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SUTRA DE HUI-NENG - SUTRA DA PLATAFORMA
Capítulo IX. Patronato Real
O Sutra do VI Patriarca Hui-Neng
NO ALTO ASSENTO "DO TESOURO DO DHARMA"
Traduzido ao Inglês por A.F.Price e Wong Mou-Lam
Traduzido ao Português por Cláudio Miklos


Um édito datado do 15º dia da primeira Lua do primeiro ano de Shen lung, emitido pela Imperatriz Herdeira Tse T’ien e o Imperador Chung Tsung determina como segue:

"Desde que nós convidamos os Grandes Mestres Hui An e Shen Hsiu para residir no palácio e receber nossos oferecimentos, estudamos o ‘ Veículo de Buda ‘ sob seus cuidados sempre que podíamos encontrar tempo após atender aos nossos deveres imperiais. Através de extrema modéstia, recomendaram-nos estes dois Mestres que deveríamos buscar os conselhos do Mestre do Dhyana Hui Neng do Sul o qual esotericamente herdou o Dharma e o manto do Quinto Patriarca assim como o ‘Selo do Coração’ do Senhor Buda.

"Nós enviamos o eunuco Hsueh Chien como mensageiro deste Édito para convidar Sua Santidade a vir, e confiamos que Sua Santidade irá graciosamente nos favorecer com uma breve visita à capital".

Preso a grave enfermidade, o Patriarca enviou uma resposta recusando o convite real e pedindo para ser permitido passar seus anos restantes ‘na floresta’.

"Conhecedores do Dhyana na capital", disse Hsueh Chien (quando se entrevistava com o Patriarca), "unanimemente aconselham às pessoas que meditem na posição sentada para atingir o Samadhi. Eles dizem que este é o único modo de perceber o Dharma [o Tao], e que é impossível para qualquer um obter a liberação sem passar por exercícios de meditação. Eu posso saber o seu modo de ensino, Senhor?"

"O Tao será percebido pela mente", respondeu o Patriarca, "e não depende da posição sentada. O Sutra do Diamante diz que é errado qualquer um afirmar que o Tathagata vem ou vai, senta-se ou se reclina. Por que? Porque o ‘Dhyana da Pureza’ do Tathagata não implica nem em vir de qualquer lugar nem em ir para qualquer lugar, nem ser criado nem causar [a criação de algo]. Todos os Dharmas são tranqüilos e vazios, e isto é o ‘ Assento de Pureza ‘ do Tathagata. Falando-se estritamente, não há nem mesmo esta coisa chamada ‘realização’; por que então nós deveríamos nos preocupar com a posição sentada?"

"Em meu retorno", Hsueh Chien disse, "suas Majestades me pedirão certamente que faça um relatório. Poderíeis, Mestre, amavelmente me dar algumas sugestões essenciais sobre vosso ensino, de forma possa fazê-lo conhecido não só as Suas Majestades, mas também a todos os estudiosos budistas na capital? Como a chama de uma Lâmpada pode iluminar centenas ou milhares de outros, assim o ignorante será iluminado (por vosso ensino), e a luz produzirá um brilho eterno".

"O Tao não implica nem na iluminação nem na escuridão", respondeu o Patriarca. "Luz e escuridão significam a idéia de alternação. (Não está correto dizer) aquela luz produzirá brilho sem fim, porque haverá [invariavelmente] um fim, desde que luz e escuridão são um par de opostos. O Vimalakirti Nirdesa Sutra diz, ‘ O Tao não tem nenhuma analogia, desde que não é um termo relativo’."

"Luz significa sabedoria", Hsueh Chien declarou, "e escuridão significa klesa (corrupção). Se um trilhador do Caminho não separa klesa com a força de sabedoria, como ele vai se livrar da ‘roda de nascimento e morte’ que não tem início?"

