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SUTRA DE HUI-NENG - SUTRA DA PLATAFORMA Capítulo VII. Transformações e Afinidades O Sutra do VI Patriarca Hui-Neng NO ALTO ASSENTO "DO TESOURO DO DHARMA" Traduzido ao Inglês por A.F.Price e Wong Mou-Lam Traduzido ao Português por Cláudio Miklos (Instruções dadas de acordo com o temperamento dos discípulos e para as circunstâncias do caso) No retorno do Patriarca para a aldeia de Ts’ao Hou em Shao Chou de Huang Mei onde o Dharma lhe havia sido transmitido, ele era ainda uma figura desconhecida, e lá havia um estudioso Confucionista chamado Liu Chih-Lueh que lhe deu calorosas boas-vindas. Chih-Lueh tinha uma tia chamada Wu Chin-Tsang que era uma bhikkhuni (uma monja da Ordem), e que costumava recitar o Maha Parinirvana Sutra. Depois de ouvir sua recitação por um só instante o Patriarca captou todo o seu profundo significado e começou a explicar para ela. Ao que, ela apanhou o livro e lhe perguntou o significado de certas palavras. "Eu sou analfabeto," ele respondeu, "mas se tu desejas saber o sentido deste trabalho, por favor pergunte". "Como o senhor pode captar o significado do texto," ela replicou, "quando nem mesmo sabe as palavras?" A isto ele respondeu, "A profundidade dos ensinamentos dos vários Budas não tem nada a ver com a palavra escrita". Esta resposta a surpreendeu muito, e percebendo que ele não era nenhum bhikkhu comum, ela fez conhecer sua presença extensamente para os mais piedosos anciãos da aldeia. "Este é um homem santo," ela disse, "nós deveríamos lhe pedir que ficasse, e conseguir sua permissão para o prover com alimento e abrigo". Ao que, um descendente do Marquês Wu da Dinastia de Wei, chamado Ts’ao Shu-Liang, veio uma tarde com outros aldeãos prestar homenagem ao Patriarca. O histórico monastério Pao Lin, devastado pela guerra ao término da Dinastia Sui, estava então reduzido a um monte de ruínas, mas no velho sítio eles o reconstruíram e pediram ao Patriarca que lá habitasse. Pouco depois, o local tornou-se um templo muito famoso. Depois de ficar lá durante nove meses, seus inimigos o localizaram e o perseguiram mais uma vez. Então ele buscou refúgio em uma colina nas cercanias. Os vilões então atearam fogo na floresta (onde ele estava escondido), mas ele escapou encontrando uma saída sob uma pedra. Esta pedra, a qual é conhecida como ‘Pedra do Refúgio’, tem desde então as impressões dos joelhos do Patriarca na posição agachada e também as impressões da textura de seu manto. Recordando a instrução de seu mestre, o Quinto Patriarca, de que deveria parar em Huai e deveria se recolher em Hui, ele fez destes dois distritos seus lugares de retiro. Bhikkhu Fa Hai, um nativo de Chu Kiang de Shao Chow, em sua primeira entrevista com o Patriarca perguntou o significado da famosa declaração, ‘O que a mente é, Buda é.’ O Patriarca respondeu, "não permitir um pensamento passageiro retornar é ‘Mente’. Não permitir que o pensamento a surgir seja aniquilado é Buda. Manifestar todos os tipos de fenômenos é ‘Mente’. Estar livre de todas as formas (i.e., perceber a irrealidade dos fenômenos) é Buda. Se eu fosse dar-te uma plena explicação, o tema não seria esgotado nem mesmo se eu levasse um kalpa inteiro. Portanto, ouça os meus versos:" Prajna significa ‘O que a Mente é’, Samadhi significa ‘O que Buda é’. Ao praticar Prajna e Samadhi, deixai cada um manter o ritmo com o outro; Então nossos pensamentos serão puros. Este ensinamento pode ser entendido apenas através do ‘hábito da prática’. Samadhi funciona, mas inerentemente ele não se transforma. O ensino correto é praticar Prajna assim como Samadhi. Após ouvir o que o Patriarca disse, Fa Hai imediatamente ficou esclarecido. Ele louvou o Patriarca com os seguintes versos: ‘O que a Mente é, Buda é’, eis uma verdade, sem dúvida! Mas eu vergonhosamente não entendia isto. Agora eu conheço a causa principal de Prajna e Samadhi A ambos praticarei para me tornar livre de todas as formas.
Bhikkhu Fa Ta, um nativo de Hung Chou que se uniu à Ordem na tenra idade de sete anos, costumava recitar o Sadarma Pundarika Sutra (Sutra do Lótus da Boa Lei). Quando foi prestar homenagem ao Patriarca, ele não abaixou sua cabeça até o solo. Devido a esta abreviada cortesia, o Patriarca reprovou-o dizendo, "Se tu te recusas a abaixar até o solo, não seria melhor deixares de fazer a saudação de uma vez? Deve haver algo em tua mente que te faz tão cheio de si. Diga-me o que fazes em teu exercício diário". "Eu recito o Sadarma Pundarika Sutra", respondeu Fa Ta. "Eu li três mil vezes seu texto inteiro!" "Houvesse tu captado o significado do Sutra", comentou o Patriarca, "não terias assumido tal soberba, até mesmo se o lesses dez mil vezes. Se houvesse compreendido o texto, estarias trilhando o mesmo Caminho que o meu. O que tu realizaste fez de ti alguém convencido e, além disso, não pareces perceber que isto está errado. Escutes meus versos:". Uma vez que o objetivo do ritual é restringir a arrogância Por que não abaixaste tua cabeça até o solo? ‘Acreditar em um ego’ é a fonte do erro, Mas tratar toda a realização como ‘Vazio’ atinge um mérito incomparável! O Patriarca pediu seu nome então, e ao saber que este era Fa Ta (que significa Entender a Lei) comentou, "Teu nome é Fa Ta, mas, contudo não foste capaz de compreender a Lei". Ele concluiu criando outros versos: Teu nome é Fa Ta. Diligentemente e sem desistir recitas o Sutra. Repetição do texto através dos lábios só serve para a verbalização, Mas aquele cuja mente ilumina-se ao captar o significado, realmente é um Bodhisattva! Por causa de Pratyaya (condições que produzem os