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Por Georg Feuerstein

Nagarjuna viveu entre o primeiro e segundo século. Ele nasceu em uma família brâmane de Vidarbha (Beda) no Sul da Índia. Em seu nascimento, astrólogos predisseram que ele morreria com uma idade muito tenra mas que sua curta vida podia ser estendido para um máximo de sete anos se fossem realizados oferecimentos para ordens monásticas.

Os pais devotos de Nagarjuna desta forma tiveram sucesso em prolongar a vida do menino até os sete anos. Mas neste ponto, eles foram informados que nenhuma quantidade de cerimônias adicionais podia previnir sua morte. Impossibilitados de agüentarem a dor de assistir morte prematura de seu filho amado, eles o enviaram a uma viagem com um servidor de confiança.

Em suas viagens pelo Sul da Índia, o menino teve uma visão transcendental do Bodhisattva Avalokiteshvara, que o guiou para os portões da famosa universidade monástica de Nalanda. Lá, um renomado perito Saraha (também conhecida como Rahulabhadra) foi informado de sua história e recomendou que ele recitasse o mantra do Buda Amitayus ("Longa Vida") para estender seu período de vida.

Em seu oitavo aniversário, Saraha iniciou o menino na prática (sadhana) de Amitayus, e deste modo ele pode lutar contra o destino predito pelos astrólogos. Nagarjuna ou Siddhipada, como o menino era conhecido então, estudou e praticou vigorosamente e logo, sob a proteção de Buda Manjushri, dominou os ensinamentos de todas as linhagens budistas. Mais tarde ele foi designado como o abade de Nalanda.

De acordo com uma lenda, Siddhipada adquiriu o nome Nagarjuna como segue. Um dia, um yogin que foi irritado por monges de Vikramashila, outra universidade budista famosa da Índia antiga, fez o complexo do monastério queimar por meios mágicos. A fumaça provocada pelo fogo fez Mucilinda, a soberana das serpentes negras, cair seriamente doente.

Foi chamado o curandeiro mais preparado da terra para intervir, e Siddhipâda foi escolhido. Ele não era só um consumado lógico, químico, alquimista, administrador mas também um médico soberbo. Suas habilidades curativas rapidamente e eficazmente restabeleceu saúde de Mucilinda. Em gratidão, o monarca das serpentes presenteou o Abade Siddhipâda com uma cópia do Sutra Prajna-Paramita, ou pelo menos a maior parte desta escritura sagrada. Este trabalho tinha sido confiado para a regente das serpente há muito tempo por Ananda, o primo e discípulo mais íntimo da Buda.

Ansioso para estudar o Sutra por completo, Siddhipada, um mestre realizado (siddha) transportou-se ele mesmo para o reino da serpente e conseguiu o restante do Sutra Prajna-Paramita. Por causa deste ato mágico, ele veio a ser conhecido como Nagarjuna, significando o Arjuna no meio dos Nagas, ou serpentes. Arjuna foi o nome do grande herói da dinastia de Pandava, que, para apoiar do mestre realizado Krishna, lutou contra as forças de escuridão uns 1.000 anos antes de Buda. Arjuna ("Branca"), um guerreiro destemido, ajudou a restabelecer a ordem moral (darma) naquele tempo, e Nagarjuna, recuperando o precioso Sutra Prajna-Paramita dos Nagas realizou um feito semelhante. Na mitologia, os Nagas são os quardiões de tesouros, inclusive tesouros espirituais.

Nagarjuna, um brilhante filósofo, formulou o Caminho do Meio do vazio (shunyata) de todos os fenômenos: eles nem existem (i.e., eternalismo) nem não exista (i.e., niilismo). Sua visão é resumida na fórmula clássica: samsara iqual a nirvana. Seus pensamentos incisivos, que vieram a ser conhecidos como a escola de Madhyamika (às vezes chamado "Centrismo"), desde então até o décimo quarto século foram seguidos pela numerosa Ordem Gelugpa do budismo Tibetano.

