shunya | meditação | mestres | textos | zen | dzogchen | links |
INTRODUÇÃO AO BUDISMO de vários autores e mestres budistas por Karma Tenpa Darghye. Dentro do conceito de karma, não há noção de destino ou fatalismo; apenas colhemos o que plantamos. Experienciamos os resultados de nossas próprias ações. A noção do karma está extremamente conectada com a do surgimento dependente, ou tendrel em tibetano. A corrente do karma também é a interação do tendrel, fatores interdependentes cujas causas e resultados mutuamente originam uns aos outros. A palavra tibetana tendrel significa interação, interconexão, inter-relação, interdependência, ou fatores interdependentes. Todas as coisas, todas as nossas experiências, são o tendrel, o que quer dizer são eventos que existem por causa do relacionamento entre fatores inter-relacionados. Esta idéia é essencial para a compreensão do Dharma em geral e, em particular, para a compreensão de como a mente transmigra na existência cíclica. Para compreender o que o é o tendrel, ou surgimento dependente, vamos pegar um exemplo. Quando você ouve o som de um sino, pergunte a você mesmo: o que faz o som? É o corpo do sino, o badalo, a mão que move o sino para cá e para lá, ou os ouvidos que escutam o som? Nenhum destes fatores produz sozinho o som; ele resulta da interação de todos estes fatores. Todos os elementos são necessários para o som do sino ser percebido, e eles não são uma sucessão, são simultâneos. O som é um evento cuja existência depende da interação daqueles elementos; isso é o tendrel. Similarmente, todas as vidas condicionadas, todos os fenômenos do samsara, resultam de uma multiplicidade de interações que pertencem aos doze elos do surgimento dependente. Estes doze fatores dão origem uns aos outros, mutuamente. Não é que cada fator faz o próximo ocorrer, sucessivamente; como no exemplo do sino, eles são simultâneos, co-existentes. Para produzir uma existência condicionada, é necessário que os doze fatores estejam presentes ao mesmo tempo. O cativeiro de causas e resultados destes fatores interdependentes, que geram a ilusão, é a ação do samsara. Tudo dentro do samsara é o inter-relacionamento karmicamente condicionado; todas as nossas experiências são tendrel. A verdade das aparências criadas pelo cativeiro dos surgimentos dependentes é a verdade convencional ou dualista. É assim que ordinariamente vivemos: governados pelo karma. A natureza vazia do que existe no nível relativo é o que chamamos de verdade última. Compreender verdadeiramente o surgimento dependente nos permite ir além do condicionamento do nível relativo, ou convencional, e atingir a paz e a liberdade da incondicionalidade. Quando você compreende completamente o surgimento dependente, você também compreende a vacuidade. E isso é a liberdade. Portanto, a sabedoria, ou conhecimento, não está fundamentalmente separada da ilusão. Isso porque muitas vezes é dito que o samsara e o nirvana não são diferentes, e que uma forma de sabedoria é latente na ignorância. A lógica e a razão conduzem definitivamente a estas afirmações, que parecem ser contraditórias e ilógicas. A lógica e a razão podem ir até o infinito. Elas são parte do processo do samsara e conduzem definitivamente a contradições. Mesmo assim, já que são ferramentas que podem trazer a realização da verdade, elas são úteis e não devem ser rejeitadas, apesar delas serem eventualmente liberadas no momento da realização da vacuidade. Mas tenha cuidado. A compreensão correta da vacuidade não é, de qualquer modo, niilista. Se decidirmos que tudo é vazio e sem realidade, que o estado de buddha não tem existência real, que a causalidade kármica é vazia e que portanto não há razão para preocupação, isto seria uma visão niilista, pior até do que a visão que considera as coisas relativas como sendo verdadeiramente existentes. As concepções niilistas são um erro mais sério do que a concepção realista que considera os fenômenos como se existissem como aparecem. A compreensão correta da vacuidade está entre os dois extremos do eternalismo (acreditar que as coisas sejam inerentemente ou verdadeiramente existentes) e o niilismo (acreditar que elas não existem). A visão do caminho do meio elimina as idéias errôneas e nos permite ir, definitivamente, para além das noções conceitualizadas sobre a realidade. Mas tome cuidado: imaginar a vacuidade fecha a porta para a iluminação. O grande detentor da linhagem, Saraha, disse: "Considerar o mundo como sendo real é uma atitude brutal. Considera-lo como irreal é ainda mais selvagem". E Nagarjuna disse: "Aqueles que apenas imaginam a vacuidade são incuráveis". O LIVRO TIBETANO DO VIVER E DO MORRER – Sogyal Rinpoche |