fenômenos) em nossas vidas passadas Eu explicarei a ti. Se tu apenas acreditares que o Buda não fala nenhuma palavra, Então o Lótus irá florescer em tua boca. Tendo ouvido estes versos, Fa Ta arrependeu-se e se desculpou com o Patriarca. Ele também acrescentou, "Daqui por diante, serei humilde e cortês em todas as ocasiões. Como eu não entendo totalmente o significado do Sutra que recito, tenho dúvidas sobre sua interpretação formal. Com vosso conhecimento profundo e grande sabedoria, vós amavelmente me concedereis uma pequena explicação?" O Patriarca respondeu, "Fa Ta, o Dharma é bastante claro; é tua mente que não está clara. O Sutra é livre de passagens duvidosas; é apenas tua mente que as faz duvidosas. Recitando o Sutra, sabes seu objetivo principal?" "Como eu posso saber, Senhor", Fa Ta respondeu, "sendo tão confuso e estúpido? Tudo que sei é como recitá-lo palavra por palavra". O Patriarca disse então, "Tu irás por favor recitar o Sutra, uma vez que eu não posso lê-lo. Eu então explicarei o seu significado a ti." Fa Ta recitou o Sutra, mas quando chegou ao capítulo intitulado ‘Parábolas’ o Patriarca o parou e disse, "O ponto-chave deste Sutra é esclarecer a meta e o objetivo da encarnação de um Buda neste mundo. Embora parábolas e ilustrações sejam numerosas neste livro, nenhuma delas vai além deste ponto principal. Agora, qual é este objetivo? Qual a sua meta? O Sutra diz, ‘é exclusivamente para um objetivo, uma única meta, verdadeiramente um alto objetivo e uma grande meta que um Buda aparece neste mundo.’ Agora, este único objetivo, esta única meta, este alto objetivo, esta grande meta refere-se à ‘visão’ do Conhecimento Búdico". "Pessoas comuns se prendem externamente aos objetos; e internamente, elas sucumbem à idéia errada de ‘vacuidade’. Quando elas são capazes de se livrar do apego aos objetos quando em contato com os objetos, e se livrar da enganadora visão de aniquilação na doutrina do ‘Vazio’ elas estarão livres de ilusões internas e de ilusões externas. Aquele que entende isto e cuja mente torna-se iluminada num instante, é dito que tem abertos seus olhos para a visão do Conhecimento Búdico". "A palavra ‘Buda’ é equivalente a ‘Esclarecimento’ o qual pode ser considerado (como no Sutra) sob quatro tópicos:" Abrir os olhos para a visão do Conhecimento Esclarecedor. Expor a visão do Conhecimento Esclarecedor. Despertar a visão do Conhecimento Esclarecedor. Ficar firmemente estabelecido no Conhecimento Esclarecedor. "Sendo capazes, ao sermos ensinados, de captar e compreender completamente o ensinamento do Conhecimento Esclarecedor, então nossa inerente qualidade ou verdadeira natureza, i.e., o Conhecimento Esclarecedor, terá uma oportunidade de se manifestar. Tu não deverias interpretar equivocadamente o texto, e chegar à conclusão de que o Conhecimento Búdico é algo especial a Buda e não comum a todos nós por acontecer de encontrares no Sutra esta passagem, ‘abrir os olhos para a visão do Conhecimento Búdico, mostrar a visão do Conhecimento Búdico, etc.’ Tal errônea interpretação seria uma calúnia ao Buda e uma blasfêmia ao Sutra. Sendo um Buda, ele já está de posse deste Conhecimento Esclarecedor e não há nenhuma necessidade de abrir seus olhos para isto. Tu deves então aceitar a interpretação de que este Conhecimento Búdico é o Conhecimento Búdico de tua própria mente e não o de outro Buda." "Estando seduzidos por objetos-de-sensação, e assim fechando-se para suas próprias luzes, todos os seres sensíveis, atormentados por circunstâncias externas e aflições internas, agem voluntariamente como escravos dos próprios desejos. Vendo isto, nosso Senhor Buda precisou sair de seu Samadhi para exortar os seres com vários tipos de profundos discursos a suprimir seus desejos e se abster de buscar a felicidade [apenas] externamente, de forma que poderiam se tornar iguais ao Buda. Por isto o Sutra diz, ‘abrir os olhos para a visão do Conhecimento Búdico, etc.’". "Eu constantemente aconselho às pessoas que abram seus olhos para o Conhecimento Búdico dentro de suas mentes. Mas perversamente elas cometem erros sob ilusão e ignorância; elas são amáveis em palavras, mas falsos em mente; elas são avaras, malignas, ciumentas, tortuosas, bajuladoras, egoístas, ofensivas aos homens e destrutivas aos objetos inanimados. Assim, elas abrem os seus olhos [apenas] para o ‘Conhecimento das Pessoas Comuns’. Se forem capazes de retificar seus corações, de forma que a sabedoria surja continuamente, suas mentes estariam sob a introspecção [profunda], e os atos demeritórios seriam substituidos pela prática do bem; então elas se iniciariam no Conhecimento Búdico." "Tu deves então de momento a momento abrir teus olhos, não para o ‘Conhecimento das Pessoas Comuns’ mas para o Conhecimento Búdico que é supramundano enquanto o anterior é [simplesmente] do mundo. Por outro lado, se tu te apegas ao conceito de que a mera recitação (do Sutra) como um exercício diário é suficiente, então tu irás te seduzir como o Yaque por seu próprio rabo." (Os Yaques são conhecidos por ter uma opinião muito alta de seus próprios rabos.) Fa Ta disse então, "Se é assim, nós devemos apenas saber o significado do Sutra e não haveria nenhuma necessidade recitá-los. Isto é certo, Senhor?" "Não há nada errado com o Sutra," respondeu o Patriarca, "para que tu te abstenhas de recitá-lo. Se a recitação do Sutra iluminar-te-á ou não, ou te beneficiará ou não, tudo depende de ti. Aquele que recita o Sutra com a língua e põe o ensinamento realmente em prática com a mente ‘gira’ o Sutra. Aquele que o recita sem pôr em prática é ‘girado’ pelo Sutra. Escute meus versos:" "Quando