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Consciência do Corpo através do Corpo

Ensinamentos do Mestre Thich Nhat Hanh
Retiro em Plum Village
Dezembro de 1999

Transcrito e editado por Carol Fegan, Chan An Cu
Revisado por Brendan Sillifant
Traduzido ao Português por Claudio Miklos


Palestra de Dharma dada por Thich Nhat Hanh em 2 de Dezembro de 1999 em Plum Village, França.

Hoje é o segundo dia de Dezembro 1999, e estamos em New Hamlet para nossa Palestra de Dharma. Nós estamos em nosso retiro de inverno. Temos falado sobre os cinco Skandhas, os cinco elementos que compõem nossa própria pessoa, e esse é exatamente o objeto de nossa meditação. Meditar significa estar atento ao que está entrando no domínio dos cinco Skandhas, e o Buddha nos deu recomendações muito específicas sobre como reconhecer estes elementos, olhar profundamente em suas naturezas, entender a natureza destes elementos profundamente, e tal compreensão conduzirá à nossa liberação, à nossa liberdade.

Nós sabemos que o primeiro agregado, o primeiro elemento, é chamado Forma.

Forma aqui significa nosso corpo. Nós nos preocupamos muito com nossa forma, mas nós realmente nos preocupamos com ela? Nós compramos muito -- frutas, medicamentos, cosméticos, e assim por diante, para usar em nossa forma, mas realmente queremos isto? Nós sabemos o quê exatamente é nossa forma? Nós a entendemos? Sabemos cuidar dela? Se não sabemos, então temos que aprender com o Buddha, nosso professor. E o Buddha nos aconselha, em primeiro lugar, a retornar para nossa forma, para nosso corpo, e fazer as pazes com ele, porque podemos estar vivendo uma guerra com nosso corpo.

Nós podemos ter maltratado nosso corpo, podemos ter feito nosso corpo sofrer muito, e entre nós e nosso corpo pode haver muito conflito.

Retornar para seu corpo e abraçá-lo, reconciliando-se com ele, esse é o primeiro ato da meditação.

Há quatro domínios de meditação, de fato o objeto da meditação é formado por quatro tipos. O primeiro é nosso corpo, o segundo são nossos sentimentos, o terceiro é nossa mente, e o quarto são os objetos mentais.

Mente aqui significa consciência. Nós não sabemos o bastante sobre nosso corpo, não sabemos o bastante sobre nossos sentimentos, não o sabemos bastante sobre nossa mente, e não sabemos o bastante sobre os objetos mentais. Então, meditar pretende o retorno para estes quatro reinos, tentar entendê-los e cuidar deles. Às vezes estes quatro objetos de nossa meditação são chamados Fundações da Consciência. De acordo com este ensino, nossa respiração é parte de nosso corpo. Eis porque voltar para nossa respiração já seria estar voltando para nosso corpo. Todos os textos budistas de prática de meditação começam com o voltar para nossa respiração, porque se vocês sabem voltar para sua respiração, regressam muito facilmente para seu corpo, e então regressam para seus sentimentos e sua mente, e finalmente regressam para os objetos de sua mente. Objetos mentais significam objetos de percepção. Esta manhã aprendemos sobre a fundação, a base, o objeto de nossa percepção. Assim, nossa respiração está incluída em nosso corpo e eis porque como praticantes deveríamos poder voltar para nossa respiração para poder retornar completamente ao nosso corpo. Podemos considerar que a nossa respiração seja um veículo maravilhoso que nos devolve ao nosso corpo e nossos sentimentos, nossa mente, etc. Nós não precisamos de muito tempo de modo a voltar para nosso corpo e nossos sentimentos, se sabemos usar este veículo maravilhoso chamado respiração, e isto é chamado Respiração Atenta. Porque respirar é algo que você faz diariamente, mas a maioria de nós não respira atentamente, e então não podemos regressar para nosso corpo e nossos sentimentos. Nossa prática é aprender a respirar atentamento e se você respira atentamente já regressa à sua respiração, colocando-a como parte de seu corpo. Se você continua praticando a respiração atenta, então regressará completamente para seu corpo. Voltar para nosso corpo, reconciliar-se com ele, se capaz de saber o que está acontecendo com nosso corpo. Saber sobre os erros que cometemos com nosso corpo, os conflitos que estamos tendo com nosso corpo, e assim saberemos o que fazer e o que não fazer para estar em bons termos com nosso corpo.

