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OS TRÊS PILARES DO ZEN Philip Kapleau Editora Itatiaia Obra capital de Roshi Philip Kapleau, fundador e diretor espiritual de Zen Center de Rochester, EEUU, que viveu treze anos em mosteiros, sob a orientação dos maiores mestres do zen japonês. OS TRES PILARES DO ZEN é um texto fundamental e indispensável a quantos aspiram sua liberação e realização através do zen — esta nova arte de viver — via fascinante que conduz à paz, fonte de saúde e silêncio interior, em meio ao conturbado mundo de hoje. PREFACIO DO ORGANIZADOR Apresentado em poucas palavras, o Zen é uma religião com um método simples de treinamento corpo-mente, cuja finalidade é o satori, isto é, a auto-realização. Do princípio ao fim deste volume tentei transmitir o caráter essencialmente religioso e o espírito do Zen-sim, seus rituais e símbolos, seus atrativos para o coração e não menos para a mente — pois, como caminho budista de liberação, o Zen é muito seguramente uma religião. Fundamentada nos mais altos ensinamentos de Buda, foi trazida da Índia para a China, onde os métodos e técnicas que são característicos do Zen se desenvolveram, através dos séculos, foram sendo aperfeiçoados no Japão. O Zen-budismo é portanto a consumação das experiências espirituais de três grandes civilizações asiáticas. Hoje no Japão esta tradição ainda permanece muito viva; nos templos Zen, nos mosteiros e nos lares, homens e mulheres de todas as categorias sociais encontram-se ativamente engajadas no zazen, a principal disciplina do Zen. Em seu nível mais profundo, como acontece em todas as demais grandes religiões, transcende seus ensinamentos e práticas, embora, ao mesmo tempo, não exista Zen independentemente destas mesmas práticas. A tentativa no Ocidente de isolar o Zen no vácuo do intelecto, cortado de sua genuína disciplina que é sua "raison d’être", gerou um pseudo-Zen que é pouco mais do que uma cócega mental para divertir os intelectuais e uma brincadeira dos beatniks. A melhor forma de corrigir esta distorção, parece-me, seria compilar um livro apresentando a autêntica doutrina e práticas do Zen, colhidas dos próprios lábios dos mestres pois quem conhece os métodos melhor do que eles? — assim como mostrá-los vivenciados pelas mentes e corpos de homens e mulheres de hoje. Assim fiz, principalmente através do mestre contemporâneo Soto, Yasutani-roshi; de um mestre Rinzai do século XIV, Bassui-zenji; e dos casos de iluminação de japoneses e americanos seguidores do Zen. As conferências introdutórias de Yasutani-roshi sobre a prática do Zen. sua palestra (teisho) sobre o koan-Mu, e suas instruções particulares (dokusan) para dez de seus discípulos ocidentais, formam um conjunto que inclui a totalidade da estrutura do treinamento Zen na sua seqüência tradicional. Faltando o acesso a um roshi de confiança, mas desejando alguém, mesmo assim, disciplinar-se pelo Zen, encontrará neste material somente um manual de instrução pessoal. Tanto as disciplinas Soto como a Rinzai, creio, são aqui apresentadas — pela primeira vez em língua européia — como corpo integral do ensinamento Zen, e esta experiência não é acadêmica, mas bem vivida. Por enquanto o Ocidente conhece pouco o Soto. Os intérpretes mais conhecidos do Zen no Ocidente, entusiasmados com o Rinzai, deram pouca atenção aos métodos e doutrinas do Dogen-zenji, o pai do Zen Soto japonês e, na opinião de muitos, a mais fecunda mente que o budismo japonês produziu. Não é por isso, surpreendente que um grande número de shikan-taza ocidentais, orientados pelo Zen, o coração da disciplina de meditação de Dogen, seja quase um enigma. Neste volume, os objetivos e métodos da shikan-taza, assim os do koan zazen, o sustentáculo principal da seita Rinzai, são expostos com toda a autoridade por