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SUTRA DE HUI-NENG - SUTRA DA PLATAFORMA Capítulo X. As Instruções Finais O Sutra do VI Patriarca Hui-Neng NO ALTO ASSENTO "DO TESOURO DO DHARMA" Traduzido ao Inglês por A.F.Price e Wong Mou-Lam Traduzido ao Português por Cláudio Miklos Certo dia o Patriarca chamou seus discípulos Fa Hai, Chih Ch'eng, Fa Ta, Shen Hui, Chih Ch'ang, Chih Tung, Chih Ch'e, Chih Tao, Fa Chen, Fa Ju, etc., e lhes falou como segue: "Vóis sois distintos dos outros [meus discípulos]. Após minha entrada no Nirvana, cada um de vós sereis o Mestre de Dhyana de uma certa região. Então, eu vos darei algumas sugestões sobre como transmitir os ensinamentos, de forma vós possais manter a tradição de nossa Escola. Primeiro mencioneis as três Categorias de Dharmas, e então os trinta-seis 'pares de opostos' das atividades (da Essência da Mente). Então ensineis como evitar o dois extremos do 'penetrar' ou 'sair'. Em todas as pregações, não vos desvieis da Essência da Mente. Sempre que alguém vos questionar, lhe respondeis com antônimos, de forma que um 'par de opostos' seja formado, como (por exemplo) 'vir ' e ' ir ' são a causa recíproca um do outro. Quando a interdependência dos dois for completamente realizada não haverá, no sentido absoluto, nenhum 'vir' nem 'ir'. As três categorias de Dharmas são: O cinco Skandhas são: Os doze Ayatanas são: Seis Objetos de Sensação (externos). Seis Sensação Os dezoito Dhatus são: Os seis objetos de sensação, seis órgãos de sensação e os seis receptores vijnanas. Como a Essência da Mente é a incorporação de todos os Dharmas, ela é chamada de Alaya (Repositório de Consciência). Mas assim que o processo de pensamento ou argumentando começa, a Essência da Mente é transmutada em (vários) vijnanas. Quando os seis receptores vijnanas vêm a existir, eles percebem os seis objetos de sensação através das seis 'portas' (de sensação). Assim, o funcionamento do dezoito dhatus deriva seu ímpeto da Essência da Mente. Se eles funcionam com uma tendência má ou boa depende do humor - bom ou mal - sob o que a Essência da Mente está. Funcionamento malévolo é sinônimo de um homem comum, enquanto que o funcionamento benévolo é característico de um Buda. É devido aos ' pares de opostos ' inerentes da Essência da Mente que o funcionamento dos dezoito dhatus derivam seu ímpeto. Os trinta e seis 'Pares de opostos' são: Os Cinco [pares] externos inanimados são: Céu e terra, sol e lua, luz e escuridão, elemento positivo e elemento negativo, fogo e água. Os Doze Dharmalaksana (objetos fenomênicos): Palavras e o Dharma [o Silêncio], plenitude [existência] e ausência [não-existência], o aparente e o sem aparência, harmonia [reciprocidade] e a desarmonia, brechas (impurezas) e a ausência de brechas, a qualidade e o vazio, movimento e quietude, pureza e impureza, pessoas mundanas e os sábios, o Sangha e os leigos, o velho e o jovem, o grande e o pequeno. Os Dezenove Pares que denotam o funcionamento da Essência da Mente: Longo e o curto, o vicioso e o virtuoso, o iludido e o iluminado, ignorante e o sábio, perturbado e o tranqüilo, o misericordioso e o perverso, o abstinente (Sila) e o indulgente, o correto e o deformado, cheio e vazio, o íngreme e o nivelado, klesa e Bodhi, permanente e passageiro, compassivo e cruel, o feliz e o que odeia, o generoso e o mesquinho, o à frente e o que está atrás, o existente e o Não-existente, Dharmakaya e corpo físico, Sambhogakaya e Nirmanakaya. Aquele que sabe usar estes trinta-seis pares, alcança o princípio todo-penetrante que passa pelo ensino de todos os Sutras. Seja ele ' vindo ' ou ' partindo ', poderá evitar o dois extremos. No funcionamento da Essência da Mente e em conversação com outros, exteriormente nós deveríamos nos livrar de apegos aos objetos, e interiormente, deveríamos nos livrar de apegos à idéia do Vazio, nós devemos nos livrar da idéia de ‘Niilismo’. Acreditar na realidade de objetos ou em Niilismos irá resultar em visões profundamente enraizadas em falaciosidade ou em ignorância intensificada, respectivamente. Um crente fanático no Niilismo