Assim o Anapanasatti Sutta, o Sutra da Plena Atenção à Respiração é algo que todo meditador tem que aprender, tem que estudar. No dia em que descobri o Sutra da Plena Atenção à Respiração me senti como se fosse a pessoa mais feliz na terra, realmente foi um achado. Suponham que vocês saem para passear e descobrem um campo onde muitos tesouros foram enterrados. Vocês sabem que se tornaram pessoas muito ricas. Poderão comprar qualquer coisa. Esse era meu sentimento quando descobri o Sutra da Plena Atenção à Respiração. Eu tive a sensação de que havia descoberto um tesouro e isso me fez muito feliz. Eis porque nutri a idéia de traduzi-lo e fazer comentários sobre ele, e dar sugestões sobre como fazer uso do Sutra da Plena Atenção à Respiração. Agora este livro está disponível, uma tradução do Sutra da Plena Atenção à Respiração do Pali e Chinês, com comentários e sugestões sobre como aplicar a respiração atenta em nossa vida diária. Se você é um praticante sério deveria aprender sobre as técnicas, a arte da respiração atenta. É muito importante. Assim que você abraça esta prática poderá se sentir bem imediatamente. É bom estar em seu próprio lar e sua respiração já é sua casa, a porta de sua casa. Fechando a porta, entrando no lar, você saberá que chegou em sua casa.

Se você continua com a prática da respiração atenta, retornará não apenas para seu corpo, mas retornará igualmente para seus sentimentos. Todas as formações mentais que se manifestam em vocês, inclusive o medo, desejo, amor, desespero, esperança, regressarão para vocês. Vocês as reconhecerão, as abraçarão, começarão a olhar profundamente em suas naturezas, e irão adquirir o tipo certo de compreensão que os deixarão livres.

Ano passado oferecemos um retiro de vinte e um dias na América Norte para a prática da respiração atenta. Vinte e um dias, e só aprendemos sobre respiração atenta e usamos o Sutra da Plena Atenção à Respiração durante este retiro. Nós esperamos que as Palestras de Dharma dadas durante aquele retiro, e também as sessões de perguntas e respostas sejam transformados em um livro de forma que as pessoas que não tiveram chance de assistir ao retiro possam ter um gosto do retiro lendo o livro.

Perguntem sobre a arte do respirar atento a seu irmão, sua irmã no Dharma.

Desfrutem da prática de respiração atenta, é muito recompensador. Eu asseguro que quando vocês começarem a praticar, se sentirão bem imediatamente.

Inspirando, eu sei que estou inspirando,Expirando, eu sei que estou expirando.

Inspirando, eu me sinto vivo,Expirando, eu sorrio.

É maravilhoso. Vocês podem mudar sua vida imediatamente.

Nós sabemos que a prática em Plum Village é sempre tentar voltar para o momento presente, para o aqui e o agora. Pois nós sabemos que só no aqui e o agora podemos tocar a vida profundamente, e aprender a viver cada momento de nossa vida diária profundamente é nossa verdadeira prática.

Então, a respiração atenta sempre pode nos devolver para o aqui e o agora.

Se você perde a atenção à sua respiração, perderá o momento presente. Não é que a respiração atenta seja o único modo para voltar ao momento presente, há outros modos, como o andar atento. Andar atentamente pode trazer você de volta ao aqui e agora também. Limpar-se atentamente, comer atentamente, há muitos tipos de prática que pode nos devolver ao aqui e agora, e tocar a vida profundamente, mas a respiração atenta pode ser praticada a qualquer hora do dia. E se você está ancorado em sua respiração atenta, não arrisca-se a perder o aqui e agora - ou seja, perder a vida - porque a vida só está disponível no aqui e agora. Assim deixe-nos cultivar a arte da respiração atenta para que nós possamos nos assentar no aqui e agora, em nossa verdadeira casa, de forma que possamos usufruir completamente do fato de que estamos vivos e que a vida está disponível com todas as suas maravilhas.