nossa mente está sob ilusão, o Sadarma Pundarika Sutra ‘nos faz girar’. Ao contrário, com uma mente iluminada nós ‘giramos’ o Sutra. Recitar o Sutra durante um tempo considerável sem saber seu principal objetivo Indica que tu és estranho ao seu significado. O modo correto de recitar o Sutra está em não se prender a qualquer crença arbitrária; Caso contrário, será um erro. Aquele que está acima do ‘Afirmativo’ ou ‘Negativo’ Conduz permanentemente a Carruagem do Boi Branco (o Veículo de Buda)." Tendo ouvido estes versos, Fa Ta foi iluminado e conduzido às lágrimas. "É a mais completa verdade," ele exclamou, "que antes estava impossibilitado de ‘girar’ o Sutra. Na verdade, o Sutra é que me ‘girava’". Ele então levantou outra questão. "O Sutra diz, ‘Dos Sravakas (os discípulos) até aos Bodhisattvas, mesmo se eles especulassem com esforços combinados, estariam impossibilitados de compreender o Conhecimento Búdico.’ Mas vós me destes a entender que se um homem comum percebe sua própria mente, é dito que ele atingiu o Conhecimento Búdico. Eu tenho medo, Senhor, de que com exceção daqueles possuidores de disposições mentais superiores, os outros possam duvidar de vossa observação. Além disso, são mencionados três tipos de Carruagens no Sutra, que são: Carruagens conduzidas por cabras (i.e., o veículo dos Sravakas), Carruagens conduzidas por cervos(o veículo dos Pratyeka Budas), e Carruagens conduzidas por bois (o veículo dos Bodhisattvas). Quem serão estes a ser distinguidos com o privilégio da Carruagem do Boi Branco? O Patriarca respondeu, "O Sutra é bastante simples neste ponto; foste tu que entendeste mal. A razão de Sravakas, Pratyeka Budas e Bodhisattvas não poderem compreender o Conhecimento Búdico é porque especulam sobre isto. Eles podem combinar seus esforços para especular, mas quanto mais eles especulam, mais longe estão da verdade. Foi para homens comuns, não para outros Budas, que Gautama Buda pregou este Sutra. Aos que não puderam aceitar a doutrina exposta, ele lhes permitiu deixar a assembléia. Tu não pareces perceber que uma vez já montado na Carruagem do Boi Branco (o veículo dos Budas), não há nenhuma necessidade de procurarmos os outros três veículos. Além disso, o Sutra fala claramente que apenas o Veículo de Buda existe, e nenhum outro veículo além daquele, como um segundo ou terceiro. É em prol deste único veículo que Buda falou a nós de inumeráveis formas hábeis e usando várias afirmações e argumentos, parábolas e ilustrações, etc. Por que tu não podes entender que os outros três veículos são substitutos, feitos apenas para o passado; enquanto que o único veículo, o Veículo de Buda, é o definitivo, feito para o presente?" "O Sutra ensina a dispensar os substitutos e recorrer ao definitivo. Havendo recorrido ao último, tu perceberás que até mesmo o nome ‘último’ desaparecerá. Tu deves perceber que tu és o exclusivo possuidor destas preciosidades e elas estão completamente sujeitas a teu usufruto. (1) Quando tu te livras da arbitrária concepção de que elas estão a disposição do pai, ou do filho, ou que elas estão a disposição daquele ou de algum outro, pode-se dizer que tu terás aprendido o jeito certo de recitar o Sutra. Neste caso de kalpa para kalpa o Sutra estará em suas mãos, e de manhã à noite tu estarás recitando o Sutra todo o tempo." Sendo assim despertado, Fa Ta louvou o Patriarca, em um momento de grande alegria, com os seguintes versos: A ilusão de que atingi grandes méritos recitando o Sutra três mil vezes Foi completamente dispersada por uma declaração do Mestre de Ts’ao Ch’i (i.e., o Patriarca). Aquele que não entendeu o objetivo do surgimento de um Buda neste mundo É incapaz de suprimir as paixões selvagens acumuladas em muitas vidas. Os três veículos puxados pela cabra, cervo e boi respectivamente, são apenas substitutos, Enquanto que as três fases, Preliminar, Intermediária, e Final na qual o Dharma correto é exposto estão muito bem posicionadas, em verdade! Quão pouco percebido é que, dentro da própria casa em chamas (i.e., a existência mundana), O Rei do Dharma será achado! O Patriarca então lhe disse que dali em diante ele poderia se chamar um ‘Bhikkhu que recita o Sutra’. Após aquela entrevista Fa Ta buscou compreender o profundo significado do Budismo, entretanto ele continuou recitando o Sutra como antes. Bhikkhu Chih Tung, um nativo de Shao Chou de An Feng havia lido mil vezes o Lankavatara Sutra, mas ele não pôde entender o significado dos Trikaya e os quatro Prajnas. Portanto, solicitou a ajuda do Patriarca. "Sobre os Três Corpos", explicou o Patriarca, "o puro Dharmakaya é tua (essencial) natureza; o Perfeito Sambhogakaya é tua sabedoria; e a miríade de Nirmanakayas são tuas ações. Se tu lidas com estes Três Corpos distante da Essência da Mente, eles serão ‘corpos sem sabedoria’. Se percebes que estes Três Corpos não têm nenhuma essência positiva em si mesmos (porque eles são apenas parte da Essência da Mente), atinges o Bodhi dos quatro Prajnas. Escute meu poema: Os Três Corpos são inerentes à nossa Essência da Mente, E através do desenvolvimento deles os quatro Prajnas são manifestados. Assim, sem fechar seus olhos e suas orelhas para te manteres afastado do mundo externo, tu és capaz de alcançar diretamente o Estado Búdico. Agora que eu tornei isto mais claro para ti acredite firmemente, e tu ficarás para sempre livre de ilusões. Não siga esses que buscam o Esclarecimento fora de si; Estas pessoas falam sobre Bodhi todo o tempo (mas eles nunca o encontram). "Eu posso saber algo sobre os quatro Prajnas?" Chih Tung perguntou. "Se entendes os Três Corpos", respondeu o Patriarca, "tu deverias entender os quatro Prajnas igualmente; portanto, tua pergunta é desnecessária. Se tu lidas com os quatro Prajnas distantes dos Três Corpos, haveriam Prajnas sem corpos, e neste caso eles não seriam Prajnas". O Patriarca proferiu então outro poema: A Sabedoria-igual-ao-Espelho é pura por natureza. Os primeiros cinco vijnanas (a consciência dependente respectivamente dos cinco órgãos de sensação) e o Alayavijnana (Arquivo ou Consciência Universal) são ‘transmutados’ para Prajna no Estágio de Buda; enquanto o klista-mano-vijnana (consciência enraizada na mente ou autoconsciência) e o mano-vijnana (consciência de pensamento), são transmutados na fase de Bodhisattva. (2) Estas assim-chamadas ‘transmutações de vijnana’ são apenas modos de dizer e não [representam] uma mudança de substância.