"Klesa é Bodhi", retrucou o Patriarca. "Os dois são o mesmo e não diferentes. Transcender klesa através da sabedoria é o ensino da Escola Sravaka (aspirantes a Arhat) e a Escola dos Pratyeka Buda, cujos seguidores são do ‘Veículo da Cabra’ e ‘Veículo do Cervo’ respectivamente. Para aqueles de disposição mental mais aguda tal ensino não seria muito útil".

"Qual então seria o ensino da Escola Mahayana?" Hsueh Chien perguntou.

"Do ponto de vista de homens comuns", respondeu o Patriarca, "esclarecimento e ignorância são duas coisas separadas. Homens sábios que percebem plenamente a Essência da Mente sabem que aqueles são da mesma natureza. Esta mesma natureza, ou natureza Não-dual, é o se chama de ‘natureza genuína’, a qual nem diminui no caso de homens comuns e pessoas ignorantes, nem aumenta no caso dos sábios iluminados; a qual não é perturbada em um estado de tensão, nem se tranqüiliza em um estado de Samadhi. Não é eterna nem Não-eterna; nem vai nem vem; não será achada no exterior, nem no interior, nem no espaço entre os dois. Está além da existência e Não-existência; sua natureza e seus fenômenos sempre estão em um estado de ‘Assim Ser’ [Tathata]; é permanente e imutável. Assim é o Tao".

Hsueh Chien perguntou, "Diz o senhor que [aquilo] está além da Existência e Não-existência. Como o senhor o diferencia então do ensino realizado por caminhos diferentes?"

"No ensino de outros caminhos", respondeu o Patriarca, ‘Não-existência’ significa o fim da ‘Existência’, enquanto ‘existência’ é usada em contraste a ‘Não-existência ‘. O que eles querem dizer com ‘Não-existência’ não é de fato uma aniquilação, e o que eles chamam ‘existência’ realmente não existe. O que eu quero dizer com ‘acima da existência e da Não-existência’ é isto; intrínsecamente não existe, e no momento presente não poderá ser aniquilado. Tal é a diferença entre meu ensino e o de outros caminhos".

"Se tu desejas saber os pontos essenciais de meu ensino, deveria se livrar de todos os pensamentos, bons assim como também ruins; então tua mente estará em estado de pureza, tranqüila e serena todo o tempo, e seu valor [da mente] será tão variado quanto os grãos de areia do Ganges".

A pregação do Patriarca despertou Hsueh Chien para o pleno esclarecimento. Ele fez reverência e despediu-se do Patriarca. Ao retornar para o palácio, ele informou o que o Patriarca havia dito as Suas Majestades.

Naquele mesmo ano, no terceiro dia da Nona Lua, um édito foi emitido elogiando o Patriarca da seguinte forma:

"Devido a sua idade avançada e pobre saúde, o Patriarca recusou nosso convite para vir à capital. Dedicando sua vida à prática do Budismo para nosso benefício, ele realmente é o ‘campo de mérito’ da nação. Seguindo o exemplo de Vimalakirti, ele divulga o ensinamento Mahayana amplamente, transmitindo a doutrina da Escola Dhyana, e expõe o sistema de Dharma ‘Não-dual’".

"Por intermédio de Hsueh Chien", a quem deu o Patriarca o ‘Conhecimento Búdico’, somos afortunados o bastante para ter uma chance de entender por nós mesmos o ensino do Veículo Supremo. Isto deve ser devido aos nossos méritos acumulados e a ‘raiz de bondade’ plantada em vidas passadas; caso contrário, nós não poderíamos ser contemporâneos de Sua Santidade."

"Em apreciação pela graciosidade do Patriarca, dificilmente encontramos palavras para expressar nossa gratidão, (mas como dádiva pelo nosso apreço por ele) nós lhe presenteamos com o manto Mo Na (uma valiosa vestimenta budista feita na Coréia) e uma tigela de cristal. O Magistrado de Shao Chou foi, portanto, ordenado a reestruturar seu monastério e converter sua antiga residência em um templo que será chamado ‘Kuo En’ (Bondade Imperial)."


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