Quando vocês praticam a respiração atenta tem uma chance de voltar para seu corpo e reconhecer seu corpo como sua casa. Quando vocês fazem deste modo, "Inspirando, eu estou atento ao meu corpo, meu corpo inteiro; expirando, eu sorrio para meu corpo inteiro." Fazendo assim vocês podem praticar. Ou se vocês se sentam em uma cadeira, poderiam gostar de praticar "Inspirando, eu estou atento ao meu corpo inteiro; expirando, eu sorrio para meu corpo." É muito agradável reconhecer seu corpo e sorrir para ele. Se vocês não podem fazer isto, como serão capazes de fazê-lo com outras pessoas? Sorriam para vocês, sorriam para seu corpo, reconheçam sua presença, é muito bom para vocês fazerem deste modo. Nas quatro posições de seu corpo, vocês o reconhecem: de pé, sentado, caminhando, deitado, as quatro posições básicas de seu corpo,. Quando estão de pé, ficam conscientes de que seu corpo está em uma posição de pé; quando caminham, estão atentos à posição andante de seu corpo, isto é o que fazemos na meditação andando; quando nos sentamos, estamos conscientes de que estamos sentados; e quando nos deitamos, estamos atentos à posição deitada de nosso corpo.

Corpo como um todo, corpo nas quatro posições, corpo em seus vários movimentos. Quando vocês se ajoelham e apanham o marcador do chão, estão atentos que estão se ajoelhando. Quando estão levantando, ficam atentos ao fato de estarem de pé. Portanto não só ficam atentos à posição de seu corpo mas também estão atentos a cada movimento de seu corpo. No princípio vocês fazem isto lentamente de forma a poder ficar facilmente atentos a tudo. Suponham que eu seguro isto, e lentamente o coloque no chão. Eu fico atento todo o tempo. E agora eu tenho a intenção de apanhar aquele marcador. Eu faço isto lentamente de forma a poder estar atento a cada momento do movimento. Pegando isto estou atento, trazendo isto para mais perto de mim estou atento, estando atento ao movimento.

Quando você caminha, este é um movimento. A mente não está pensando em qualquer outra coisa. Sua mente está enfocada no movimento de andar. Cem por cento de sua mente é posto no ato de dar um passo. Às vezes na tradição do Vipassana, eles fazem assim: você está a ponto de erguer seu pé direito, e quando ergue seu pé direito está atento que o está erguendo, assim usa a palavra "erguer." Então quando você se move, diz "mover", e quando coloca isto no chão, "colocar." "Erguendo, movendo, colocando; erguendo, movendo, colocando; erguendo, movendo, colocando." Essa é a idéia. Mas se vocês não tem nenhum cuidado, se tornam um autômato, fazem isto automaticamente, e a vida desaparecerá. Façam de tal modo que a vida ainda esteja lá, façam de tal modo que o ato da meditação permaneça agradável. Porque se vocês fizerem a vida desaparecer, se tornarão máquinas, e isso não é nenhuma meditação. Vocês entendem? Erguer, isso é consciência; mover, isso é consciência; colocar, isso é consciência. Sim, vocês podem fazer isso - mas com a condição de que a vida ainda permaneça com vocês e o ato de meditação se torne um ato jovial, agradável, porque vocês não estarão praticando para o futuro, estarão praticando para viver sua vida muito mais profundamente, cultivando a solidez, liberdade, e felicidade no aqui e agora. Lembrem-se das três características do Dharma: não é uma matéria associada ao tempo, lida com o momento presente, [cria a] jovialidade e felicidade. Assim vocês estão livres para adotar qualquer tipo de prática com a condição de que sustentem a vida, a alegria, e continuem cultivando sua solidez, sua liberdade, e sua alegria. "Erguendo, movendo, colocando" é correto, é bom com a condição de que vocês não se tornem uma máquina, com a condição de que a prática deva lhes trazer alegria e felicidade no aqui e agora. Porque vocês não praticam para o futuro, praticam para o momento presente, e asseguram um futuro porque o futuro só é feito com um elemento, o presente. Assim cuidando bem do presente, vocês cuidarão do futuro. Não se preocupem com o futuro.