(3) Quando tu puderes te livrar completamente do apego aos objetos-sensação no momento em que estas assim-chamadas ‘transmutações’ acontecerem, tu irás habitar no sempre-presente Naga (dragão) Samadhi. (Ao ouvir isto), Chih Tung subitamente percebeu o Prajna em sua Essência da Mente e ofereceu os seguintes versos ao Patriarca: Intrinsecamente, os três Corpos estão em nossa Essência da Mente. Quando nossa mente é iluminada, os quatro Prajnas aparecerão em seu interior. Quando Corpos e Prajnas identificam-se absolutamente entre si Nós poderemos responder (conforme os seus temperamentos e disposições) aos anseios de todos os seres, não importa que formas eles possam assumir. Começar buscando os Trikaya e os quatro Prajnas é tomar um caminho completamente errado (por ser inerentes a nós eles devem ser percebidos e não procurados). Tentar ‘capturar’ ou ‘confinar’ a estes, é ir contra sua intrínseca natureza. Graças a ti, Senhor, eu posso agora captar a profundidade do significado [destes termos], E daqui em diante eu posso descartar para sempre seus falsos e arbitrários nomes. (Nota: havendo captado o espírito de um ensinamento, a pessoa pode dispensar os termos usados, uma vez que todos os nomes são apenas subterfúgios). Bhikkhu Chih Ch’ang, um nativo de Kuei Ch’i de Hsin Chou, uniu-se à Ordem na infância, e era muito zeloso em seus esforços de perceber a Essência da Mente. Um dia, foi prestar homenagem ao Patriarca, e foi perguntado pelo último de onde e por que ele tinha vindo até a sua presença. "Eu estive recentemente na Montanha do Precipício Branco em Hang Chou", respondeu ele, "entrevistando-me com o Mestre Ta T’ung que foi muito bondoso em me ensinar como perceber a Essência da Mente e assim atingir o Estado Búdico. Mas como eu ainda tenho algumas dúvidas, viajei de longe para vos prestar respeito. Vós amavelmente poderíeis esclarecer tais dúvidas para mim?" "Que instrução deu ele a ti?" Perguntou o Patriarca. "Depois de ficar lá durante três meses sem receber qualquer instrução, e sendo zeloso com o Dharma, eu fui sozinho até o seu quarto uma noite e lhe perguntei sobre a natureza de minha Essência da Mente. ‘Tu percebes o ilimitável vazio?’ ele perguntou. ‘Sim, eu percebo,’ respondi. Então ele me perguntou se o vazio tinha qualquer forma particular, e quando eu disse que o vazio é sem forma e portanto não pode ter nenhuma forma particular, ele disse, ‘Tua Essência da Mente é como o vazio. Perceber que nada pode ser visto é a ‘Correta Visão’. Perceber que nada é passível de conhecimento é o ‘Verdadeiro Conhecimento’. Perceber que isto não é nem verde nem amarelo, nem longo nem curto, que é por natureza puro, que sua quintessência é perfeita e clara, é ‘perceber a Essência da Mente e assim atingir o Estado Búdico’, que também é chamado o Conhecimento Búdico.’ Como eu não entendi totalmente este ensinamento, vos peço que me ilumine, Senhor". "O ensino indica", disse o Patriarca, "que ele ainda retém os conceitos arbitrários de visões e conhecimentos, e isto explica por que ele não tornou a explicação mais clara para ti. Escute os meus versos": Perceber que nada pode ser visto, mas manter o conceito de ‘invisibilidade’ É como a superfície do sol obscurecida pelas nuvens que passam. Perceber que nada é passível de conhecimento, mas reter o conceito de ‘desconhecimento’ Pode ser comparado a um céu claro desfigurado por um raio. Deixar estes conceitos arbitrários surgirem espontaneamente em tua mente indica que tens erroneamente identificado a Essência da Mente, e que não tens ainda encontrado as melhores formas de perceber isto. Se tu percebes por um instante que estes arbitrários conceitos estão errados, Tua própria luz espiritual brilhará permanentemente. Tendo ouvido isto, Chih Ch’ang imediatamente sentiu que sua mente foi iluminada. Logo após, ele ofereceu os seguintes versos ao Patriarca: Permitir os conceitos de invisibilidade e desconhecimento surgirem na mente espontaneamente É buscar Bodhi sem livrar a si mesmo dos conceitos dos fenômenos. Aquele que se envaidece pela mais leve impressão de que, ‘estou agora iluminado, ‘ Não está melhor do que aquele que vive sob a delusão. Se eu não houvesse me posto aos pés do Patriarca, teria me mantido em um estado confuso sem saber o modo correto de seguir [o Caminho]. Um dia, Chih Ch’ang perguntou para o Patriarca, "Buda pregou a doutrina dos ‘Três Veículos’ e também de um ‘Veículo Supremo’. Como a isto não entendo, vós podeis, por favor, explicar-me?" O Patriarca respondeu, "(Tentando entender isto), tu deves introspectar tua própria mente e agir independentemente das coisas e fenômenos. A distinção destes quatro veículos não existe no próprio Dharma, mas sim na diferenciação das mentes das pessoas. Ver, ouvir, e recitar o sutra são o Pequeno Veículo. Conhecer o