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SERMÃO DO CICLO DA VIDA1

Texto atribuído a Bodhidharma
Este texto foi traduzido para o português por Shinzen,
que ofereceu sua tradução como presente ao Lama Samten
na sua ordenação em 14 de dezembro de 1996.

Tudo que aparece nos três reinos vem da mente(8). Portanto, os budas(9) do passado e do futuro ensinam de mente à mente sem se importarem acerca de definições(10).

Mas se eles não definem mente, o que eles querem dizer com mente?

Você pergunta, é a sua mente. Eu respondo, é a minha mente. Se eu não tivesse mente, como eu poderia responder? Se você não tivesse mente, como poderia perguntar? Aquilo que pergunta é a sua mente. Durante kalpas(11) sem começo nem fim, qualquer coisa que você faça, onde quer que você esteja, essa é a sua mente verdadeira, esse é o seu verdadeiro buda. A afirmação essa mente é o buda(12) diz o mesmo. Além dessa mente você nunca encontrará outro buda. Procurar por iluminação(13) ou nirvana(14) além dessa mente é impossível. A realidade de sua natureza própria(15), a ausência de causa e efeito, é o que se chama de mente. Sua mente é nirvana. Você poderia achar um buda ou iluminação em algum lugar além da mente, mas tal lugar não existe.

Tentar achar um buda ou iluminação é como tentar agarrar o espaço. O espaço tem nome, mas nenhuma forma. Não é algo que você possa pegar ou largar. E você certamente não pode agarrá-lo. Além dessa mente você nunca verá um buda. O buda é um produto de sua mente. Por que procurar um buda além dessa mente?

Os budas do passado e do futuro falam somente dessa mente. A mente é o buda, e o buda é a mente. Além da mente não há buda, e além de buda não há mente. Se você pensa que há um buda além da mente, onde ele está? Não há buda além da mente, então por que imaginar um? Você não pode conhecer sua mente verdadeira uma vez que você se engane. Uma vez que você seja escravizado por uma forma inanimada você não é livre. Se você não me acreditar, auto-enganar-se não ajudará. Não é falha dos budas. As pessoas estão iludidas. Elas não são conscientes de que suas próprias mentes são o buda. Do contrário, elas não procurariam por um buda fora da mente.

Os budas não salvam budas. Se você utilizar sua mente para procurar um buda, você não verá o buda. Uma vez que você procure por um buda alhures, você nunca verá que sua própria mente é o buda. Não use um buda para adorar um buda. E não use sua mente para invocar um buda(16). Budas não recitam sutras(17). Budas não mantêm preceitos(18). E budas não quebram preceitos. Budas não mantêm ou quebram coisa alguma. Budas não fazem bem ou mal.

Para encontrar um buda você tem que ver sua natureza(19). Quem quer que veja sua natureza é um buda. Se você não vê sua natureza, invocar budas, recitar sutras, fazer oferendas e manter preceitos é inútil. Invocar budas resulta em bom carma, recitar sutras resulta em boa memória, manter preceitos resulta em um bom renascimento e fazer oferendas resulta em futuras bênçãos – mas não em budas.

Se você não entende por si só, você terá que achar um professor para ensiná-lo sobre vida e morte(20). Mas, exceto veja sua natureza, tal pessoa não é um professor. Mesmo que essa pessoa possa recitar o Cânone Desdobrado em Doze(21), ela não pode escapar da Roda de Nascimentos e Mortes(22). Ela sofre nos três reinos sem esperança e liberação.

Há muito tempo atrás, o monge Boa Estrela(23) era capaz de recitar o Cânone completo. Mas ele não escapou da Roda, pois ele não via sua natureza. Se foi isso que aconteceu com Boa Estrela, então as pessoas de agora que recitam alguns sutras ou shastras(24) e pensam que isso é o Dharma são tolas. Exceto você veja sua mente recitar tanta prosa é inútil.

Para achar um buda tudo que você tem que fazer é ver sua natureza. Sua natureza é o buda. E o buda é a pessoa livre: livre de planos, livre de cuidados. Se você não vê sua natureza, e passar o tempo todo procurando noutro lugar, você nunca encontrará um buda. A verdade é: nada há para encontrar. Mas para atingir tal entendimento você precisa lutar para entender. Vida e morte são importantes. Não as sofra em vão. Não há vantagem em auto-enganar-se. Mesmo que você tenha montanhas de jóias e tantos criados quanto os grãos de areia do Ganges, você os vê quando os seus olhos estão abertos. Mas enquanto seus olhos estiverem fechados? Então você deveria perceber que tudo que você vê é como um sonho ou ilusão.

Se você não encontrar um professor logo, você viverá esta vida em vão. É verdade, você tem a natureza búdica. Mas sem a ajuda de um professor você nunca a conhecerá. Somente uma pessoa num milhão ilumina-se sem o auxílio de um professor.

Se, todavia, numa situação afortunada, uma pessoa entende o que Buda quis dizer, essa pessoa não precisa de professor. Tal pessoa tem uma consciência natural superior a todo ensinamento. Mas se você não for tão dotado, estude muito, que através da instrução você entenderá.

