda, como explicado acima. Isso foi como o primeiro giro da Roda do Dharma pelo Bhagavan (Buddha). A segunda foi sua clara exposição do puro Caminho do Meio (Madhyamika), através da composição da coleção dos tratados sobre lógica e outros. Isso significou o segundo giro da Roda do Dharma empreendido pelo Bhagavan. A terceira grande proclamação consistiu das atividades do mestre na Montanha do Esplendor, no sul, onde compôs obras como o Dharmadhatu Stava, o que foi similar ao último giro da Roda do Dharma pelo Bhagavan.

Obras tão vastas em prol do Dharma e dos seres sencientes despertaram grande desprazer em Mara e nas forças do mal. Ocorreu, então, que a esposa do rei Udayibhadra teve um menino chamado Kumara Shaktiman. Anos mais tarde, a mãe deu de presente ao filho uma vestimenta fina e rara. A criança disse-lhe, "Guarde esta roupa. Vou usá-la quando chegar o tempo do meu reinado". "Você nunca governar", retrucou a mãe, "pois o mestre Nagarjuna fez com que seu pai e ele tivessem uma mesma vida. Ele não morrerá, a menos que o mestre morra". O menino foi tomado de grande tristeza e sua mãe prosseguiu: "Não chore! O mestre é um bodhisattva e, se você lhe pedir a cabeça, não recusará. Morrendo o mestre, seu pai também morrerá, e o reino será seu".

A criança seguiu então a sugestão da mãe, e Nagarjuna, de fato, concordou em dar-lhe a própria cabeça. Porém, por mais esforço que o menino fizesse, sua espada não era capaz de cortar o pescoço de Nagarjuna. O mestre disse ao menino, "Tempos atrás, enquanto cortava grama, ocorreu que matei um inseto. A força desse mau ato ainda permanece comigo. Assim, você poderá decepar minha cabeça servindo-se de uma lâmina de erva kusha". O menino assim fez, e conseguiu, finalmente, cortar a cabeça de Nagarjuna. O sangue que jorrou do sofrimento transformou-se em leite, e as seguintes palavras brotavam da cabeça decepada: "Daqui parto para o paraíso Sukhavati. No futuro, voltarei a entrar neste corpo".

O príncipe malvado lançou a cabeça a uma distância de várias léguas, temendo que voltasse a se unir ao corpo. Entretanto, como o mestre havia dominado a prática de rasayana, sua cabeça e seu corpo ficaram rígidos como pedra. Diz-se que, a cada ano, ambos estão se aproximando mais e mais, e que afinal, um dia se juntarão. Nagarjuna executará então, novamente, grandes obras em benefício do Dharma e de todos os seres.

O mestre Nagarjuna viveu, ao todo, seiscentos anos, assim está escrito no Manjushri Mulakalpa Sutra:

Depois que eu, o Tathagata, houver passado,
E quatrocentos anos houverem transcorrido,
Um monge, "O Naga", aparecerá,
Para grande fé e benefício do Dharma.
Ele alcançará o estágio da Grande Felicidade 
E por seiscentos anos permanecerá vivo.


  1. Extraído de www.dharmanet.com.br



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