Dharma e entender seu significado é o Médio Veículo. Pôr o Dharma em prática real é o Grande Veículo. Entender todos os Dharmas completamente, os haver absorvido completamente de forma de nos libertarmos de todos os apegos, estar acima dos fenômenos, e não estar em posse de nada, é o Supremo Veículo. "Desde que a palavra ‘ yana ‘ (veículo) implica ‘ movimento ‘ (i.e., pôr em prática), discutir este ponto é bastante desnecessário. Tudo depende da prática pessoal, portanto tu não precisas me perguntar mais sobre isso. (Mas eu devo recordar-te que) a toda hora a Essência da Mente está em um estado de ‘ Assim Ser’." Chih Ch’ang fez reverência e agradeceu ao Patriarca. Desde então, ele agiu como seu auxiliar até a morte do Mestre. Bhikkhu Chih Tao, um nativo de Nan Hai de Kwang Tung, veio ao Patriarca para instrução e disse, "Desde que eu me uni à Ordem, tenho estudado o Maha Parinirvana Sutra por mais de dez anos, contudo eu não tenho captado seu sentido principal". Por favor, podeis me ensinar?" "Qual parte tu não entendes?" Perguntou o Patriarca. "É sobre esta parte, Senhor, que estou duvidoso: ‘Todas as coisas são impermanentes, e assim elas pertencem ao Dharma do Surgimento e Cessação (i.e., Samskrita Dharma). Quando o Surgimento e a Cessação deixam de operar, a felicidade do Perfeito Descanso e do Fim das Mudanças (i.e., Nirvana) surge." "O que te faz duvidar?" Perguntou o Patriarca. "Todos os seres têm dois corpos - o corpo físico e o Dharmakaya," Chih Tao respondeu. "O primeiro é impermanente; existe e morre. O segundo é permanente; não sabe e não sente. Agora, o Sutra diz, ‘Quando o Surgimento e a Cessação deixam de operar, a felicidade do Perfeito Descanso e do Fim das Mudanças surge. ‘ Eu não sei qual corpo deixa de existir e qual corpo desfruta a felicidade. Não pode ser o corpo físico que desfruta, porque quando ele morrer os quatro elementos materiais (i.e., Mahabhutas - terra, água, fogo e ar) desintegrar-se-ão, e a desintegração é o puro sofrimento, o oposto mesmo da felicidade. Se for o Dharmakaya que deixa de existir, estaria no mesmo estado dos objetos ‘inanimados’, como a grama, as árvores, pedras etc.; quem será então aquele que desfruta?" "Além disso, a Natureza do Dharma é a quintessência do ‘Surgimento e Cessação’ que se manifesta como os cinco skandhas (rupa[corpo], vedana[sensações], samjna[percepções], samskara[formações mentais] e vijnana[consciência]). Quer dizer, com uma quintessência existem cinco funções. O processo de ‘ Formação e Cessação ‘ é perpétuo. Quando a função ou a operação ‘surgem’ da quintessência, algo é formado; quando a operação ou função é ‘absorvida’ na quintessência, deixa de existir. Se o renascimento é admitido, não haveria nenhum ‘ fim das mudanças ‘, como no caso dos seres sensíveis. Se o renascimento está fora de questão, então as coisas sempre permanecerão em um estado de inanimada quintessência, como os objetos inanimados. Se isto é assim, então sob as limitações e restrições do Nirvana mesmo a simples existência seria impossível a todos os seres; que prazer poderia existir ali?" "Tu és um filho de Gina (i.e., um filho de Buda, um bhikkhu)", disse o Patriarca, "assim, por que adotas as visões enganadoras de Eternalismo e Aniquilação sustentadas pelos de visão equivocada, e critica o ensinamento do Veículo Supremo?" "Teu argumento implica que além do corpo físico há um corpo da Verdade (Dharmakaya); e que o ‘ Perfeito Descanso ‘ e o ‘ Fim das Mudanças ‘ pode ser buscado fora do ‘ Surgimento e Cessação ‘. Mais adiante, da declaração, ‘ Nirvana é perpétuo contentamento, ‘ tu inferes que deve haver alguém para viver o papel daquele que usufrui." "Agora, são exatamente estas visões enganadoras que fazem as pessoas almejarem a existência sensória e se entregam aos prazeres mundanos. É para estas pessoas, vítimas da ignorância, que identificam a união dos cinco skandhas com o ‘ ego ‘, e consideram todas as outras coisas como ‘ não-ego ‘ (literalmente, objetos de sensação exteriores); que almejam a existência individual e têm aversão à morte; que vivem à deriva no remoinho da vida e morte sem perceber a superficialidade da existência mundana, que é apenas um sonho ou uma ilusão; que se comprometem a um sofrimento desnecessário ligando-se à roda de renascimentos; que confundem o estado de perpétua felicidade do Nirvana com um modo de sofrimento, e que sempre buscam o prazer sensório; é para estas pessoas que o compassivo Buda pregou a real felicidade do Nirvana.". "Em qualquer momento, Nirvana não é nem o fenômeno do Surgimento, nem o de Cessação, nem mesmo a interrupção da operação do Surgimento e Cessação. É a manifestação do ‘Perfeito Descanso e Fim das mudanças’; mas na hora da manifestação nem mesmo um conceito de manifestação existe; assim, isto é chamado de ‘ perpétua felicidade ‘, que não possui nem aquele que usufrui nem aquele que não-usufrui". "Não existe tal coisa como ‘uma quintessência e cinco funções ‘ (como tu alegas), e estás caluniando o Buda e blasfemando contra a Lei quando chegas ao ponto de declarar que tais limitações e restrições da existência no Nirvana é impossível a todos os seres. Escute meus versos: O Supremo Maha Parinirvana É perfeito, permanente, calmo, e iluminador. Pessoas comuns a isto chamam erradamente de Morte, Enquanto pessoas equivocadas sustentam que é a aniquilação. Aqueles que pertencem ao Veículo de Sravaka ou ao Veículo dos Pratyeka Buda Consideram-no como a ‘Não-ação’. Tudo isto são meras especulações intelectuais, e formam a base das sessenta e duas visões enganadoras. Considerando que estes são meros nomes fictícios inventados para