As pessoas que não entendem e pensam que podem entender sem estudo não são diferentes daquelas almas iludidas que não podem diferenciar branco do preto(25). Proclamando falsamente o Dharma de Buda, de fato tais pessoas blasfemam Buda e subvertem o Dharma. Elas rezam como se estivessem chamando chuva. Mas suas rezas são dos demônios(26), e não dos budas. Seu professor é o Rei dos Infernos e seus discípulos são os favoritos do demônio. Pessoas iludidas que seguem tais instruções desajeitadamente afundam no Oceano de Nascimento e Morte.

A menos que elas vejam sua natureza, como as pessoas podem dizer-se budas? Elas são mentirosas que enganam outras, fazendo-as entrar no reino dos demônios. A menos que elas vejam sua natureza, seu recitar do Cânone Desdobrado em Doze é nada além do recitar dos demônios. Devotam-se à Mara, não a Buda. Incapazes de distinguir branco de preto, como podem eles escapar de nascimentos e mortes?

Quem quer que veja sua natureza é um buda; quem não vê é mortal. Mas se você pode achar sua natureza búdica separada de sua mente, de sua natureza mortal, onde ela está? Nossa natureza mortal é nossa natureza búdica. Além dessa natureza não há buda. O buda é nossa natureza. Não há buda além dessa natureza. E não há natureza além do buda.

Mas suponha que eu não veja minha natureza, não posso eu atingir a iluminação invocando budas, recitando sutras, fazendo oferendas, observando preceitos, praticando devoção ou fazendo boas ações?

Não, você não pode atingir a iluminação fazendo isso.

Por que não?

Se você atinge algo, isso é condicional, isso é cármico. Isso resulta em retribuição. Isso gira a Roda. E uma vez que você é sujeito a renascimento e morte você nunca atingirá a iluminação. Para atingir a iluminação você tem que ver sua natureza. A não ser que você veja sua natureza toda essa conversa sobre causa e efeito é insensata. Os budas não praticam insensatez. Um buda é livre de carma(27), livre de causa e efeito. Dizer que ele atinge algo é depreciar um buda. O que ele poderia atingir? Mesmo almejar uma mente, um poder, um entendimento, ou uma visão é impossível para um buda. Um buda não é parcial. A natureza de sua mente é basicamente vazia, não é pura nem impura. Ele é livre de prática e percepção. Ele é livre de causa e efeito.

Um buda não observa preceitos. Um buda não faz bem ou mal. Um buda não é diligente ou preguiçoso. Um buda é alguém que nada faz, alguém que não pode sequer focalizar sua mente num buda. Um buda não é um buda. Não pense a respeito de budas. Se você não vê o que estou falando, você nunca conhecerá sua própria mente.

As pessoas que não vêm sua própria natureza e imaginam que elas podem praticar todo o tempo irrefletidamente são mentirosas e tolas. Elas caem num buraco sem fundo. São como bêbados. Não podem diferir o bem e o mal. Se você pretende cultivar tal prática, você tem que ver sua natureza antes que você possa terminar as racionalizações. Atingir a iluminação sem ver sua natureza é impossível.

Ainda assim outros cometem toda sorte de más ações, proclamando que o carma não existe. Eles erroneamente dizem que uma vez que tudo é vazio, cometer o mal não é errado. Tais pessoas caem num inferno de escuridão sem fim, sem esperança de liberação. Aqueles que são sábios não mantêm tal concepção.

Mas se cada movimento ou estado nosso, sempre que ocorre, é nossa mente, por que não vemos essa mente quando o corpo da pessoa morre?

A mente está sempre presente. Você simplesmente não a vê.

Mas se a mente está sempre presente, por que não a vejo?

Você sonha?

É claro

Quando você sonha, é você?

Sim, sou eu.

E o que você está fazendo ou dizendo é diferente de você?

Não, não é.

Mas se não é, então seu corpo é seu corpo real. E esse corpo real é sua mente. E essa mente, através de kalpas sem início nem fim, nunca variou. Ela nunca viveu ou morreu, apareceu ou desapareceu, aumentou ou diminuiu. Ela não é pura ou impura, boa ou má, passada ou futura. Não é falsa ou verdadeira. Não é masculina ou feminina. Ela não aparece como monge ou leigo, um noviço ou superior, um sábio ou tolo, um buda ou mortal. Não se empenha por realização e não sofre carma. Não tem energia ou forma. É como o espaço. Você não pode possuí-la e você não pode perdê-la. Seus movimentos não podem ser bloqueados por montanhas, rios ou muros de pedras. Seus poderes perpétuos penetram a Montanha dos Cinco Skandas(28) e atravessam o Rio de Samsara(29). Nenhum carma pode restringir esse corpo verdadeiro. Mas essa mente é sutil e difícil de ver. Não é o mesmo que a mente sensual. Todos querem ver essa mente, e aqueles que movem suas mãos e pés devido a sua luz são tantos como os grãos de areia ao longo do Ganges, mas quando você lhes pergunta eles não podem explicar. A mente é para ser usada. São como bonecos. Por que eles não vêm isso?

O buda disse que as pessoas estão iludidas. É porque quando elas agem, elas caem no Rio do Renascimento Sem fim. E quando elas tentam sair elas somente afundam mais. E tudo isso porque elas não vêm sua natureza. Se as pessoas não estivessem iludidas, por que elas perguntariam sobre algo bem defronte delas? Nenhuma delas entende o movimento de suas mãos e pés. Buda não estava errado. As pessoas iludidas não sabem quem elas são. Algo tão difícil de penetrar é conhecido por budas e ninguém mais. Somente o sábio conhece essa mente, essa mente chamada natureza dármica, essa mente chamada liberação. Nem a vida nem a morte podem restringir essa mente. Nada pode. Ela é também chamada O Tathagata Que Não Pode Ser Parado(30), O Incompreensível, O Eu Sagrado, O Imortal, O Grande Sábio. Seus nomes variam não sua essência. Os budas variam também, mas ninguém deixa sua própria mente.