Portanto quando vocês caminham daqui para a cozinha para servir a comida, não digam "eu tenho que caminhar até a cozinha para pegar comida", não digam "eu tenho." Digam, "eu estou usufruindo do caminhar até a cozinha", e cada passo é por si só um fim. Os passos já não são mais um meio para se chegar a um fim. Isto é muito importante na prática budista. Não há nenhuma distinção entre meios e fins. No mundo se diz, "farei tudo para alcançar aquele fim." Não é assim na prática budista porque tudo o que se faz é por si só um fim. Tudo o que se faz deveria ser em termos do Dharma, significando que tudo o que você faz deveria permitir o cultivo da liberdade, solidez, e felicidade. Assim vocês sabem como caminhar. Nenhuma distinção entre meios e fim. Essa é a prática do Budismo. Lembrem: não há nenhum caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho. Não há nenhum caminho para o esclarecimento, o esclarecimento é o caminho. Toda vez que você dá um passo, faz um ato de esclarecimento. Porque o que é o esclarecimento? Esclarecimento é a consciência. Consciência é a capacidade de estar atento ao que está acontecendo, isso é esclarecimento. Eu estou iluminado pelo fato de que estou dando um passo. Cada passo tem seu próprio valor. Todo ato, todo passo que você faz deveria ser um ato de esclarecimento, uma obra de arte. Deve haver beleza nisto, deve haver o bem, o belo, e o verdadeiro.

Lembrem-se, na prática do Budismo não há nenhuma distinção entre meios e fins. Quando vocês lavam seus pratos, façam de cada momento do tempo de lavá-los uma obra de arte, um ato de iluminação. Então verão que é maravilhoso, é prazeroso lavar os pratos. Esse é o modo do Buddha lavar sua tigela. Quando o Buddha lava sua tigela, ele é um verdadeiro artista.

Ele gosta de lavar a tigela, tem perfeita felicidade no ato de lavar a tigela. E vocês são seus discípulos e aprendem a lavar sua tigela como o Buddha. Vocês aprendem a caminhar como ele, aprendem a respirar, aprendem a sorrir como ele.

O Esclarecimento deveria acontecer no aqui e agora. O Esclarecimento não é uma questão de futuro, e vocês podem praticar o esclarecimento a todo momento de suas vidas diárias. Caminhando, se sentando, comendo, sorrindo.

Isso é possível desde o princípio da prática. Voltando-se para sua respiração, reconhecendo as posições de seu corpo, reconhecendo todo ato executado por seu corpo. Nós deveríamos aprender a sermos autênticos, nós não praticamos por causa da aparência, nós não representamos.

Quando praticamos estamos atentos ao nosso corpo em suas partes, eis o que fazemos quando começamos nosso total, profundo relaxamento. Nós deitamos e em primeiro lugar regressamos para nossa respiração: "Inspirando, eu estou atento à minha inspiração; expirando, estou atento à minha expiração." Quando sua respiração ficar sólida, quando a qualidade de sua respiração melhorar, então se dêem conta de seu corpo como um todo, na posição deitada, e simplesmente inspirem e expirem, desfrutando da presença dele.

Dê para seu corpo uma chance de estar ali sem fazer qualquer coisa, relaxamento total. Essa é uma prática de amor, dirigida a seu corpo. "Meu corpo, eu sei que você está presente." Esteja tranqüilo, fique relaxado.