Yasutani-roshi, que utiliza ambos no seu próprio sistema de ensino. Nas introduções apresentei o plano de fundo e o material suplementar que julguei oportuno para ajudar o leitor a compreender a matéria de cada parte, mas resisti à tentação de analisar ou interpretar os ensinamentos do mestre. Tal coisa só encorajaria o leitor a reinterpretar minhas interpretações e, querendo ou não, ele se encontraria tragado pela areia movediça da especulação e da auto-glorificação, das quais um dia, se praticasse com seriedade o Zen, teria penosamente de se livrar. Pois, exatamente por este motivo, a "traficância de idéia" sempre foi desencorajada pelos mestres Zen. Este livro deve imensamente a muita gente. Em primeiro lugar e sobretudo, deve enormes obrigações ao mestre Zen Yasutani, cujos ensinamentos preenchem mais de metade do livro e que graciosamente permitiu estivessem ao alcance de um público mais amplo. Meus colaboradores e eu mesmo, todos discípulos seus, estamos profundamente gratos por seus conselhos cheios de sabedoria e o espírito magnânimo com que nos inspirou do princípio ao fim deste livro. Devo agradecimentos especiais à Dra. Carmen Blaker, da Universidade de Cambridge. Suas traduções simultâneas de muitas conferências de Yasutani-roshi sobre a prática do Zen foram por mim incorporadas às traduções que aparecem neste livro. Além disto, tomei a liberdade de adotar sem alteração, diversos parágrafos de suas próprias traduções de partes deste mesmo material, que foi publicado na revista budista inglesa The Middle Way, uma vez que sua forma de expressão era tão apropriada que eu mal poderia esperar melhorá-la. Sou extremamente grato a Dr. Huston Smith, professor de Filosofia do Instituto de Tecnologia de Massachnsetts e autor do The Religion ofMan, por seus conselhos valiosos e encorajamentos na primeira fase do manuscrito e por seu prefácio. Reconheço agradecido a ajuda de Brigitte D’Ortschy, uma amiga dharma. Sua leitura atenta de todo o manuscrito deu origem a muitas e valiosas sugestões. Meredith Weatherby e Ralph Friedrich, ambos do John Weatherhill, mc., em Tóquio, foram editores muito compreensivos durante toda a preparação deste livro e lhes sou grató por seu auxílio. A gratidão a minha esposa, deLancey, não é menor. Em todas as fases da redação ela me encorajou e trabalhou comigo. Na verdade, durante muitos anos estes trabalhos constituíram sua prática mais importante do zazen. Também lhe devo os desenhos das posturas do zazen. As dez figuras da criação do boi da VIII parte foram usadas com a gentil permissão do artista Gyokusei Jikihara. É ele um pintor contemporâneo altamente considerado em Kyoto e um discípulo leigo de Shibayama-roshi, o antigo abade do Mosteiro Nanzen, sob cuja orientação treinou no Zen durante muitos anos. Devo uma menção especial aos nomes de meus dois colaboradores nas traduções, Kyozo Yamada e Akira Kubota. O Sr. Yamada disciplinou-se no Zen durante vinte anos. o sucessor Dharma de Yasutani-roshi e freqüentemente o substitui. Há muito tempo concluiu os seiscentos koans dados por Yasutani-roshi e recebeu dele o inka Trabalhamos juntos nestas traduções: o sermão de Bassui sobre a mente-una e as cartas, partes das cartas de Iwasaki, os dez versos da criação do Boi, as citações de Dogen e de outros antigos mestres, e o extrato do Shobogenzo de Dogen. Sem os seus sábios conselhos e generosa assistência, minha tarefa teria sido muitíssimo mais difícil, se não impossível, e lhe sou imensamente grato. Akira Kubota, meu segundo colaborador, treinou sob a orientação de Yasutani-roshi uns quinze anos, e é dos seus principais discípulos. Juntos traduzimos as conferências sobre o koan Mu, partes das cartas de Lwasaki e o quarto e sexto relatos na parte das experiências de iluminação. Reconheço o quanto lhe devo por seu trabalho