A capacidade da mente é sem limite, e suas manifestações são sem fim. Ver formas com os seus olhos, ouvir sons com os seus ouvidos, sentir odores com o seu nariz, sentir sabores com sua língua, cada movimento ou estado é sua mente. A cada momento, lá onde a linguagem não pode ir, é a sua mente.

Dizem os sutras: "As formas de um tathagata são sem fim, e assim é sua consciência". A variedade sem fim de formas é devida à mente. Sua habilidade para distinguir coisas, qualquer que seja seu movimento ou estado, é a consciência da mente. Mas a mente não tem forma e sua consciência não tem limite. Portanto diz-se que "as formas de um tathagata são sem fim. E tal é a sua consciência".

O corpo material em quatro elementos(31) é um problema. Um corpo material é sujeito a renascimento e morte. Mas o corpo real existe sem existir, pois o corpo verdadeiro do tathagata nunca muda. Os sutras dizem que "As pessoas deviam perceber que a natureza búdica é algo que elas sempre tiveram". Kashyapa(32) apenas percebeu sua natureza própria.

Nossa natureza é a mente. E a mente nossa natureza. Essa natureza é o mesmo que a mente de todos os budas. Budas do passado e do futuro somente transmitem essa mente. Além dessa mente não há buda em parte alguma. Mas pessoas iludidas não percebem que suas próprias mentes são o buda. Elas continuam procurando fora. Elas nunca param de invocar budas ou venerar budas e imaginar onde está o buda. Não se entregue a tais ilusões. Simplesmente conheça sua mente. Além da sua mente não há outro buda. Dizem os sutras que "tudo que tem forma é ilusão". Eles também dizem que "onde quer que você esteja, há um buda." Sua mente é o buda. Não use um buda para venerar um buda.

Mesmo que repentinamente um buda ou bodhisattva(33) aparecesse diante de você não há necessidade de reverenciá-lo. Nossa mente é vazia e não contém tal forma. Aqueles que se apegam às aparências são demônios, eles desviam-se do caminho. Por que venerar ilusões nascidas da mente? Aqueles que veneram não sabem, e aqueles que sabem não veneram. Através da veneração você está a serviço de demônios. Aviso-o disso porque temo que você não esteja consciente disso. A natureza básica de um buda não tem tal forma. Mantenha isso em mente, mesmo que algo diferente apareça. Não o aceite, e não o tema, e não duvide que a sua mente é a princípio pura. Onde poderia haver espaço para tal formação? Além disso, o aparecimento de espíritos(34), demônios ou seres divinos não merece respeito nem medo. Sua mente é basicamente vazia. Todas aparências são ilusões. Não se apegue às aparências.

Se você vir um buda, Dharma ou bodhisattva(35) e prestar-lhe respeito você relega-se ao reino dos mortais. Se você procura entender diretamente não se apegue seja qual for a aparência, que você terá sucesso. Não tenho mais conselhos. Dizem os sutras que "todas as aparências são ilusões". Elas não têm existência fixa, nenhuma forma constante. Elas são impermanentes. Não se adere às aparências e você terá sua mente unificada com Buda. Dizem os sutras que "aquilo que é livre de todas as formas é o buda".

Mas por que não devemos venerar budas e bodhisattvas?

Os demônios têm o poder de manifestarem-se. Eles podem tomar a forma de bodhisattvas em todas as situações. Mas eles são falsos. Nenhum deles é buda. O buda é sua própria mente. Não desvie sua veneração.

Buddha é uma palavra sânscrita que significa desperto, miraculosamente desperto. Responder, perceber, arquear as sobrancelhas, piscar os olhos, mover as mãos e pés, tudo é sua natureza miraculosamente desperta. E essa natureza é a mente. E essa mente é o buda. E o buda é o caminho. E o caminho é zen (36). Mas a palavra zen é uma das que permanece um quebra-cabeça tanto para mortais como para sábios. Ver sua natureza é zen. A menos que você veja sua natureza, não é zen.

Mesmo que você possa explicar milhares de sutras e shastras(37), a menos que você veja sua natureza própria seu ensinamento é o de um mortal, não de um buda. O Caminho verdadeiro é sublime. Ele não pode ser expresso através de linguagem. Para que servem as escrituras? Mas alguém que veja sua natureza própria acha o Caminho, mesmo que ele não possa ler uma única palavra. Alguém que veja sua natureza é um buda. E, uma vez que o corpo de um buda é intrinsecamente puro e sem manchas, e tudo que ele diz é uma expressão de sua mente, sendo basicamente vazio, um buda não pode ser encontrado em palavras ou qualquer lugar do Cânone Desdobrado em Doze.

O Caminho é basicamente perfeito. Ele não precisa ser aperfeiçoado. O Caminho não tem formas ou som. Ele é sutil e difícil de perceber. É como quando você bebe água: você sabe quão quente ou fria está, mas você não pode explicar aos outros. Daí que somente um tathagata sabe que homens e deuses permanecem desatentos. A consciência dos mortais é rasa. Uma vez que eles são apegados às aparências, eles não estão conscientes de que suas mentes são vazias. E por aterem-se erradamente à aparência das coisas eles perdem o Caminho.