Então vocês começam a praticar estando atento de cada parte de seus corpos. Inspirando, eu estou atento aos meus olhos; expirando, eu sorrio para os meus olhos ." Vocês poderiam fazer isto durante a expiração e a inspiração, ou poderiam fazer isto por dez inspirações e expirações. Vocês podem ficar com seus olhos o tempo que desejarem. Apenas dêem-se conta de seus olhos e sorriam amorosamente para eles. Seus olhos são tão maravilhosos, um par maravilhoso de olhos em boas condições. Então você mudam [sua atenção] para suas orelhas: "Expirando, estou atento às minhas orelhas; inspirando, eu sorrio para minhas orelhas", e assim por diante.

Você vai do topo de sua cabeça para as solas de seus pés e passa por todas as partes de seu corpo. Você pratica esquadrinhando seu corpo com um tipo de facho de luz, não um laser, mas sua consciência.

Quando vocês chegam aos seus ombros, praticam: "Inspirando, eu estou atento aos meus ombros; expirando, eu sorrio aos meus ombros," e ajudam seus ombros a relaxar e a não ficarem tensos. Quando alcançam seus pulmões, praticam a consciência de modo a envolver os seus pulmões.

"Inspirando, eu sei que estou atento aos meus pulmões; expirando, eu sorrio para meus pulmões." Eles trabalham tão duro, eu não lhes dou bastante ar puro. "Inspirando, eu estou atento ao meu coração; expirando, eu sorrio para meu coração." Agora eu tenho que deixar de beber álcool, porque realmente me importo com meu coração. Assim vocês passam por seu corpo, esquadrinham seu corpo com a luz da consciência, reconhecendo, abraçando, sorrindo para ele. Esse é o ensinamento de Buddha, as recomendações feitas pelo Buddha. Ele nos disse para ter cuidado com nosso corpo, voltar para ele, ser amável com ele, reconhecê-lo como um todo e reconhecer suas várias partes.

No Sutra dos Quatro Fundamentos da Plena Consciência, disse o Buddha, "Suponha que um fazendeiro suba ao celeiro e pegue um saco de sementes.

Ele abre uma extremidade do saco e puxa a outra extremidade, permitindo que todos os tipos de sementes no saco caiam no chão. Com olhos em boas condições, reconhecerá o fazendeiro: estas são sementes de feijões Mung, estas são sementes de feijões pretos, estas são sementes de milho, e ele distingue todo tipo de sementes. Assim também faz o praticante. Ele reconhece seus olhos como olhos e sorri para eles, reconhece seus pulmões como pulmões e sorri para eles. Essa é a consciência do corpo através do corpo."Portanto o Buddha sugere que nós regressemos para nosso corpo e olhemos o corpo, percebendo os elementos que podem ser achados nele: nomeando o elemento terra, o elemento água, o elemento fogo, e o elemento ar.

"Inspirando, eu reconheço o elemento de solidez em mim," e o elemento de solidez é representado através da terra. Pode parecer sólido no princípio, mas lentamente nós reconhecemos que nada é tão sólido em sua natureza, como argumenta a física nuclear. "Inspirando, eu reconheço o elemento terra em mim; expirando, eu sorrio para este elemento em mim." Vocês começam a ver mais profundamente a natureza de seu corpo. "Inspirando, eu reconheço o elemento água em mim; expirando, eu sorrio ao elemento água em mim." Eu sou feito de água, pelo menos 70%. Ela é muito útil, nos trará conhecimento, visão, discernimento sobre a verdadeira natureza de nosso corpo. "Inspirando, eu estou atento ao elemento fogo em meu corpo." Temperatura, 37 graus. Se este elemento aumentar, terei febre, morrerei.

Se este elemento está mais baixo que 37 graus, eu também ficarei doente.

Assim, "Inspirando, eu estou atento ao elemento de calor em mim; expirando, eu sorrio ao elemento de calor em mim." A arte do médico é manter os quatro elementos em harmonia. Saúde é o resultado da harmonia dos quatro elementos. Na tradição asiática, um bom doutor, um bom médico é aquele que pode lhe ajudar a manter o equilíbrio, a harmonia dos quatro elementos.