blasfema contra os Sutras sustentando que a literatura (i.e., as Escrituras budistas) é desnecessária (para o estudo de Budismo). Se assim fosse, então não haveria motivos para falarmos, uma vez que os modos da fala são a substância da literatura. Ele também poderia argumentar que no método direto (literalmente, o Caminho direto) a literatura é descartada. Mas ele percebe que estas duas palavras, ‘é descartada’, também são literatura? Ao ouvir outros recitando os Sutras, um homem criticaria os locutores como 'viciados na autoridade das escrituras'. Já é ruim o bastante para ele manter esta noção enganada para si mesmo, mas além disso ele blasfema contra as escrituras budistas. Vós devereis saber que é uma séria ofensa falar mal dos Sutras, pois as conseqüências [deste ato] são realmente graves! Aquele que acredita na realidade dos objetos externos tenta buscar a forma (externamente) praticando um certo sistema de doutrina. Ele pode organizar grandes espaços de conferências para a discussão do Realismo ou Niilismo, mas tal pessoa por numerosos kalpas não irá [ser capaz de] perceber a Essência da Mente. Nós deveríamos trilhar o Caminho de acordo com o ensino do Dharma, e não manter nossa mente em um estado de indolência e cria assim obstáculos para sua compreensão. Falar ou ouvir o Dharma sem praticar dará ocasião para o surgimento de visões errôneas. Consequentemente, nós deveríamos trilhar o Caminho de acordo com o ensino do Dharma, e na disseminação do Dharma não deveríamos nos influenciar pelo conceito da realidade de objetos; Se vós entendestes o que eu digo, e fizerdes uso disto nos discursos, na prática, e em sua vida diária, vós ireis compreender a característica que define a nossa Escola." Sempre que uma questão for apresentada a vós, respondeis no negativo se for ela [a questão] afirmativa; e vice-versa. Se vós fordes questionados por um homem comum, fale para ele algo sobre os sábios; e vice-versa. Pela correlação ou interdependência dos opostos, a doutrina do ' Meio ' pode ser compreendida. Se todas as outras questões forem respondidas desta maneira, vós não estareis longe da verdade. Suponham que alguém vos pergunta sobre a natureza da escuridão, lhe respondais assim: Luz é o Hetu (condição-raiz) e escuridão é o pratyaya (condições que provocam qualquer determinado fenômeno). Quando a luz desaparece, a escuridão surge. Os dois estão em contraste com um ao outro. Da correlação ou interdependência dos dois a doutrina do ' Meio ' existe. Deste modo todas as outras questões devem ser respondidas. Para assegurar a perpetuação da meta e do objetivo de nossa Escola na transmissão do Dharma para seus sucessores, esta instrução deve ser passada de uma geração a outra." Na sétima Lua do ano de Jen Tzu, o primeiro ano de T'ai Chi ou Era Yen Ho, o Patriarca enviou alguns de seus discípulos a Hsin Chou para construir um santuário (stupa) dentro do monastério Kuo En, com instruções de que o trabalho deveria ser completado o mais cedo possível. No ano seguinte, quando o verão estava bem adiantado, o stupa foi completado apropriadamente. No primeiro dia da sétima Lua, o Patriarca reuniu seus discípulos e lhes falou como segue: "Eu vou deixar este mundo na oitava Lua. Se vós tiverdes quaisquer dúvidas (sobre a doutrina), por favor, me pergunteis em tempo, de forma eu possa vos esclarecer. É possível que ninguém vos possa ensinar depois de minha partida". As tristes notícias levaram Fa Hai e outros discípulos às lágrimas. Por outro lado, Shen Hui permaneceu inalterado. Elogiando-o, o Patriarca disse, "O Jovem Mestre Shen Hui é o único aqui a atingir aquele estado da mente que não vê nenhuma diferença entre o bem ou o mal, que não conhece a tristeza nem a felicidade, e está além de elogios ou culpas. Depois de tantos anos treinando nesta montanha, que progresso fizestes vós? Por que estais chorando agora? Vós estais porventura preocupados por mim porque talvez eu não saiba para onde irei? Mas eu sei; caso contrário eu não vos poderia contar antecipadamente o que acontecerá. O que vos faz chorar é que não sabeis para onde