a ocasião Eles não têm nada a ver com a Verdade Absoluta. Apenas aqueles de mente superelevada podem entender completamente o que Nirvana significa, e desenvolver a atitude de nem apego nem indiferença para com isto. (4) Eles sabem que os cinco skandhas e o denominado ‘ego’ surgido da união destes skandhas, Junto com todos os objetos externos e as formas, E os vários fenômenos de som e voz, São igualmente irreais, como um sonho ou uma ilusão. Eles não fazem nenhuma diferenciação entre um sábio e um homem comum. Nem eles têm algum conceito arbitrário sobre o Nirvana. Eles estão acima da ‘ afirmação ‘ e ‘ negação ‘ e quebram a barreira do passado, presente, e do futuro. Eles usam os seus órgãos de sensação, quando a ocasião requer, Mas o conceito de ‘ Uso ‘ não surge. Eles podem particularizar todo o tipo de coisas, Mas o conceito de ‘particularização’ não surge. Até mesmo durante o fogo cataclísmico ao término de um kalpa, quando os leitos oceânicos secam, ou durante o soprar dos ventos catastróficos quando as montanhas tombarem umas sobre as outras, A felicidade real e perpétua do ‘ Perfeito Descanso ‘e‘ Fim das Mudanças do Nirvana permanece no mesmo estado e não muda. Aqui, eu estou tentando descrever a ti algo que é inefável, de forma que tu possas adquirir a libertação de tuas enganadoras visões. E se não interpretares minhas palavras literalmente talvez tu possas aprender uma pequena parte do significado do Nirvana! Tendo ouvido estes versos, Chih Tao ficou profundamente iluminado. Em um estado arrebatador, ele fez reverência e partiu. Bhikkhu Hsing Ssu, um Mestre do Dhyana, nasceu em An Cheng de Chi Chou na família de Liu. Ao ouvir que os ensinamentos do Patriarca haviam iluminado um grande número de pessoas, ele veio imediatamente a Ts’ao Ch’i para prestar-lhe homenagem, e lhe fazer esta pergunta: "Para quê deveria um estudante dirigir sua mente, de forma que sua realização não possa ser avaliada entre as (habituais) ‘ Fases de Progresso’?" "Que trabalho tens feito?’, perguntou o Patriarca. "Até mesmo com as Verdades Nobres ensinadas por vários Budas, eu não tenho nenhuma relação", respondeu Hsing Ssu. "Em que ‘Fase de Progresso’ está o senhor?", perguntou o Patriarca. "Que fase de progresso poderia estar, quando me recuso a ter qualquer coisa a ver até mesmo com as Nobres Verdades ensinadas pelos Budas?" ele replicou. Sua réplica provocou grande respeito do Patriarca, que lhe fez o líder da assembléia. Um dia o Patriarca lhe disse que deveria propagar a Lei em seu próprio distrito, de forma que o ensinamento não viesse a ter um fim. Logo após ele voltou à Montanha Ch’ing Yuan, em seu distrito nativo. O Dharma que lhe havia sido transmitido, ele difundiu amplamente e assim perpetuou o ensinamento de seu Mestre. Na ocasião de sua morte, o título póstumo ‘ Mestre de Dhyana Hung Chi ‘ lhe foi conferido. Bhikkhu Huai Jang, um Mestre de Dhyana, nasceu na família Tu em Chin Chou. Em sua primeira visita ao ‘Professor Nacional’ Hui An da Montanha Sung-Shan, ele foi instruído pelo último a ir para Ts’ao Ch’i entrevistar-se com o Patriarca. À sua chegada, e depois da saudação habitual, ele foi questionado pelo Patriarca de onde tinha vindo. "De Sung-Shan," ele respondeu. "Que coisa é esta (que vem aqui)? Como veio?", perguntou o Patriarca. "Dizer que é semelhante a uma certa coisa está errado", ele replicou. "É alcançável pela prática?", perguntou o Patriarca. "Não é impossível de se atingir pela prática; mas é bastante impossível corrompê-la", ele respondeu. Logo após, o Patriarca exclamou, "é exatamente esta coisa incorrupta que todos os Budas cuidam com atenção. Assim é para vós, e assim é para mim. O Patriarca Prajnatara da Índia predisse que sob vossos pés um potro (5) dispararia e pisotearia as pessoas no mundo inteiro. Eu não preciso interpretar este vaticínio precipitadamente, pois a resposta será encontrada dentro de vossa mente". Assim iluminado, Huai Jang intuitivamente percebeu o que o Patriarca queria dizer. Dali em diante, ele se tornou seu assistente por um período de quinze anos; e dia a dia seu conhecimento do Budismo tornou-se mais e mais profundo. Tempos depois, ele fixou residência em Nan Yueh onde difundiu o ensinamento do Patriarca amplamente. Na ocasião de sua morte, o título póstumo, "Mestre Dhyana Ta Hui (Grande Sabedoria)" lhe foi conferido através de édito imperial. O Mestre Dhyana Hsuan Chiao de Yung Chia nasceu na família Tai em Wenchow. Quando jovem, ele estudou sutras e shastras e era bem-versado no ensino de Samatha (introspecção ou quietude) e Vipasyana (contemplação ou discernimento) da Escola T’ien T’ai [Tendai]. Pela leitura do Vimalakirti Nirdesa Sutra ele percebeu intuitivamente o mistério da própria mente. Um discípulo do Patriarca de nome Hsuan Ts’e aconteceu de lhe visitar. Durante o curso de uma longa discussão, notou Hsuan Ts’e que as declarações de seu amigo concordavam virtualmente com as declarações dos vários Patriarcas. Posteriormente ele perguntou, "Poderia saber o nome do professor que transmitiu o Dharma ao senhor?" "Eu tive professores a me instruir", Hsuan Chiao respondeu, "quando estudei os sutras e os shastras da seção Vaipulya. Mas depois foi através da leitura do Vimalakirti Nirdesa Sutra que percebi o significado de Budacitta (a Mente de Buda); e a este respeito ainda não tive qualquer professor que verificasse e confirmasse meu conhecimento". "Antes do tempo de BhismaGarjitasvara Raja Buda," Hsuan Ts’e comentou, "era possível (dispensar o serviço de um professor); mas desde aquele tempo, aquele que atinge o esclarecimento sem a ajuda e a confirmação de um