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INTRODUÇÃO AO BUDISMO de vários autores e mestres budistas por Karma Tenpa Darghye. "Em nosso estado mental normal, nosso ego parece enorme e concreto; ele parece ser justamente nosso melhor amigo, protetor e benfeitor. Mas na verdade, ele é o nosso pior inimigo, uma fraude que nos engana, fazendo-nos sentir que não podemos existir ou viver sem ele. Como um monstro morando em nosso coração, ele está sempre pronto para fazer coisas ruins e causar problemas a nós e aos outros. Nosso ego tem monte de truques para se manter na ativa. Por isso, devemos prestar atenção quando começarmos a nos dizer: "Se eu não cuidar do número um (nós mesmos), não vou trabalhar e vou acabar passando fome"; "Se eu ficar me distraindo com esse assunto de espaço, vou acabar virando um vegetal. Posso até morrer!" O ego tem mais defesas que a OTAN. Cuidado! Não há dúvidas de que é do nosso próprio interesse nos livrarmos desse demônio interior o mais rápido possível (a menos que sejamos masoquistas e gostemos da eterna dor física e mental). Ao recolher e responsabilizar nosso ego de apego a si mesmo por todos os nossos problemas, com certeza geraremos o desejo de cuidar de nosso mundo interno e de nos livrar desse ego o mais rápido possível. Para isso, precisamos enxergá-lo como um mentiroso, examinando se de fato existe como parece ou não. Isso significa dizer a nós mesmos: "Pela lógica, se eu existo tal como parece, devo ser ou um com todo meu corpo e mente, ou separado e diferente deles". Se, quando busco o meu ego, não consigo encontrá-lo nem em minha mente nem em meu corpo, e nem tampouco como algo separado deles, não tenho outra opção senão aceitar que o que estou percebendo é o meu falso senso de individualidade. Precisamos expulsar esse fantasma da máquina. Pensando dessa forma, começamos a caçar nosso ego aparentemente vivo, nosso verdadeiro inimigo, e isso nos força a confrontar nossas suposições nunca examinadas sobre como existimos de fato. Eis um desafio bastante significativo do ponto de vista emocional: descobrir que nossa percepção básica da realidade é uma grande bobagem. Essa é a autocura absoluta, e por isso devemos prosseguir, cheios de alegria, nesse nível grosseiro do treinamento espacial. Se sentirmos que o eu, ou nosso ego, é realmente nosso corpo (como as indústrias de cosméticos adorariam que nós acreditássemos), então: 1. Qual parte do corpo somos? A cabeça, o coração, os membros? 2. Como tenho muitas partes, devo ter muitos "eus" e muitos "egos". 3. Se sou o meu corpo, então, mesmo que minha mente não esteja nele, eu estarei existindo. Quando meu corpo morrer, deixarei de existir. (Essa visão materialista e niilista tem sido desafiada por muitos relatos de experiência pós-morte, além de testemunhos de tulkus nascidos no Ocidente e no Oriente, terapeutas de vidas passadas etc.) 4. Se alguém corta fora nossa perna com um machado, ficamos histéricos e gritamos, "Ele cortou minha perna", mostrando assim que sentimos que somos os proprietários de nosso corpo, e não o corpo em si. 5. Se sentimos que nosso ego é a nossa mente, precisamos examinar o que nossa mente é. Temos muitos fatores ou aspectos maiores ou menores da mente: seis sentidos e consciências mentais e cinqüenta e um fatores composicionais (todos os aspectos misturados de clareza e escuridão em nossa mente). Ora, se tenho tantas mentes diferentes, devo ter muitos egos diferentes (uma personalidade múltipla esquizofrênica com cinqüenta e sete identidades). 6. Quando alguém nos insulta, pensamos, "Ele machucou meus sentimentos", mostrando assim que nos sentimos os proprietários de nossa mente, e não a mente em si. 7. "Penso, logo existo" — "Se sou minha mente, posso viver sem meu corpo". 