vou. Se vós soubésseis, não haveria nenhum motivo para vossas lamentações. Em Assim Ser (Tathata) não existe intrinsecamente o vir nem o ir, a formação nem a cessação. Sentais todos, e me deixais ler-vos versos sobre Realidade e a Ilusão, e sobre o Movimento e a Quietude. Praticais, e vossa opinião outorgará a minha. Praticais, e vós ireis captar a meta e objetivo de nossa Escola". A assembléia fez reverência e pediu ao Patriarca que lhes deixasse ouvir os versos, que foram lidos como segue: Em todas as coisas não há nada real, Havendo ouvido estes versos, a assembléia fez reverência em um só corpo. Conforme os desejos do Patriarca, eles concentraram suas mentes para pôr estes versos em real prática, e se refrearam de cair em controvérsias religiosas. Vendo que o Patriarca faleceria no futuro próximo, o Monge-chefe, Fa Hai, depois de se prostrar duas vezes perguntou, "Senhor, após vossa entrada no Nirvana, quem será o herdeiro do manto e do Dharma?" "Todos os meus sermões", respondeu o Patriarca, "desde o tempo em que eu pregava no monastério Ta Fan, até hoje, podem ser copiados para divulgação em um tratado a ser intitulado 'Sutra Falado no Alto Assento do Tesouro da Lei' [Dharmaratha]. Cuidem bem dele e o transmitam de uma geração para outra para a salvação de todos os seres sensíveis. Aquele que fala de acordo com estes ensinamentos fala o Dharma Verdadeiro. Assim será com a transmissão do Dharma. Sobre a transmissão do manto, esta prática será descontinuada. Por que? Porque vós todos tendes fé implícita em meu ensino, e sendo livres de todas as dúvidas vós levareis a cabo o maior objetivo de nossa Escola. Além disso, de acordo com o significado profundo dos versos de Bodhidharma, o primeiro Patriarca, na transmissão do Dharma, o manto não tem necessidade de ser transmitido. Os versos dizem: O objeto de minha vinda para esta terra (i.e., a China) O Patriarca acrescentou, Virtuosa Audiência, purifiqueis vossas mentes e escuteis. Aquele que deseja atingir o Conhecimento Que Tudo Conhece de um Buda deveria compreender o 'Samadhi do Objeto Específico' e o 'Samadhi do Modo Específico'. Em todas as circunstâncias nós deveríamos nos libertar dos apegos aos objetos, e nossa atitude para com eles deveria ser neutra e imparcial. Não deixeis que nem o sucesso nem o fracasso, ganhos ou perdas, vos preocupe. Estejais tranqüilos e serenos, modestos e adaptáveis, simples e imparciais. Tal é o 'Samadhi do Objeto Específico'. Em todas as ocasiões, se estamos de pé, caminhando, sentados ou reclinados, sejamos absolutamente corretos. Então, permanecendo em nosso santuário, e sem o mínimo movimento, estaremos virtualmente no Reino da Terra Pura. Tal é o 'Samadhi de Modo Específico'. Aquele que está completo com estas duas formas de Samadhi pode ser comparado ao solo cujo interior está com sementes. Coberto com lama, as sementes recebem desta forma nutrição e crescem até a fruta amaduecer. Minha pregação para vós agora pode ser comparada à estação das chuvas, que traz umidade para uma vasta área de terra. A Natureza de Buda dentro de vós pode ser comparada à semente que, sendo umedecida pela chuva, crescerá rapidamente. Aquele que leva a cabo minhas instruções certamente atingirá a Bodhi. Aquele que segue meu ensinamento certamente alcançará o soberbo fruto (do Estado Búdico). Escuteis meus versos: As sementes-Buda ocultas em nossa mente Então ele acrescentou, "O Dharma é Não-dual e assim é a mente. O Caminho é puro e acima de todas as formas. Eu vos advirto não usar esses exercícios para meditação em silêncio ou para manter a mente ‘em branco’. A mente é por natureza pura, assim não há nada para se ambicionar ou do qual desistir. Esforçai-vos, e vão (difundir o ensino) onde quer que as circunstâncias vos levem." Pouco depois, os discípulos fizeram reverência e se retiraram. ______________________________________________ No oitavo dia da sétima Lua, o Patriarca deu uma súbita ordem aos seus discípulos para que se preparasse um barco para Hsin Chou (seu lugar de nascimento). Em um só corpo eles rogaram ardente e humildemente para que