Se você sabe que tudo vem da mente, não se apegue. Uma vez apegado, você não está consciente. Mas uma vez que veja sua própria natureza, o cânone completo torna-se tagarelice. Seus milhares de sutras e shastras apenas acumulam-se numa mente clara. O entendimento acontece em meias-palavras. Para que doutrinas?

A Verdade derradeira está além das palavras. Doutrinas são palavras. Elas não são o Caminho. O Caminho é sem palavras. Palavras são ilusões. Elas não são diferentes das coisas que aparecem em seus sonhos à noite, sejam eles palácios ou carruagens, parques sombreados ou pavilhões à margem de lago. Não se deleite por tais coisas. Elas são todas berços de renascimento. Mantenha isso em mente quando você aproximar-se da morte. Não se apegue às aparências que você vencerá todos os obstáculos. A menor hesitação e você estará sob o julgo de demônios. Seu corpo verdadeiro é puro e impenetrável. Mas devido às ilusões você não está ciente disso. E por causa disso você sofre carma em vão. Onde quer que você ache deleite, você acha escravidão. Mas uma vez que você desperte para seus corpo e mente (38) originais você não está mais ligado a apegos.

Todos que renunciam o transcendente pelo mundano, em qualquer de suas miríades de formas, é um mortal. Um buda é alguém que acha liberdade na boa e má fortuna. Tal é seu poder que o carma não pode detê-lo. Não importando o tipo de carma, um buda transforma-o. Céu e inferno (39) são nada para ele. Mas a consciência de um mortal é obscura comparada com a de um buda, que penetra tudo, por dentro e por fora.

Se você não tiver certeza, não aja. Uma vez que você aja, você vagueia pelo nascimento e morte e lamenta não ter refúgio. A pobreza e a miséria são criadas pelo pensamento falso. Para entender essa mente você tem que agir sem agir. Somente então você verá as coisas pela perspectiva de um tathagata.

Mas, quando pela primeira vez você aventura-se pelo Caminho, sua consciência não tem foco. Provavelmente você verá toda sorte de cenas estranhas, como em sonhos. Mas você não deve duvidar de que tais cenas vêem de sua própria mente, e nenhum outro lugar.

Se, como num sonho, você vir uma luz mais brilhante que o Sol, seus apegos remanescentes subitamente terão fim e a natureza da realidade será revelada. Tal ocorrência serve como base para a iluminação. Mas isso é algo que somente você conhece. Você não pode explicar isso para os outros.

Ou, se enquanto você estiver caminhando, parado de pé, sentado ou deitado num bosque sereno, você vir uma luz, não importando se ela é brilhante ou obscura, não conte para os outros e não a focalize. É a luz de sua própria natureza.

Ou, se enquanto você está caminhando, parado de pé, sentado ou deitado na serenidade e escuridão da noite, tudo parecer-se como se fosse dia, não se espante. É sua própria natureza nas cercanias de revelar-se. Mas, se enquanto você está sonhando à noite, você vir a Lua e as estrelas em toda sua claridade, isso significa que os trabalhos de sua mente estão perto de terminar. Mas não conte aos outros. E se os seus sonhos não forem claros, como se você estivesse caminhando na escuridão, é porque sua mente está dissimulada por inquietação. Isso também é algo que apenas você deve saber.

Se você vê a sua natureza, você não precisa ler sutras ou invocar budas. Erudição e conhecimentos não somente são inúteis mas também enevoam sua consciência. As doutrinas só servem para apontar para a mente. Uma vez que você veja sua mente, por que prestar atenção às doutrinas?

Para ir de mortal a buda, você tem que terminar com o carma, alimentar sua consciência e aceitar o que a vida traz. Se você está sempre ficando brabo você vai fazer sua natureza virar contra o Caminho. Não há vantagem em enganar-se. Os budas andam livremente pelo nascimento e morte, aparecendo e desaparecendo à vontade. Eles não podem ser refreados pelo carma ou dominados pelos demônios.

Uma vez que os mortais vejam sua natureza, todos os apegos findam. A consciência não está escondida. Mas você pode encontrá-la já. Somente agora. Se você realmente quer encontrar o Caminho não se apegue a nada. Uma vez que você terminar com o carma e alimentar sua consciência, todo apego residual terminará. O entendimento vem naturalmente. Você não tem que fazer esforço algum. Mas os fanáticos (40) não entendem o que o Buda quis dizer. Quanto mais eles tentam, menos eles entendem o ensinamento dos Sábios. Eles invocam budas e lêem durante todo o dia. Mas eles continuam cegos à sua natureza própria divina, e eles não escapam da Roda.

Um buda é uma pessoa sossegada. Ele não vai atrás de fortuna e fama. No fim, para que servem tais coisas? As pessoas que não vêem sua natureza e pensam que o Dharma é ler sutras, invocar budas, estudar duramente por longo tempo, praticar pela manhã e à noite, nunca deitar ou adquirir conhecimentos, blasfemam o Dharma. Os budas do passado e do futuro falam somente de ver sua natureza. Todas as práticas são impermanentes. A não ser que elas vejam sua natureza, as pessoas que dizem ter atingido a iluminação (41) completa são mentirosas.