Nagarjuna criou muitos trabalhos baseados nos ensinamentos do Sutra Prajna-Pâramita, e 180 ou mais trabalhos foram atribuídos a ele, seis alcançaram fama particular: o Shunyata-Saptati ("Setenta-sete [Versos] sobre o Vazio"), o Prajna-Mula ("Fundação da Sabedoria"), o Yukti-Shashtika ("Sessenta [Versos] sobre o Razoamento"), a Vigraha-Vyavartani ("Rejeição da Disputa"), a Vaidalya-Sutra, e a Vyavahara-Siddhi ("Perfeição da Ação"). Estes são considerados textos fundamentais da escola Madhyamika do budismo Mahâyâna, que Nagarjuna é considerado como fundador. Outros textos famosos de sua caneta são a Mula-Madhyamika-Karika ("Versos sobre os Fundamentos do Madhyamika"), o Mahaprajna-Paramita-Shastra ("Livro de ensinamentos sobre a Grande Perfeição da Sabedoria"), e o Dasha-Bhumi-Vibhasha-Shastra ("Livro de ensinamentos sobre as Opções dos Dez Níveis [de uma Bodhisattva]"). Além de, duas de suas cartas de instruções escritas para discípulos—a Ratna-Avalî ("Fio das Jóias") e o Suhril-Lekha ("Carta para um Coração Generoso [Amigo]")—ganharam grande popularidade por sua grande sabedoria.

Outra lenda famosa descreve morte de Nagarjuna. No final de seus dias na terra, ele foi patrocinado pelo Monarca Ativahana a quem ele proveu regularmente com um elixir da vida longa. Impaciente para governar o país, um dos filhos do monarca conspirou para assassinar Nagarjuna. Um dia, o Príncipe Shaktiman se moveu furtivamente em direção aos sábio ancião que esta submerso em profunda meditação e preparou sua espada para decapitá-lo. A arma afiada, porém, não deixou nem uma marca no pescoço de Nagarjuna. Mas o sábio retornando a consciência ordinária e, completamente ciente do que havia acontecido, disse ao príncipe: "Não fique preocupado que sua trama tenha falhado. Há muitos, eu acidentalmente cortei um inseto pela metade com uma lâmina afiada de cortar grama. A situação atual é um resultado direto daquele ato. Embora nenhuma arma pode me causar dano, me deixe dizer que você pode facilmente dividir minha cabeça com uma lâmina de cortar grama. E deste modo, a lei do karma será cumprida." O príncipe não perdeu tempo para terminar com a vida de Nagarjuna.

Assim que Shaktiman cometeu a ação sangrenta, ele ouviu uma voz vinda do corpo acéfalo: "Eu agora partirei para o Céu de Sukhavati, mas logo tornarei a possuir este corpo." O príncipe fugiu com medo. Um espírito feminino levantou cabeça de Nagarjuna e a transportou várias milhas para longe. Por muitos anos, ambas as cabeça e corpo ficaram lá na montanha desértica sem exibição de quaisquer sinais de decadência. Milagrosamente, a cabeça moveu-se gradualmente para mais próximo do tronco e finalmente reconectou-se com ele. Naquele momento, Nagarjuna retornou a vida, e viveu outros 600 anos trabalhando para o bem da humanidade. Hoje, como um bodhisattva liberado nos reinos sutis, ele não está fazendo nada diferente.




The Life of Nâgârjuna

by Georg Feuerstein

Nâgârjuna lived in the first to second century C.E. He was born into a brahmin family of Vidarbha (Beda) in South India. At his birth, astrologers foretold that he would die at a very tender age but that his life span could be extended for a maximum of seven years by making consecrated offerings to monastics.

Nâgârjuna’s devout parents thus succeeded in lengthening the boy’s life span to the age of seven. But at that point, they were told that no amount of rituals could further prevent his death. Unable to bear the pain of watching their beloved son’s premature death, they sent him forth traveling with a trusted servant.

On his travels in South India, the boy had a vision of the transcendental Bodhisattva Avalokiteshvara, who guided him to the gates of the famous monastic university of Nâlandâ. There, the renowned adept Saraha (also known as Râhulabhadra) learned of his story and recommended reciting the mantra of Buddha Amitâyus ("Long Life") to extend his life span.

On his eighth birthday, Saraha initiated the boy into the practice (sâdhana) of Amitâyus, and thus he was the spared the fate predicted by the astrologers. Nâgârjuna or Siddhipâda, as the boy was known then, studied and practice vigorously and soon, under the protectorship of Buddha Manjushri, excelled in all branches of Buddhist learning. Later he was appointed as the abbot of Nâlandâ.

According to one legend, Siddhipâda acquired the name Nâgârjuna as follows. One day, a yogin who had been angered by monks of Vikramashîla, another famous Buddhist university of ancient India, set the monastery complex on fire by magical means. The smoke from the fire caused Mucilinda, the ruler of the serpent race, to fall seriously ill.