tão consciencioso. Em nossas traduções empenhamo-nos em evitar os perigos, seja por um lado, de uma livre e imaginosa interpretação, seja por outro lado de uma versão. exata e literal. Se nos tivéssemos rendido àquela primeira tentação, alcançaríamos uma elegância de estilo que agora nos falta, mas seria à custa daquele decidido vigor e da repetição intencional que é forma característica do ensino Zen. Por outro lado, se nos tivéssemos escravizado à letra dos textos, teríamos inevitavelmente feito violência a seu espírito e obscurecido assim seu sentido interior mais profundo. Nossas traduções são interpretativas no sentido de que toda tradução implica a constante escolha de uma das diversas alternativas de expressão que o tradutor julga convir melhor ao sentido do original. Numa tradução comum, dependerá da aptidão lingüística e da familiaridade do tradutor com o assunto que suas escolhas sejam ou não adequadas. No entanto, os textos do Zen se situam numa categoria especial. Desde que são invariavelmente sóbrios e expressivos e os ideogramas em que são redigidos susceptíveis de várias interpretações, uma referência chave freqüentemente traz consigo todo um espectro de idéias, e fazer a seleção do verdadeiro sentido para um contexto particular, exige do tradutor algo mais do que acuidade filológica ou extenso conhecimento acadêmico do Zen. No nosso ponto de vista, exige-se nada menos do que o treinamento do Zen e a experiência da iluminação, sem a qual o tradutor estará quase certo de prejudicar a clareza e mutilar o vigor do original em aspectos importantes. • Por esse motivo não será inoportuno salientar aqui o fato de que cada um dos tradutores treinou por muito tempo o Zen sob a orientação de um ou mais mestres reconhecidos, e de certa forma abriu os olhos da Mente. Desde que o presente livro se dirige ao leitor em geral, mais do que a especialistas em Zen-budismo, dispensei os sinais diacríticos, que podem ser enfadonhos para quem não conhece o japonês, o chinês e o sânscrito. Mesmo correndo o risco de alguma imprecisão, dispensei, sempre que possível, o uso dos grifos, para não cortar o sentido das frases. No corpo do livro segui o costume japonês de escrever os nomes dos mestres chineses do Zen e outros termos chineses de acordo com sua pronúncia japonesa. Assim como falamos de Zen ao invés de Ch‘an budismo, mas nas notas do vocabulário, na parte final indiquei em parênteses a pronúncia chinesa aceita no uso comum. Solicitamos aos estudiosos chineses que se exasperam com tal método, que se lembrem de que o Zen-budismo está no Japão há quase mil anos e por isso faz legitimamente parte da vida e da cultura japonesa. Dificilmente teria sobrevivido por tanto tempo e sido impacto tão forte para os japoneses, se não tivessem abandonado a pronúncia chinesa estrangeira e para eles incômoda. Ao escrever os nomes dos mestres japoneses aderi ao costume japonês tradicional de empregar o principal nome budista em primeiro lugar. Entretanto, quando se trata do japonês moderno, seja nome de mestres ou de leigos, adotei o estilo ocidental que usa, naturalmente, o inverso, uma vez que eles mesmos escrevem assim seus nomes em inglês. Quando vem o título imediatamente depois do nome (como em Yasutani-roshi ou Dogen-zenji), por causa da euforia, escrevi o nome e o título de acordo com o estilo tradicional japonês, como está aqui indicado. Os nomes técnicos Zen e termos budistas especiais não definidos no texto são explicados na X parte, notas sobre o vocabulário Zen. Ainda que a organização do livro seja o método natural do ensinamento, prática e iluminação, cada parte é completa em si mesma e poderá ser lida ao acaso, de acordo com o gosto do leitor. Todas as notas, no livro inteiro, são minhas. Philip Kapleau Kamakura, 8 de dezembro de 1964. Topo |