Dentre os dez grandes discípulos de Shakyamuni (42), Ananda (43) era o primeiro em aprendizado. Mas ele não entendia Buda. Tudo que ele fazia era estudar e memorizar. Os arhats (44) não entendem Buda. Tudo que eles sabem são tantas práticas para a percepção que eles são pegos pela armadilha de causa e efeito. Tal é o carma de um mortal: nenhuma escapatória de nascimento e morte. Fazendo o oposto do que ele pretendia tais pessoas blasfemam Buda. Matá-las não seria errado. Dizem os sutras: "Uma vez que icchantikas (45) são incapazes de crer, matá-los não seria culposo, enquanto as pessoas que crêem alcançam a buditude.

A menos que você veja sua natureza, você não deve circular criticando a bondade alheia. Não há vantagem em iludir-se. Bom e mau são distintos. Causa e efeito são claros. Céu e inferno estão bem diante de seus olhos. Mas os tolos não acreditam e vão direto ao inferno de escuridão sem fim sem mesmo sabê-lo. O que os faz não acreditar é o peso de seu carma. Eles são como cegos que não acreditam que haja tal coisa como luz. Mesmo que você explique isso para eles, eles ainda não acreditam, porque eles são cegos. Como eles poderiam distinguir a luz?

O mesmo acontece com os tolos que terminam dentre as ordens mais baixas da existência (46) ou dentre os pobres e desprezados. Eles não podem viver e eles não podem morrer. E apesar de seus sofrimentos, se você lhes pergunta, eles dizem que são tão felizes como deuses. Todos os mortais, mesmo aqueles que se pensam bem-nascidos, são igualmente desconhecedores. Devido ao peso de seu carma tais tolos não podem acreditar e não podem se verem livres.

As pessoas que vêem que suas mentes são o buda não necessitam raspar a cabeça (47). Os leigos são budas também. A menos que vejam sua natureza, as pessoas que raspam a cabeça são simplesmente fanáticos.

Mas, uma vez que leigos casados não desistem de sexo, como eles podem tornarem-se budas?

Eu falo somente sobre ver sua natureza. Eu não falo sobre simplesmente sexo porque você não vê sua natureza. Uma vez que você veja sua natureza, sexo é basicamente imaterial. Ver a natureza termina com o seu prazer no sexo. Mesmo que alguns hábitos permaneçam eles não podem lhe causar dano, pois sua natureza é essencialmente pura. Apesar de habitar num corpo imaterial de quatro elementos, sua natureza é basicamente pura. Ela não pode ser corrompida. Em seu corpo verdadeiro não há sensação, nenhuma fome ou sede, nenhum calor ou frio, nenhuma doença, amor ou apego, nenhum prazer ou dor, nenhum bem ou mal, nenhuma penúria ou fartura, nenhuma fraqueza ou força. Realmente, não há nada aqui. É somente porque você apega-se a esse corpo imaterial que coisas como fome e sede, calor e frio e doenças aparecem.

Uma vez que você pare de apegar-se e deixe as coisas irem você será livre, mesmo de nascimento e morte. Você transformará tudo. Você possuirá poderes espirituais (48) que não podem ser obstruídos. E você estará em paz onde quer que esteja. Se você duvida disso você nunca verá nada. É melhor ficar de fora fazendo nada. Uma vez que você aja, você não pode evitar o ciclo de nascimento e morte. Mas uma vez que você veja sua natureza, você é um buda mesmo que você trabalhe como açougueiro.

Mas os açougueiros criam carma carneando animais. Como eles podem ser budas?

Falo somente sobre ver sua natureza. Não falo sobre criar carma. Indiferentemente ao que fazemos, nosso carma não se apega a nós. Por calpas sem começo nem fim, é somente porque as pessoas não vêem sua natureza que elas terminam no inferno. Uma vez que uma pessoa crie carma, ela continua nascendo e morrendo. Mas, uma vez que a pessoa perceba sua natureza original, ela pára de criar carma. Se ela não vê sua natureza, invocar budas não vai liberá-la de seu carma, indiferentemente de ser ou não um açougueiro. Mas uma vez que ela veja sua natureza todas as dúvidas dissipam-se. Mesmo o carma de um açougueiro não tem efeito sobre essa pessoa.

Na Índia, os 27 patriarcas (49) somente transmitiram o selo (50) da mente. E a única razão de eu ter vindo para a China é transmitir o ensinamento instantâneo do Mahayana (51): Essa mente é o buda. Eu não falo de preceitos, devoções ou práticas ascéticas tais como mergulhar em água e fogo, pisar numa roda de facas, comer uma refeição por dia ou nunca deitar. Esses são ensinamentos fanáticos, provisórios. Uma vez que você reconheça sua dinâmica miraculosamente desperta, sua natureza é a mente de todos os budas. Budas do passado e do futuro somente falam sobre transmitir a mente. Nada mais eles ensinam. Se alguém entende esse ensinamento, mesmo que seja analfabeto, ele é um buda. Se você vê a sua mente miraculosamente desperta, você nunca verá um buda, mesmo que você quebre seu corpo em átomos(52).

Buda é seu corpo verdadeiro, sua mente original. Essa mente não tem forma ou características, não tem causa ou efeito, tendões ou ossos. É como o espaço. Você não pode agarrá-la. Não é a mente de materialistas ou niilistas. Exceto um tathagata, ninguém mais – nenhum mortal, nenhum ser iludido – pode penetrá-la.