ficasse. "É natural que eu vá", disse o Patriarca, "pois a morte é o resultado inevitável do nascimento, e até mesmo os vários Budas que aparecem neste mundo têm de passar por uma morte terrestre antes de entrar em Parinirvana. Não pode haver exceção para meu corpo físico o qual deve repousar em algum lugar ". "Depois de sua visita a Hsin Chou, " pediu a assembléia, "por favor volte para cá em breve". "Folhas mortas voltam para onde sua raiz está, e quando eu vim primeiro, boca eu não tinha", respondeu o Patriarca. Então eles perguntaram, "Para quem, Senhor, transmitireis o Útero do Olho do Verdadeiro Dharma’?" "Homens de princípio o terão, e aqueles que estão livres de conceitos arbitrários o entenderão". Eles perguntaram mais adiante, "Irá qualquer calamidade sobre vós no futuro?" "Cinco ou seis anos depois de minha morte", respondeu o Patriarca, "um homem virá cortar minha cabeça. Eu fiz a seguinte profecia da qual, por favor, recordeis": Ao topo da cabeça do pai, são feitos oferecimentos, Ele acrescentou, "Setenta anos depois de minha partida dois Bodhisattvas do Leste, um leigo e o outro monge, irão falar contemporaneamente, disseminando a Lei amplamente, estabelecendo nossa Escola em uma base firme, renovando nossos monastérios e transmitindo a doutrina a numerosos sucessores". O senhor pode nos permitir conhecer por quantas gerações o Dharma foi transmitido, do aparecimento do Buda mais antigo até agora?", perguntaram os discípulos. "Os Budas que apareceram neste mundo são muitos para ser contados", respondeu o Patriarca. "Mas nos deixe começar dos últimos sete Budas. Eles são": E eu sou o 33º Patriarca (o sexto Patriarca na China). Assim o Dharma foi passado de um Patriarca para outro. Daqui por diante, meus discípulos sucessores, vós devereis transmiti-lo à posteridade, de uma geração para outra, de forma que a tradição possa ser mantida. ___________________________________________________ No terceiro dia da oitava Lua do ano de Kuei Chou, o segundo Ano da Era Hsien T'ien (A.D. 713), depois alimentar-se no Monastério Kuo En, o Patriarca dirigiu-se aos seus discípulos como segue: "Por favor, sentai-vos, pois eu vou me despedir". Logo após Fa Hai falou ao Patriarca, "Mestre, vós podeis deixar para a posteridade instruções exatas por meio das quais as pessoas sob ilusão possam perceber a natureza de Buda?" "Não é impossível", respondeu o Patriarca, "para estes homens perceber a Natureza de Buda, contanto eles se harmonizem com a natureza dos seres sensíveis comuns. Mas buscar o Estado Búdico sem tal conhecimento seria em vão até mesmo se a pessoa gastasse aeons de tempo na procura. Agora, irei mostrar-vos como se familiarizar com a natureza dos seres sensíveis dentro de vossas mentes, e assim perceber a Natureza de Buda oculta em vós. Conhecer Buda significa nada mais do que conhecer os seres sensíveis; sendo os últimos ignorantes de que são Budas em potencial, um Buda [ao contrário] não vê nenhuma diferença entre ele mesmo e os outros seres. Quando os seres sensíveis percebem a Essência da Mente, eles são Budas. Se um Buda está sob ilusão em sua Essência da Mente, ele é então um ser comum. Pureza na Essência da mente faz de seres comuns tornarem-se Budas. Impureza na Essência da Mente reverterá mesmo um Buda em um ser comum. Quando vossa mente está distorcida ou corrompida, sereis seres comuns com a Natureza de Buda em vós. Por outro lado, quando vós direcionais vossas mentes para a pureza e correção por até mesmo um momento, vós sereis um Buda. Dentro de nossa mente há um Buda, e aquele Buda interior é o Buda real. Se Buda não for buscado dentro de nossa mente, onde acharemos o real Buda? Não duvideis que aquele Buda está dentro de sua mente, fora da qual nada pode existir. Considerando que todas as coisas ou fenômenos são a produção de nossa mente, o Sutra diz, 'Quando a atividade mental começa, coisas vem a existir; quando a atividade mental cessa, as coisas deixam igualmente de existir. ' Ao separar-me de vós, ireis vos legar versos intitulados 'O Buda Real da Essência da Mente'. Em futuras gerações, os