shunya | meditação | mestres | textos | zen | dzogchen | links |
Ao lugar primitivo A vida interior é um local da selva — incivilizado e imprevisível, proporcionando-nos febres, sintomas e momentos de impossível beleza. No entanto, dentro das aparências de caos, existe tanto uma riqueza como um nível profundo de regularidade. Como um parque nacional, o mundo íntimo não faz nada — é o repositório da vida. Não pode ser escavado pelos nossos propósitos conscientes. A única exigência que nos faz é que o amemos e, em troca, ele responde à nossa atenção. Aprender a ficar atento corretamente é descobrir o nosso lugar na ordem natural: confere um fator de estabilidade e harmonia a nossas vidas e proporciona-nos uma história sobre quem somos. Aprender a ficar atento é um começo. Aprender a ficar cada vez mais profundamente atento é o próprio caminho. Para os povos aborígines, uma região inculta não é algo estranho, mas uma espécie de jardim abençoado. À medida que a nossa atenção se aprofunda, aprendemos a enxergar a trepadeira frágil que possui um tubérculo por baixo, ou a acompanhar a direção dos pássaros até um olho-d’água, ao pôr-do-sol. A nossa audição torna-se mais aguçada, ouvimos ruídos de primeiro e de último plano, já não nos surpreendemos com os animais — os medos e anseios da nossa vida interior — e não nos queixamos de que uma outra pessoa lhes tenha provocado os modos ríspidos. Quando a nossa atenção é oferecida livremente, a vida interior, em troca, toma-se uma amiga para confortar-nos e apoiar-nos. Pouco apouco, por meio da nossa atenção oferecida, ligamo-nos à fonte de que procedemos — tornamo-nos aborígines para nós mesmos, descobrindo o quanto amamos a nossa natureza íntima. |