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INTRODUÇÃO AO BUDISMO
Uma visão da doutrina budista através dos textos
Este é um trabalho de seleção e ordenação de textos
de vários autores e mestres budistas por
Karma Tenpa Darghye.

Pergunta: Os fenômenos que surgem no bardo são denominados "manifestações ilusórias", assim como os do sonho ou inclusive os do estado presente. O que significa esse termo "manifestações ilusórias"? Implica que, quando é realizada a verdadeira natureza da mente e dos fenômenos, quando, então, a ilusão é desmascarada, toda manifestação cessa de existir?

Resposta: Não, não exatamente. Quando a manifestação ilusória cessa, a manifestação pura não cessa. Há transformação da manifestação samsárica ilusória em manifestação pura. O que vivemos agora, aqui onde nos encontramos, as aparências que percebemos, tudo isso é a ilusão. Entretanto, na verdade, é essa própria ilusão que é não-ilusão, e esse mundo ordinário que é campo puro, além do sofrimento. A transformação se passa nesse nível e não significa um desaparecimento das aparências. Qual é, então, a diferença? A experiência da manifestação ilusória significa que atribuímos uma realidade independente tanto aos objetos percebidos quanto à mente que os percebe. A transformação da manifestação ilusória impura em manifestação pura significa que cessa essa dupla apreensão de um sujeito e de um objeto. A apreensão dual cessa, mas as aparências permanecem.

A manifestação ilusória divide-se em duas categorias. Distinguimos, de um lado, as "aparências objetivas", ou seja, os objetos dos sentidos percebidos exteriormente e, de outro lado, as "aparências mentais", isto é, os pensamentos e as imagens mentais. Estar na ilusão é perceber uma ou outra como dotadas de uma realidade independente e, por conseqüência, entrar no jogo do apego e da aversão conforme elas sejam sentidas como agradáveis ou desagradáveis. Disso nasce um grande numero de sofrimentos. Quando, ao contrário, cessa essa ilusão, as aparências continuam a existir mas já não são mais assimiladas a "objetos" apreendidos por um "sujeito". Elas são vistas como o aspecto manifestado da mente, ou ainda, a irradiação natural da mente. Todavia, nesse caso, o apego e a aversão são esvaziados de toda substância e nenhum sofrimento pode se produzir. Não existe diferença fundamental na manifestação das aparências, quer nos situemos na ilusão ou na não-ilusão. A diferença reside na apreensão ou na não-apreensão de uma realidade intrínseca nos fenômenos. Se há apreensão de uma realidade, é a ilusão. Se há não-apreensão, é a não-ilusão.

O LIVRO TIBETANO DO VIVER E DO MORRER – Sogyal Rinpoche




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