The call went out for the land’s most knowledgeable healer to intervene, and Siddhipâda stepped forward. He was not only a consummate logician, chemist, alchemist, administrator but also a superb physician. His healing skills swiftly and efficiently restored Mucilinda’s health. In gratitude, the serpent king gifted Abbot Siddhipâda with a copy of the Prajnâ-Pâramitâ-Sûtra, or at least most of this sacred scripture. This work had been entrusted to the serpent ruler long ago by Ânanda, the Buddha’s cousin and closest disciple.

Eager to study the Sûtra in full, Siddhipâda, an accomplished master (siddha) transported himself to the serpent realm and acquired the rest of the Prajnâ-Pâramitâ-Sûtra. Because of this magical act, he came to be known as Nâgârjuna, meaning the Arjuna among the Nâgas, or serpents. Arjuna was the name of the great hero of the Pândava dynasty, who, at the side of the realized master Krishna, fought the forces of darkness some 1,000 years before the Buddha. Arjuna ("White"), a fearless warrior, helped restore the moral order (dharma) at that time, and Nâgârjuna, by retrieving the precious Prajnâ-Pâramitâ-Sûtra from the Nâgas accomplished a similar feat. In mythology, the Nâgas are the guardians of treasures, including spiritual treasures.

Nâgârjuna, a brilliant philosopher, formulated the Middle Path of the voidness (shûnyatâ) of all phenomena: they neither exist (i.e., eternalism) nor do not exist (i.e., nihilism). His view is summarized in the classic formula: samsâra equals nirvâna. His incisive thoughts, which came to be known as the Mâdhyamika school (sometimes called "Centrism"), ever since the fourteenth century has been followed by the numerous Gelugpa Order of Tibetan Buddhism.

Nâgârjuna authored many works based on the teachings of the Prajnâ-Pâramitâ-Sûtra, and of the 180 or so works attributed to him, six achieved particular fame: the Shûnyatâ-Saptati ("Seventy-seven [Verses] on Emptiness"), the Prajnâ-Mûla ("Foundation of Wisdom"), the Yukti-Shashtikâ ("Sixty [Verses] on Reasoning"), the Vigraha-Vyâvartanî ("Rejection of Dispute"), the Vaidalya-Sûtra, and the Vyavahâra-Siddhi ("Perfection of Action"). These are considered fundamental texts of the Mâdhyamika school of Mahâyâna Buddhism, which Nâgârjuna is thought to have founded. Other well-known texts from his pen are the Mûla-Mâdhyamika-Kârikâ ("Verses on the Foundations of Mâdhyamika"), the Mahâprajnâ-Pâramitâ-Shâstra ("Textbook on the Great Perfection of Wisdom"), and the Dasha-Bhûmi-Vibhâshâ-Shâstra ("Textbook on the Options of the Ten Levels [of a Bodhisattva]"). In addition, two of his instructional letters written to disciples—the Ratna-Âvalî ("String of Jewels") and the Suhril-Lekha ("Letter to a Good-Hearted [Friend]")—gained great popularity for their warm wisdom.

Another well-known legend describes Nâgârjuna’s death. Toward the end of his earthly days, he was patronized by King Atîvâhana whom he regularly supplied with a long-life elixir. Impatient for his turn to rule the country, one of the king’s sons plotted to assassinate Nâgârjuna. One day, Prince Shaktiman sneaked up on the long-lived sage who was immersed in deep meditation and drew his sword to decapitate him. The sharp weapon, however, did not leave even a trace on Nâgârjuna’s neck. But the sage returned to ordinary consciousness and, fully cognizant of what had happened, addressed the prince: "Don’t be worried that your plot will fail. Many life times ago, I accidentally cut an insect in half with a sharp blade of kusha grass. The present situation is a direct outcome of that act. Although no weapon can harm me, let me tell you that you can easily sever my head with a blade of kusha grass. And in this way, the law of karma will be fulfilled." The prince wasted no time to end Nâgârjuna’s life.

As soon as Shaktiman had done the bloody deed, he heard a voice issuing from the headless body: "I will now depart for Sukhâvatî Heaven, but will soon repossess this body." The prince fled in fear. A female spirit picked up Nâgârjuna’s head and transported it several miles away. For many years, both head and body lay there in the mountain wilderness without showing any signs of decay. Miraculously, the head gradually drew closer to the trunk and finally reconnected with it. In that instant, Nâgârjuna returned to life, and lived for another 600 years working for the good of humanity. Today, as a liberated bodhisattva in the subtle realms, he is doing no different.




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