professor é um independente natural." "Tu podes, senhor, amavelmente agir como minha testemunha?", pediu Hsuan Chiao. "Minhas palavras não tem nenhum peso," respondeu seu amigo, "mas em Ts’ao Ch’i há o Sexto Patriarca, a quem visitantes vêm de todas as direções em grandes números com o objetivo comum de ter o Dharma transmitido a eles. Se quiseres ir até lá, ficarei feliz em acompanhar-te." No devido tempo eles chegaram a Ts’ao Ch’i e entrevistaram-se com o Patriarca. Tendo circulambulado o Patriarca três vezes, Hsuan Chiao ficou parado (i.e., sem fazer reverência ao Mestre) com o Khakkharam (o cajado budista) em suas mãos. O Patriarca comentou: "Como um Sramana (monge budista) é a incorporação dos três mil preceitos morais e das oitenta mil regras disciplinares secundárias, eu desejo saber de onde vens e o que faz o senhor tão convencido". "A questão sobre os renascimentos incessantes é momentosa," respondeu ele, "e como a morte pode surgir a qualquer momento (eu não tenho nenhum tempo para desperdiçar com cerimônias)." "Por que tu não percebes o princípio do ‘ não-nascimento ‘, e assim resolves o problema da transigência em vida?", o Patriarca replicou. Logo após Hsuan Chiao comentou, "Perceber a Essência da Mente é ser livre dos renascimentos; e uma vez que este problema é resolvido, a questão transigência já não existe". "Bem dito, muito bem dito", o Patriarca concordou. Neste momento, Hsuan Chiao cedeu e fez a cerimônia de reverência completa. Depois de um curto espaço de tempo ele despediu-se do Patriarca. "O senhor está partindo muito depressa, não é?", perguntou o Patriarca. "Como pode haver ‘ pressa ‘ quando intrinsecamente o movimento não existe?", ele replicou. "Quem sabe que o movimento não existe?", perguntou o Patriarca. "Eu espero, Mestre, que não ireis particularizar", ele observou. O Patriarca o elogiou por sua completa compreensão da noção de ‘não-nascimento’; mas Hsuan Chiao comentou, "Há uma ‘noção’ de ‘não-nascimento’?" "Sem uma noção, quem pode particularizar?", perguntou de volta o Patriarca. "Aquilo que particulariza não é uma noção", Hsuan Chiao respondeu. "Muito Bem dito!", exclamou o Patriarca. Ele então pediu para Hsuan Chiao adiar sua partida e passar uma noite lá. Desde então Hsuan Chiao foi conhecido por seus contemporâneos como o ‘iluminado que havia passado uma noite com o Patriarca’. Depois, ele escreveu o famoso trabalho, ‘ Uma Canção sobre a Realização Espiritual ‘ que circulou amplamente. Seu título póstumo é ‘Grande Mestre Wu Hsiang’ (Aquele que está acima das formas ou fenômenos), e também foi chamado pelos seus contemporâneos como ‘ Mestre Dhyana Chen Chiao ‘ (Aquele que realmente é iluminado). Bhikkhu Chih Huang, um seguidor da Escola Dhyana, depois de sua consulta com o Quinto Patriarca (sobre o progresso de seu trabalho) se considerou como tendo atingido o samadhi. Durante vinte anos ele confinou-se em um pequeno templo e manteve-se na posição abaixada todo o tempo. Hsuan Ts’e, um discípulo do Sexto Patriarca em uma jornada de meditação na margem norte do Huang Ho, ouviu falar dele e o encontrou em seu templo. "O que estás fazendo aqui?", Hsuan Ts’e perguntou. "Eu estou permanecendo em samadhi", respondeu seu amigo, Chih Huang. "Permanecendo em samadhi, tu dizes?", observou Hsuan Ts’e. "Eu desejo saber se tu estás fazendo isto conscientemente ou inconscientemente. Pois se tu estás fazendo inconscientemente, significaria que é possível para objetos inanimados como louça, pedras, árvores, e ervas daninhas, atingir o samadhi. Por outro lado, se estás fazendo conscientemente, então todos os objetos animados ou seres sensíveis também entrariam em samadhi." "Quando estou em Samadhi", Chih Huang observou, "eu não conheço nem a consciência nem a inconsciência". "Se este fosse o caso", Hsuan Ts’e disse, "esta seria a perpétua quietude, sob qual estado não há permanência nem abandono. Este estado no qual podes permanecer ou abandonar não é o Grande Samadhi". Chih Huang ficou pasmo. Depois de um longo tempo, ele perguntou, "Posso saber quem é seu professor?" "Meu professor é o Sexto Patriarca de Ts’ao Ch’i", Hsuan Ts’e respondeu. "Como ele define Dhyana e Samadhi?", Chih Huang perguntou. "De acordo com seu ensinamento", Hsuan Ts’e respondeu, "o Dharmakaya é perfeito e sereno; sua quintessência e sua função estão em um estado de Assim Ser. Os cinco Skandhas são intrinsecamente vazios e os seis objetos-sensação são inexistentes. Não há permanência nem abandono em Samadhi. Não há nem quietude nem perturbação. A natureza de Dhyana é não-permanente, assim nós deveríamos estar acima da noção de ‘permanecer na tranqüilidade de Dhyana’. A natureza de Dhyana é não-criativa, assim nós deveríamos estar acima da noção de ‘criar um estado de Dhyana’. O estado da mente pode ser comparado ao espaço, mas (é infinito) e assim está sem as limitações do último". Tendo ouvido isto, Chih Huang foi imediatamente para Ts’ao Ch’i entrevistar-se com o Patriarca. Sendo perguntado de onde tinha vindo, ele contou em detalhes para o Patriarca a conversação que havia tido com Hsuan Ts’e. "O que Hsuan Ts’e disse é bastante correto", disse o Patriarca. Deixe sua mente ficar em um estado como aquele do ilimitável vazio, mas não se prenda à idéia de ‘ vacuidade ‘. Deixe-a funcionar livremente. Seja em atividade ou em repouso, não permita que sua mente permaneça em parte alguma. Esqueça a distinção entre o sábio e o homem comum. Ignore a distinção entre sujeito e objeto. Deixe a Essência da Mente e todos os objetos fenomenais estarem em um estado de Assim Ser. Então tu estarás em samadhi todo o tempo". Chih Huang foi assim