Nas palavras de encorajamento dadas por Mestre Quy Son ele disse "Embora este corpo seja apoiado pelos quatro elementos, estes quatro elementos opõem-se muito freqüentemente uns aos outros." Às vezes a pessoa é muito forte, às vezes a pessoa é muito fraca, e então temos dificuldades.

"Embora este corpo seja apoiado pelos quatro elementos, muito freqüentemente estes quatro elementos não estão em equilíbrio." Assim o papel de um doutor é ajudar a manter estes quatro elementos em equilíbrio.

"Eu estou atento ao elemento calor em mim; eu sorrio ao elemento calor em mim." Até mesmo quando você tem uma febre, tente sorrir para sua febre, para o calor em seu corpo e você se sentirá bem. Se vocês se preocupam sobre isto, a situação se tornará ainda pior. "Inspirando, eu estou atento ao elemento ar em mim." O elemento ar é muito importante, e o oxigênio que colocamos em nossos corpos através de nossos pulmões é muito importante.

Nosso sangue sempre volta aos nossos pulmões; depois de ter recebido um pouco de oxigênio ele fica mais luminoso, mais vermelho, leva o oxigênio para outras células do corpo e libera este oxigênio. Assim inspirando e expiando, nós ajudamos nosso sangue a se renovar, adquirir o oxigênio é necessário para compartilhar com todas as outras células do corpo porque vida é um processo de condições, e precisamos de oxigênio para o processo continuar. Assim o elemento ar é muito importante. "Inspirando, eu estou atento ao elemento ar em mim; expirando, eu sorrio para ele."O Buddha preparou muito cuidadosamente o florescimento de nosso esclarecimento, e podemos ver em seu ensinamento muita compaixão e compreensão. Ele entendeu bem os seres humanos e nos disse como ter cuidado com nossos corpos, como olhar profundamente para nossos corpos e adquirir o tipo de discernimento que precisamos para não ficarmos presos ao nosso medo, nossas preocupações, e assim por diante. Uma vez que reconhecemos os quatro elementos em nossos corpos, também reconhecemos os quatro elementos fora de nossos corpos e sabemos que eles sempre estão juntos. Nossa vida, nosso organismo é um sistema aberto. Energia e matéria passam por ele todos os segundos para manter os processos de mudança, de continuidade. Por isso nós chamamos nosso organismo de um sistema aberto.

Sempre está mudando. Matéria, energia continua passando por ele, vida e morte acontecem a todo momento, e ainda há uma continuação. A continuação acontece ao mesmo tempo que a mudança. Nós aprendemos sobre alaya -- alaya é algo mudando todo o tempo, mas continuando todo o tempo. Mudando todo o tempo mas continuando todo o tempo, saibamos disto ou não. Assim há coisas que poderíamos gostar de fazer, poderíamos gostar de fazer na prática de contemplação do corpo através do corpo. No sutra das Quatro Fundações da consciência, o Buddha usou os termos, "contemplação do corpo através do corpo, ou como corpo." Significa que quando regressamos para nosso corpo não o consideramos apenas como um objeto de nossa percepção, mas temos que nos identificar com ele, temos que remover a fronteira entre matéria e objeto de percepção. Eis por que a expressão, "contemplação do corpo através do corpo" é muito importante, porque para realmente entender algo, você tem que estar com ele. Vocês tem que ser aquilo, tem que remover a fronteira entre o investigador e o objeto que está sendo investigado. Se você quer entender alguém, coloque-se em sua pele, e então poderá entendê-lo. Se você continuar considerando-a como um objeto, nunca poderá entender aquela pessoa. Esta é uma grande verdade. Se vocês são um par de amigos, se são pai e filho ou mãe e filha, se realmente querem entender um ao outro, vocês tem que se tornar a outra pessoa. O único modo de entender completamente é se tornar o objeto de sua compreensão. Isto é muito importante na prática budista. Se você ainda mantém a distinção, a barreira entre o objeto da compreensão e o sujeito da compreensão, então a verdadeira compreensão não pode acontecer.