Mas essa mente não está em algum lugar fora do corpo material de quatro elementos. Sem essa mente nós não podemos nos mover. O corpo não tem consciência. Como uma planta ou pedra, o corpo não tem natureza. Então, como ele move-se? É a mente que se move.

Linguagem e comportamento, percepção e concepção são todas funções da mente em movimento. Todo movimento é o movimento da mente. O movimento é sua função. Não há mente separada do movimento, e não há movimento separado da mente. Mas o movimento não é mente. E a mente não é movimento. O movimento é basicamente sem mente. E a mente é basicamente sem movimento. Mas o movimento não existe sem a mente. E a mente não existe sem o movimento. A mente não existe separadamente do movimento e o movimento não existe separadamente da mente. O movimento é função da mente, e sua função é seu movimento. Mesmo assim, a mente não se move nem funciona, porque a essência de seu funcionamento é vazia e o vazio é essencialmente sem movimento. O movimento é o mesmo que a mente. E a mente é essencialmente sem movimento.

Conseqüentemente os sutras dizem-nos para mover sem mover, viajar sem viajar, ver sem ver, rir sem rir, ouvir sem ouvir, saber sem saber, ser feliz sem ser feliz, caminhar sem caminhar, ficar de pé sem ficar de pé. E os sutras dizem: "Vá além da linguagem, vá além do pensamento". Basicamente, ver, ouvir e saber são completamente vazios. Sua raiva, sua alegria ou dor são como de um boneco. Você pode procurar, mas nada encontrará.

De acordo com os sutras, más ações resultam em dificuldades e boas ações resultam em bênçãos. Gente braba vai para o inferno e gente feliz vai para o céu. Mas uma vez que você saiba que a natureza da raiva e da alegria é vazia e você as deixa ir, você se livra de carma. Se você não vê sua natureza, parafrasear sutras não ajuda. Eu poderia ir adiante, mas esse breve sermão fará efeito.

Glossário e notas

8. Mente. Um verso do Avatamsaka Sutra é parafraseado aqui: "Os três reinos são só uma mente". O Sexto Patriarca zen, Hui-Neng, distingue mente como o reino e natureza como o senhor.

9. Budas. O budismo não se limita a um buda. Ele reconhece incontáveis budas. Além disso, todos têm a natureza de buda. Há um buda em cada mundo, assim como há consciência em cada pensamento. A única qualificação necessária para a buditude é consciência completa.

10. Sem definições. A ausência de definições na transmissão do Dharma é um critério do zen budismo. Não necessariamente significa sem palavras, mas sem restrições ao modo de transmissão. Um gesto é tão bom como um discurso.

11. Kalpa. O período entre a criação e a destruição do mundo, um eon.

12. Essa mente é o buda. É budismo Mahayana em poucas palavras. Uma vez um monge perguntou a Ameixa Grande o que Matsu lhe ensinou. Ameixa Grande disse "Essa mente é o buda." O monge respondeu: Atualmente Matsu ensina Aquilo que não é a mente não é o buda. A isso Ameixa Grande respondeu: "Deixe-o fazer Aquilo que não é a mente não é o buda. Vou bater em Essa mente é o buda." Quando ele ouviu essa história, Matsu disse: "A ameixa está madura." (Transmissão da Lâmpada, Capítulo 7).

13. Iluminação. Bodi. Diz-se que a mente livre de ilusão é cheia de luz, como a Lua quando não é obscurecida por nuvens. Em vez de sofrer outro renascimento, a pessoa iluminada atinge o nirvana, porque a iluminação põe fim ao carma. A faculdade de ouvir é mais primitiva, mas a visão é a contumaz fonte de sabedoria acerca de realidade; daí o uso de metáforas visuais. Os sutras também falam de mundos nos quais os budas ensinam através do olfato.

14. Nirvana. Os tradutores chineses antigos tentaram umas 40 palavras chinesas antes de desistirem e simplesmente fazer a transcrição desta palavra sânscrita, a qual significa ausência de respiração. É também definida como somente calma. Muitas pessoas igualam-no à morte, mas para os budistas o nirvana significa ausência do significado dialético da respiração. De acordo com Nagarjuna: "Aquilo que é, quando sujeito ao carma, samsara, é, quando não mais sujeito ao carma, nirvana."(Madhyamika Shastra, Capítulo 25, verso 9).

15. Natureza própria. Svabhava. Aquilo que é de si próprio. A natureza própria de nada depende, tanto causal, temporal ou espacialmente. A natureza própria não tem aparência. Seu corpo é corpo nenhum. Não é um tipo de ego, e não é algum tipo de substrato ou característica que exista dentro ou fora dos fenômenos. A natureza própria é vazia de todas as características, incluindo o vazio, mas ainda define a realidade.

16. Invocar budas. Invocar inclui tanto visualização de um buda como repetição de um nome de buda. O objeto usual de tal devoção é Amithaba, Buda do Infinito. Invocar de todo coração Amithaba assegura aos devotos renascer no Paraíso Oriental, onde a iluminação é dita ser muito mais fácil atingir do que nesse mundo.

17. Sutra. Significa soar, um sutra faz soar juntas as palavras de um buda.

18. Preceitos. A prática budista de moralidade inclui um número de proibições: usualmente cinco para leigos, aproximadamente 250 para monges e de 350 a 500 para monjas.