8. Se sentimos que somos a combinação de nosso corpo e mente, devemos tentar seguir o seguinte raciocínio: Não sou meu corpo. Não sou minha mente. Mesmo assim, quando eles estão juntos, chamo-os de "eu". Mas como é possível que dois "não sou" tornam-se um "eu sou"? Pense nisso! Esse é um enigma profundo e cheio de sentido, não uma piada. É o mesmo que chamar de "foguete" a uma combinação de todas as partes de um foguete. Na verdade, nenhuma delas separadamente é o foguete, mas à união de todas as partes damos o nome de "foguete". Enquanto estamos satisfeitos com o simples nome das coisas e não investigamos nosso mundo com mais profundidade, tudo parece estar certo. Os carros, as pessoas, os computadores, tudo trabalha e funciona. Mas se verificamos o que há por trás das ilusões, perceberemos que não há qualquer foguete que exista independentemente, mas apenas um objeto surgido interdependentemente, dependendo de suas partes, causas, condições etc. Esse é o misterioso milagre da realidade. Quando buscamos as coisas em si, elas desaparecem. Mas quando as aceitamos elas funcionam maravilhosamente bem, até o momento em que se quebram, adoecem e morrem. 9. Se sentimos que nosso eu é diferente de nosso corpo e mente, devemos tentar imaginar então que nosso corpo foi totalmente destruído por uma bomba atômica e que nossa mente foi, de alguma forma, desligada, totalmente aniquilada. Onde estaríamos então? Obviamente, em lugar nenhum. 10. Portanto: Certamente não sou meu corpo, não sou minha mente, nem a combinação de meu corpo e mente; Então, onde estou? Em lugar nenhum. O que percebemos nesse momento, se tivermos feito o jogo da forma adequada, é nada, exceto o espaço absoluto. Esse nada não é o frio vácuo morto do espaço externo ou a completa negação da vida que nos ensinaram nas aulas de filosofia. A experiência da vacuidade, ou do espaço absoluto, é preenchida por uma sensação de extrema bem-aventurança e uma profunda paz. Sem dúvida, segundo os nossos sentidos, não há nada lá, mas de alguma forma encontramos a sensação de arrebatadora alegria de tocarmos a essência da vida e o tecido fundamental da realidade. Ainda assim, não há nada lá. É fascinante e maravilhoso. Então, compreendemos de verdade o monstro que é o nosso ego, nos impedindo completamente de ter essa arrebatadora experiência. O eu é realmente muito egoísta. Todas as vezes que "caçamos o ego", devemos tentar manter a mente ingênua como a mente de uma criança. Não é bom começar o jogo pensando, "Já sei a resposta" ou "Que tédio!", pois assim não poderemos ter o impacto emocional do inacreditável fato de que de repente nosso ego desapareceu, fugiu envergonhado. Quando nosso inimigo interior tiver sido exposto como uma fraude, um mentiroso e um traidor, a fantasia de sua existência se desintegrará no nada. Mas não se preocupe: ele voltará para nos assombrar por muitos e muitos anos. Está apegado a nós tanto quanto nós estamos apegados a ele. Matar o ego é um processo difícil e demorado. Mas é absolutamente benéfico e, por isso, devemos persistir com alegria. Nossa porcentagem de vitória crescerá passo a passo e, um dia, teremos vencido completamente. Assim, tendo exposto nosso ego como uma fraude, usando a luz de nossa sabedoria, tudo que nos resta é uma negação, um vasto espaço ou vacuidade que não implica em nada mais, mas prova apenas que nosso ego independente nunca existiu. O vasto espaço da vacuidade não prova nem confirma mais nada. As pessoas comuns, em geral, necessitam de muito espaço individual e sempre se sentem desconfortáveis em espaços pequenos e em multidões. O antídoto para essa sensação e para o "ser comum" é familiarizar a mente com o vasto espaço interior do não-ego, não-eu, não-meu! A auto-cura não é desenvolver o ego, mas dissolvê-lo no espaço. Assim, sempre nos sentiremos muito confortáveis e relaxados, mesmo se estivermos rodeados por trinta pessoas gritando todas ao mesmo tempo. Algumas pessoas sentem medo quando entram em contato com esse imenso espaço interior, sentindo que fizeram desaparecer a si mesmas. Mas não há motivo para se preocupar: apenas fizemos desaparecer temporariamente nossa alucinação ou fantasia do ego. A energia do apego ao ego é tão forte nas pessoas comuns que certamente reaparecerá logo. Quando chegar o momento de você entrar em contato com o espaço interior, não se preocupe, seu corpo e mente e seu eu, surgidos interdependentemente, ainda estão aqui".
GELSO – AUTOCURA III –Lama Ganchen Rinpoche |