completamente iluminado. O que ele havia considerado durante os últimos vinte anos como uma realização se esvaneceu. Naquela noite os de Ho Pei (na margem norte do Rio Amarelo) ouviram uma voz no ar dizendo que naquele dia o Mestre do Dhyana Chih Huang alcançou o Esclarecimento. Algum tempo depois Chih Huang despediu-se do Patriarca e retornou a Ho Pei, onde ensinou para um grande número de homens e mulheres, tanto monges como também leigos. _______________________________________________ Um Bhikkhu perguntou certa vez ao Patriarca que tipo de homem poderia obter a chave do ensinamento de Huang Mei (o Quinto Patriarca). "Aquele que entende o Dharma de Buda pode conseguir isso", respondeu o Patriarca. "Vós, Ó Mestre, o comprendeste então?", perguntou o Bhikkhu. "Eu não entendo o Dharma de Buda", foi sua resposta. Um dia que o Patriarca quis lavar o manto que havia herdado, mas não pôde encontrar nenhum bom riacho para o propósito. Portanto, caminhou para um lugar cerca de cinco milhas nos fundos do monastério, onde ele notou que plantas e árvores cresciam profusamente e o ambiente transmitia um ar de bom presságio. Ele sacudiu seu bastão (que fez um ruído tilintante, pois tinha anéis presos em seu topo) e o fincou no solo. Imediatamente a água jorrou e pouco depois uma piscina foi criada. Enquanto ele estava se ajoelhando em uma pedra para lavar o manto, um bhikkhu apareceu de repente ante ele e lhe prestou homenagem. "Meu nome é Fang Pien", disse ele, "e sou um nativo de Szechuan. Quando eu estava no Sul da Índia conheci o Patriarca Bodhidharma que me instruiu que voltasse à China. ‘O Útero do Dharma Verdadeiro,’ disse ele, ‘ junto com o manto que herdei de Mahakasyapa foi transmitido agora ao Sexto Patriarca que está em Ts’ao Ch’i de Shao Chou. Vá até lá encontrá-lo e lhe prestar respeito’. Depois de uma longa viagem, eu cheguei. Eu posso ver o manto e a tigela que o senhor herdou?" Havendo lhe mostrado as duas relíquias, o Patriarca lhe perguntou que tipo de trabalho fazia. "Eu sou bom em trabalhos de escultura", respondeu ele. "Deixe-me ver algum trabalho seu, então", ordenou o Patriarca. Fang Pien ficou confuso na ocasião, mas alguns dias depois criou uma estátua quase-viva do Patriarca, de aproximadamente sete polegadas de altura, uma obra-prima de escultura. (Ao ver a estátua), o Patriarca riu e disse a Fang Pien, "Tu realmente sabes algo sobre a natureza do trabalho de esculpir, mas não parece conhecer a natureza de Buda". Ele então pôs sua mão no alto da cabeça de Fang Pien (o modo budista de bênção) e declarou, "Tu sempre serás um ‘campo de méritos’ para os seres humanos e celestiais." Além disso, o Patriarca recompensou seu serviço com um manto que Fang Pien dividiu em três partes, uma para vestir a estátua, uma para ele, e uma para enterrar no solo depois de cobri-la com folhas de palma. (Quando o enterro aconteceu) ele fez um voto de que quando o manto fosse exumado, ele renasceria como o abade do monastério, e também que empreenderia esforços para renovar o santuário e o edifício. Um bhikkhu citou os seguintes versos compostos pelo Mestre do Dhyana Wo Yün: Wo Yün tem modos e meios para isolar a mente de todos os pensamentos. Quando circunstâncias não reagem na mente, a árvore de Bodhi (símbolo de sabedoria) crescerá continuamente. Ouvindo isto, o Patriarca disse, "Estes versos indicam que seu autor não alcançou completamente a perceção da Essência da Mente. Pôr seu ensinamento em prática (não levaria a nenhuma liberação), mas prenderia a pessoa a si mesma mais firmemente". Logo após, ele mostrou para o Bhikkhu os seguintes versos de sua autoria: Hui Neng não tem nenhum modo e nem meios para isolar a mente de todos os pensamentos. As circunstâncias reagem freqüentemente em minha mente, E eu fico imaginando, como é possível a árvore de Bodhi crescer?(6) Notas: (1) Uma alusão ao capítulo do Sutra, entitulado "Parábolas", exemplificando que o conhecimento búdico é inato a todas as pessoas. (2) É no primeiro, ‘Mudita’ ou Estágio de Alegria, quando um Bodhisattva percebe o vazio do Eu e do Dharma (coisas), que ele ‘transmuta’ o Klista-Mano Vijnana para a Sabedoria-que-a-tudo-discerne. Quando a Natureza Búdica é alcançada, os primeiros cinco vijnanas serão ‘transmutados’ para a Sabedoria-que-tudo-realiza; e o Alaya Vijnana para a Sabedoria-semelhante-ao-Espelho. (3) Na Essência da Mente, não há tal coisa como ‘transmutação’. Quando uma pessoa fica iluminada, o termo ‘Prajna’ é aplicado. Em outras palavras, o termo ‘transmutação’ é usado apenas em sentido figurado. (4) Enquanto que pessoas comuns ficam desnorteadas pelo redemoinho de nascimento e morte, a atitude dos Sravakas e Pratyeka Budas frente a isso é de aversão. Nenhuma destas atitudes é correta. O trilhador do Caminho não se prende a existência sensória nem a recusa deliberadamente. Como a idéia de um ‘Eu’ e de uma ‘Persona’ são estranhas a ele, e porque ele assume a atitude de nem apego nem aversão em relação a todas as coisas, a liberdade está dentro de seu alcance todo o tempo e ele está à vontade em todas as circunstâncias. Ele pode supera o processo de nascimento e morte, mas tal processo jamais pode prendê-lo, portanto para ele a questão de ‘nascimento e morte’ não é uma questão de todo. Tal tipo de pessoa pode ser chamado de alguém de mente superelevada. (5) Isto se refere ao famoso discípulo de Huai Jang, chamado Ma (potro) Tso, através do qual os ensinamentos da Escola Dhyana espalharam-se por toda a China. (6) Nesta última estrofe, o Patriarca desafia a declaração de que "a árvore Bodhi crescerá", afirmando que Bodhi nem cresce nem diminui. |