19. Ver sua natureza. Chamada de natureza própria, natureza de buda ou natureza do Dharma, nossa natureza é nosso corpo verdadeiro. É também nosso falso corpo. Nosso corpo verdadeiro não é sujeito a nascimento ou morte, aparecimento ou desaparecimento, mas o nosso corpo falso está num estado de constante mudança. Vendo nossa natureza, nossa natureza vê a si mesma, porque a ilusão e a consciência não são diferentes. Para uma exposição sobre isso em português, veja o livro de D.T. Suzuki A Doutrina Zen da Não-Mente.

20. Vida e morte. Shakyamuni deixou o lar para achar uma saída do ciclo interminável de vida e morte. Todos que seguem Buda devem fazer o mesmo. Quando chegou o momento de transmitir o

robe e a tigela da linhagem zen, Hui-jin, o Quinto Patriarca zen, reuniu seus discípulos e disse-lhes: "Nada é mais importante que vida e morte. Mas em vez de procurar uma saída para o Oceano de Vida e Morte, vocês passam todo o seu tempo procurando maneiras de acumular méritos. Se vocês são cegos para sua própria natureza, para que serve o mérito? Usem sua sabedoria, a prajna natureza de suas próprias mentes. De todo o seu ser, vão escrever um poema". (Sutra do Sexto Patriarca, Capítulo 1).

21. Sutra Desdobrado em Doze. As doze divisões das escrituras reconhecidas pelo budismo Mahayana. Essas divisões, que são feitas para separar objetos diferentes e formas literárias, incluem sutras, sermões de Buda; geyas, repetições em versos dos sutras; gathas, cânticos e poemas; nidanas, narrativas históricas; jatacas, histórias de budas anteriores; itivrittakas, histórias das vidas passadas dos discípulos; adbhutadharma, milagres de Buda; avadana, alegorias; upadesa, discussões da doutrina; udana, postulados não solicitados da doutrina; vaipulya, discursos estendidos; e vyakana, profecias de iluminação.

22. Roda de Nascimentos e Mortes. O renascer sem fim do qual somente budas escapam.

23. Boa Estrela. No Capítulo 23 do Nirvana Sutra diz-se que Boa Estrela é um dos três filhos de Shakyamuni. E, tal como seu irmão Rahula, tornou-se um monge. No fim, ele era capaz de recitar e explicar inteiramente a literatura sagrada de seu tempo e pensou que tinha atingido o quarto reino celestial de dhyana no reino da forma. E quando o suporte cármico por tal feito exauriu-se, ele foi transportado fisicamente para o inferno do sofrimento sem fim.

24. Sutras ou shastras. Sutras são discursos dos budas. Shastras são os discursos dos discípulos proeminentes.

25. Branco do preto. Referência à tentativa de ver o budismo como confucionismo ou taoismo, animado pelo ensaio de Hui-lin, escrito em 435, no qual ele declarou o budismo e o confucionismo igualmente verdadeiros e nos quais ele negou a operação do carma após a morte.

26. Demônios. Os budistas, como os seguidores de outras fés, reconhecem uma categoria de ser cujo único propósito é desvirtuar budas em potencial. Essas legiões de demônios são lideradas por Mara,

a quem Buda derrotou na noite de sua iluminação.

27. Carma. O equivalente moral da lei física de causa e efeito, o carma inclui ações do corpo, da língua e da mente. Tais ações giram a Roda de Renascimento e resultam em sofrimento. Mesmo quando uma ação é boa ela gira a Roda. O objetivo da prática budista é escapar da roda, por um fim ao Carma, agir sem agir, não atingir um renascimento melhor.

28. Skandas. Palavra sânscrita que significa a constituição da mente ou o corpo mental das pessoas: forma, sensação, percepção, impulso e consciência.

29. Samsara. Palavra sânscrita que significa fluxo constante, o ciclo de mortalidade, o fluxo sem fim de nascimento e morte.

30. O Tathagata. Uma palavra para designar um buda; o nome pelo qual um buda refere-se a si mesmo. Um buda é um desperto. Um Tathagata é uma manifestação no mundo de um buda, seu corpo de transformação, em oposição a seu corpo de desfrute ou seu corpo real. Um Tathagata ensina o Dharma.

31. Quatro elementos. Os quatro elementos constituintes de toda matéria, incluindo corpo material: terra, água, fogo e ar.

32. Kashyapa. Também chamado Mahakashyapa, ou o Grande Kashyapa. Ele era um dos mais

proeminentes discípulos e lhe é creditado ter sido Primeiro Patriarca zen na Índia. Quando Buda segurou a flor, Kashyapa sorriu em resposta, e a transmissão da mente zen começou.

33. Bodhisattva. O ideal Mahayana. O bodhisattva condiciona sua própria liberação à de outros seres, enquanto o arhat, ideal Hinayana, preocupa-se com procurar sua própria salvação. Em vez de encolher a mente em vacuidade, como o arhat faz, o bodhisattva expande-a ao infinito. É porque ele percebe que todos os seres têm a mesma natureza de buda.

34. Espíritos, demônios ou seres divinos. Espíritos são seres sem corpo. Os demônios incluem vários deuses do céu (devas), do mar (nagas) e da terra (yakshas). Os seres divinos incluem Indra, senhor dos 33 reinos celestes, e Brahma, senhor da criação.

35. Um buda, um Dharma ou um bodhisattva. Constituem o Refúgio Budista, ou três jóias. Um Dharma é o ensinamento de um buda. Aqueles que seguem tal ensinamento formam a ordem dos monges, ou, na tradição Mahayana, bodhisattvas.