que entenderem seu significado perceberão a Essência da Mente e atingirão o Estado Búdico. Assim são os versos:" A Essência da Mente ou Tathata (Assim Ser) é o Buda real, Tendo recitado estes versos, ele acrescentou, "Cuidem-se. Depois de minha passagem, não caiam nos hábitos mundanos, chorando e lamentado. Nem mensagens de condolência devem ser aceitas, nem luto ser usado. Estas coisas são contrárias ao Ensino Correto, e aquele que as faz não é meu discípulo. O que vós deveis fazer é conhecer vossas próprias mentes e perceber vossas próprias Naturezas de Buda que nem descansa nem se move, não nasce nem deixa de existir, não vem nem vai, não afirma nem nega, não fica nem parte. Para que vossas mentes não sucumbam à ilusão e assim não capteis o [correto] significado, eu repito estas palavras para permitir-vos perceber vossa Essência da Mente. Depois de minha morte, se levais a cabo minha instrução e a praticardes adequadamente, o fato de meu ser estar longe de vós não fará diferença. Por outro lado, se vós fordes contra meu ensino, nenhum benefício seria obtido, até mesmo se eu continuasse aqui ". Então ele proferiu outros versos: Imperturbável e sereno, o homem ideal não pratica nenhuma virtude. Havendo articulado tais versos, ele se sentou reverentemente até a terceira hora da noite. Então, abruptamente disse aos seus discípulos, "Parto agora", e rapidamente faleceu. Uma fragrância peculiar penetrou seu quarto, e um arco-íris lunar surgiu, parecendo unir terra e céu. As árvores na floresta empalideceram, e os pássaros e feras choraram tristemente. Na décima primeira Lua daquele ano a controvérsia sobre em qual lugar o corpo do Patriarca descansaria deu lugar a uma disputa entre os funcionários governamentais de Kuang Chou, Shao Chou e Hsin Chou, cada grupo ansioso por ter os restos do Patriarca removidos para seu próprio distrito. Os discípulos do Patriarca, junto com outros monges e leigos, tomaram parte na controvérsia. Estando impossibilitados de chegar a qualquer acordo entre eles, eles queimaram incenso e rezaram ao Patriarca para que ele indicasse na direção do vento da fumaça o lugar que ele escolheria. Como a fumaça virou diretamente a Ts'ao Ch'i, o santuário (no qual o corpo foi mantido) junto com o manto herdado e a tigela, foi levado de volta adequadamente para lá no 13º dia da 11ª Lua. No ano seguinte, no 25º dia da sétima Lua, o corpo foi tirado do santuário, e Fang Pien, um discípulo do Patriarca, emplastou-o com barro perfumado. Recordando a predição do Patriarca que alguém cortaria sua cabeça, os discípulos, como precaução, envolveram seu pescoço com aros de ferro e panos envernizados antes do corpo ser colocado no stupa. De repente, um raio de luz branca saiu do stupa, foi diretamente para o céu, e não se dispersou até três dias depois. O incidente foi informado apropriadamente ao Trono pelos funcionários do Distrito de Shao Chou. Através de ordem imperial, foram erguidas tábuas registrando a vida do Patriarca. O Patriarca herdou o manto quando tinha 24 anos, teve o cabelo raspado (i.e., foi ordenado) aos 39, e morreu à idade de 76. Durante trinta e sete anos ele pregou para o benefício de todos os seres sensíveis. Quarenta e três dos seus discípulos herdaram o Dharma, e através de seu consentimento expresso se tornaram seus sucessores; aqueles que atingiram o esclarecimento e assim saíram do plano de homens comuns eram muito numerosos para serem contados. O manto transmitido por Bodhidharma como insígnia do Patriarcado, o manto Mo Na e a tigela de cristal presenteadas pelo Imperador Chung Tsung, a estátua do Patriarca feita por Fang Pien, e outros artigos sagrados, foram postos sob responsabilidade do guardião do stupa. Eles seriam mantidos permanentemente no Monastério Pao Lin para guardar o bem-estar do templo. O Sutra falado pelo Patriarca foi publicado e divulgado para tornar conhecido os princípios e objetivos da Escola do Dharma. Todos estes passos dados pela prosperidade das Três Jóias (i.e., Buda, Dharma, e Sangha) assim como para o bem-estar geral de todos os seres sensíveis. Fim do Sutra |