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Te-shan Hsuan-chien (781-867)
Referências/Kapleau/Varenne

Referências3

Deshan Xuanjian (Te-shan Hsuan-chien, Tokusan Senkan). 781-867.
Um Herdeiro de Dharma de Longtan Chongxin. Deu transmissão a Yantou Quanho e Xuefeng. Famoso pelos " Trinta pauladas se [disser] sim, trinta pauladas se [disser] não." Ele aparece em "Registros do Precipício Azul" 4, "Registros do Silêncio" 14, 22, 46, 55, e Gateless Gate 13 e 28. Ele aparece nas Declarações e Ações de Dongshan (Dongshan yulu) 37, 54, 56, 83. Anteriormente um estudioso no Sutra do Diamante, queimou seus livros após obter o esclarecimento através de uma velha que vendia bolos de arroz (ver conto abaixo). Ver o Shinfukatoku de Dogen.

Livros

Hsüan-Chien, quando jovem, era um devoto estudante do buddhismo. Estudou muito os conceitos e as doutrinas, e tornou-se muito hábil em analisar os termos complexos, e se considerava um expert em filosofia buddhista. Aprendeu de cor o Sutra do Diamante, e orgulhosamente escreveu um longo comentário sobre ele.

Um dia, sabendo que em Hunan havia um grande sábio que dizia coisas que ele não concordava, resolveu viajar até lá para provar, através de seu conhecimento, que o pretenso sábio estava errado. Ele pegou seu comentário Qinglong sobre o Sutra do Diamante e partiu.

No caminho, encontrou uma velha que vendia bolinhos de arroz. Cansado e com fome, falou à senhora:

"Gostaria de comprar alguns bolinhos, por favor."

"Que livros está carregando? ", perguntou a velha.

"É o meu comentário sobre o sentido verdadeiro do Sutra do Diamante," disse orgulhoso," mas você não sabe nada sobre esses assuntos profundos."

Após um pequeno momento em silêncio, a velha lhe disse:

"Vou lhe fazer uma pergunta, e se puder me responder eu lhe darei os bolinhos de graça. Se não, terá que ir embora, pois não vou lhe vender os bolinhos."

Achando-se capaz de responder qualquer pergunta, quanto mais de uma pessoa sem os seus anos de conhecimentos nos termos filosóficos, disse:

"Muito bem, pergunte-me".

"Está escrito no Vajracchedika que a Mente do passado é inatingível, a Mente do futuro é inatingível e a Mente do presente é inatingível; diga-me então: com qual Mente você vai se alimentar?"

Estupefato, Hsüan-chien não soube o que dizer. A velha levantou-se e comentou:

"Sinto muito, mas acho que terá que se alimentar em outro lugar", e partiu.

Quando chegou no seu destino encontrou Longtan, o mestre do templo. Tinha chegado tarde, e ainda abalado com o encontro anterior, sentou-se silenciosamente em frente ao mestre, esperando que ele iniciasse o debate. O mestre, após muito tempo, disse:

"É muito tarde, e você está cansado. É melhor ir para seu quarto dormir."

"Muito bem," disse o intelectual, levantou-se e começou a sair para a escuridão do corredor. O mestre veio de dentro do salão e comentou:

"Está muito escuro, tome, leve esta vela acesa," e lhe passou uma das velas acesas do altar. Quando Hsüen-chien pegou a vela trazida pelo mestre, Longtan subitamente assoprou-a, apagando a luz e deixando ambos silenciosos em meio à escuridão. Neste momento Hsüan-chien atingiu o Satori.

No dia seguinte, levou todos seus livros e comentários para o pátio e os queimou.


Tokusan Senkan (Em chinês, Tê-shan Hsüan-chien: 790-865): outro grande Mestre da T’ang. É o personagem de diversos koans e um deles, o caso vigésimo oitavo do Mamokan, conta como atingiu a iluminação quando seu mestre soprava uma vela.



O despertar lembra, às vezes, um mergulho no abismo: quando o pensamento se interrompe, o solo como que foge sob os nossos pés. A descrição do ambiente, mantida artificialmente pela linguagem, desaparece como o torrão de açúcar numa xícara de chá. Ao pressentir essa ruptura da percepção, o mestre não hesita em precipitá-la.

Depois de uma longa discussão, Lung-T’an pediu que Te-Shan fosse se deitar. Este saiu na escuridão, mas logo voltou à cela do mestre em busca de uma candeia. Lung-T’an estendeu ao discípulo uma vela acesa, porém, quando o outro se preparava para sair, assoprou-a. Te-Shan compreendeu imediatamente.

Ao oferecer a vela, Lung-T’an mostrava ao discípulo que não é indispensável ser esclarecido para ver, que é ilusório buscar a compreensão (o caminho na noite) com o amparo da razão (a vela). Te-Shan não precisa de uma vela para se reconhecer num mundo idêntico à sua própria natureza indiferenciada.

A percepção não pode ser "verbalizada", sancionada por uma digressão mental. Ela se dá de um golpe, sem barulho...

O Tch’an, desconfiado do fetichismo religioso, parece, às vezes, comprazer-se numa espécie de iconoclastia que chega a espantar os comentadores:

‘Não vejo as coisas como as viam nossos ancestrais.
Não há aqui nem Patriarca, nem Buda.
Bodhidharma não passa de um velhote fedorento,
Gautama é papel seco."

Os mestres, provocando os discípulos com tais palavras, não têm a intenção de escandalizá-los, mas de levá-los a reagir. O Buda e os Patriarcas não devem tornar-se imagens piedosas, caso contrário, os adeptos estarão sendo induzidos a uma prática fetichista.

Essa atitude iconoclasta nada tem a ver com o cinismo ou o agnosticismo. já que se afirma na perspectiva do despertar: banir toda distinção entre o "sagrado" e o "profano".

A iconoclastia é pedagógica. Pobre do discípulo suficientemente estúpido para caluniar o Buda e os Patriarcas!

A anedota zen apresenta-se como um enigma, uma incoerência para a razão empenhada em lhe arrancar um sentido oculto, esotérico ou simbólico. Na verdade, trata-se de uma devastação do espírito crítico ou analítico.

O instante da "afronta" é intraduzível, não possibilita cópias ou imitações, senão perderia a autenticidade e não escaparia ao tempo horizontal, discursivo.


  1. Extraído de "Os três pilares do Zen" de Philip Kapleau
  2. Extraído de "O Zen" de Jean-Michel Varenne
  3. Extraído de "Ensinos do Mestre Zen Anzan Roshi"(texto compilado pelo Ven. Jinmyo Fleming ino e traduzido ao Português por Claudio Miklos.



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