Há uma história muito agradável sobre isto. O grão de sal gostaria de saber quão salgada era a água do oceano, o grau de salinidade do oceano.

"Eu sou um grão de sal, eu sou muito salgado. Eu desejo saber se a água do oceano é igualmente tão salgada." Então um professor vem e diz, "Querido grão de sal, o único modo para você realmente saber o grau de salinidade do oceano é pular para dentro dele." E quando o grão de sal pulou, se tornou uno com a água do mar e sua compreensão foi perfeita.

Assim não espere entender alguém ou algo completamente até que você se torne uno com ele. No idioma francês há uma palavra muito agradável, a palavra "comprendre ." Comprendre significa compreender, significa que entender algo é toca-lo e se tornar uno com ele. "Com" significa ser uno com algo. Enquanto estiver separado de algo, não espere entendê-lo. Eis por que a prática budista de meditação é olhar a realidade de tal modo que a fronteira já não estará lá. Este tipo de compreensão é chamado a sabedoria da não-distinção. 'Nirvikalpajnana'. 'Vikalpa' significa distinção, discriminação; 'nir' significa "não". 'Jnana ' significa sabedoria. Sabedoria da não-distinção. Esta prática vai muito fundo, não só em termos de entendimento, mas de ação. Suponha que você dê algo a alguém; você tem que lhe dar um modo que nenhum doador e nenhum receptor existam. Se você ainda pensa que é um doador e aquela pessoa é um receptor, então isso não é o melhor modo de doar, não há nenhum Dana Paramita. Enquanto alguma distinção existir, não haverá nenhuma perfeita doação. Você doa porque a outra pessoa está em falta daquilo e o ato é muito natural. Você não pensa em si como o que dá e não pensa nele ou o dela como a pessoa que recebe o presente, e você não diz, "Ele não é alguém agradecido." Se você está praticando verdadeiramente a perfeita doação, não terá estas idéias. Se aquela pessoa agradece ou não, você apenas doa. Essa é a não distinção. Assim isto não só é verdade no domínio da percepção mas igualmente no domínio da ação. O bodhisattva faz tudo para todo mundo mas nunca leva crédito por isto.

Assim o primeiro objeto de nossa consciência, de nossa meditação, é o corpo. E vocês sabem exatamente o que fazer porque o Buddha teve muito cuidado oferecendo este ensino. Ele nos falou sobre como voltar para nossa respiração, fazer as pazes com nossa respiração, melhorar nossa qualidade de vida com nossa respiração e então envolver, reconhecer nosso corpo como um todo nas quatro posições, em vários movimentos, em cada parte e nos elementos que o compõem. Há um discurso especialmente falado para a contemplação do corpo através do corpo, chamado a Contemplação do Corpo.

No Madhya Agama este sutra é chamado 'O Sutra sobre a Contemplação do Corpo ' [Kayagata-sati Sutta].

Hoje nós mencionamos uma prática e um ensinamento muito importante.

Pratiquem de modo que todo ato que vocêm fazem se torna um ato de esclarecimento, um ato que pode trazer solidez, paz e liberdade imediatamente. Se vocês varrem o solo, se limpam o banheiro, se cozinham o café da manhã para o Sangha, tentem desfrutar todo ato e considerem todo ato que fizerem como um ato de esclarecimento. Sejam perfeitos artistas, sejam reais filhos, filhas, discípulos do Buddha. Este é um ensinamento muito importante, uma prática muito importante. Sua vida mudará imediatamente e a paz, felicidade, solidez e o não-medo serão seus. Vocês têm que cultivar isto diariamente. O verdadeiro, o bom e o belo poderão ser vistos em todo ato de sua vida diária.

[Fim da Palestra de Dharma]Sarve Bhavantu Mangalam - Que Todos os Seres Sejam Felizes




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