36. Zen. Palavra sânscrita que significa meditação, primeiramente utilizada para transliterar dhyana. É atribuído a Bodhidharma liberar o zen da almofada de meditação, usando o termo referindo-se à mente cotidiana que vai em frente, a mente que senta sem sentar e que age sem agir.

37. Milhares de sutras e shastras. Um catálogo do Cânone Budista Chinês, ou Tripitaka, feito no início do Séc. VI lista 2.213 trabalhos distintos. Cerca de 1.600 deles eram sutras. Muitos sutras foram

adicionados ao Tripitaka desde então, mas muitos foram perdidos. O Cânone atual tem 1.662 trabalhos.

38. Corpo e mente. O corpo de quatro elementos e a mente de cinco agregados designa o eu genericamente, mas Bodhidharma está referindo-se ao eu búdico.

39. Céu e inferno. Os budistas reconhecem quatro reinos celestes da forma, os quais são divididos em 16 ou 18 reinos celestes, e quatro sem forma. Do lado oposto da Roda existem oito infernos quentes e

oito infernos frios, cada um dos quais tem quatro infernos adjacentes. Há também um número de infernos especais, tais como o inferno de escuridão e sofrimento sem fim.

40. Fanáticos. Dentre os seguidores das várias seitas budistas e não budistas, aqueles mais sujeitos a degeneração como fanáticos foram aqueles que engajaram em ascetismo e auto-tortura ou aqueles que seguiram literalmente e não o espírito do Dharma.

41. Insuperável e completa iluminação. Anuttara-samyak-sambodhi. O objetivo dos bodhisattvas. Veja o início do Sutra do Diamante.

42. Shakyamuni. Shakya era o nome do clã de Buda. Muni significa santo. O nome de sua família era Gautama, e seu nome pessoal era Siddharta. As datas exatas variam, mas o consenso é aproximadamente de 557 a 487 A.C.

43. Ananda. Meio-irmão de Shakyamuni. Ele nasceu na noite da iluminação de Buda. Vinte e cinco anos após entrou na ordem como atendente pessoal de Buda. Após o nirvana de Buda, ele repetiu de memória os sermões de Buda no Primeiro Concílio.

44 Arhat. Liberar a si de renascimento é o objetivo dos seguidores do Hinayana, ou Pequeno Veículo. Um arhat está além das paixões, mas também está além da compaixão. Ele não percebe que todos os mortais compartilham a mesma natureza e que não há budas a não ser que todos sejam budas.

45. Icchantikas. Uma classe de seres preocupados tão exclusivamente com gratificação dos sentidos que a crença religiosa está além deles. Eles quebram os preceitos e recusam-se a arrependerem-se. Uma tradução chinesa antiga do Sutra do Nirvana nega que os icchantikas possuíssem a natureza de buda. Uma vez que a proibição budista de matar intenciona evitar matar alguém capaz de atingir a buditude, matar icchantikas era, pelo menos em teoria, isento de culpa. Uma tradução mais recente do Sutra do Nirvana, entretanto, retificou esta noção, dizendo que mesmo icchantikas têm natureza de buda.

46. Mais baixas ordens da existência. Bestas, fantasmas famintos e sofredores no inferno.

47. Raspar suas cabeças. Quando Shakyamuni deixou o palácio do pai no meio da noite para começar sua procura por iluminação, ele cortou com sua espada seu cabelo, que estava na altura dos ombros.

O cabelo curto que restou formava cachos no sentido do relógio que nunca precisavam ser cortados novamente. Mais tarde, os membros da Ordem Budista começaram a raspar suas cabeças para distinguirem-se de outras seitas.

48. Poderes espirituais. Os budistas reconhecem seis de tais poderes: a habilidade de ver todas as formas; a habilidade de ouvir todos os sons; a habilidade de saber os pensamentos dos outros; a habilidade de estarem em qualquer lugar ou fazer qualquer coisa a vontade; e a habilidade de conhecer o fim do renascimento.

49. Vinte e sete patriarcas. Kashyapa foi o Primeiro Patriarca da linhagem zen. Ananda foi o segundo. Prajnatara foi o vigésimo sétimo e Bodhidharma o vigésimo oitavo. Bodhidharma foi também o Primeiro Patriarca zen na China.

50. Selo. A transmissão da mente zen deixa uma igualdade perfeita, a qual pode sempre ser conferida com a coisa verdadeira, a qual leva tanto tempo e faz tanto som como afixar um selo.

51. Mahayana. Maha significa grande, e yana significa veículo. A forma predominante de budismo no nordeste, centro e leste da Ásia. O Theravada (Ensinamento dos Anciões) é a forma predominante do sul e sudeste da Ásia. A palavra Hinayana é também utilizada para referir-se ao Theravada.

52. Átomos. Os antigos budistas Sarvastivadins reconheciam partículas subatômicas chamadas parama-anu, as quais podem somente ser conhecidas através da meditação. Sete destas partículas fazem um átomo, e sete átomos fazem uma molécula, a qual é perceptível somente pelos olhos de um bodhisattva. Os sarvastivadins declaram que o corpo de uma pessoas é feito de 84.000 átomos (o número 84.000 era também utilizado para significar incontável).


  1. Extraído de www.zen.hpg.ig.com.br/zen.html


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