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O Samsara


Se o mundo ao redor parece hostil e sem rumo, se você vive se perguntando o sentido da vida e não encontra respostas, se parece que a alegria nunca é completa e que sempre falta algo, não se culpe. Não é um problema seu. Não pense que você tem algum desajuste ou trauma. O sofrimento permeia todos os seres, e isso não inclui apenas o reino humano. Ele se estende igualmente aos animais e aos seres com e sem corpo nos inimagináveis modos de existência por todos os universos. Isso não é propriamente uma boa notícia, mas ao menos pode aliviar o peso de uma possível culpa individual. O objetivo do budismo é trazer uma solução definitiva para esse quadro.

Seus pais passaram e passam por essas dificuldades também, assim como os pais, irmãos e primos deles. Quando abriram os olhos para o mundo, viram as limitações de seus próprios pais e pensaram em fazer diferente. Envelheceram, geraram vocês, e as dúvidas permaneceram. Não puderam conduzi-los a outra situação que não a mesma.

Os filhos de vocês também vão defrontar-se com essa situação. Vão vivenciar a insatisfação, a raiva, o orgulho, a inveja, a ignorância. Vão alegrar-se com o que é irreal, buscar apoio onde não há sabedoria, passar por depressões, medos, esperanças infundadas, vão envelhecer e morrer. Orgulhosos, irão buscar atalhos e fracassar. A vida é paciente para ver as soluções orgulhosas retornarem uma a uma à realidade comum a todos. Quando buscarem novamente apoio em vocês, o que dirão? Que ajuda verdadeira poderão dar? Talvez sejam seus próprios pais que venham pedir ajuda. O que dirão a eles? É como ver alguém se afogando sem poder ajudar. É como ver a casa queimando e não poder retirar os filhos de dentro.

Você pensa que dirige sua vida, mas não consegue parar de fumar, deixar o álcool, abandonar o açúcar, iniciar e manter aquele regime ou levantar mais cedo pela manhã. Por mais que tente evitar, a raiva, a depressão e o cansaço aparecem periodicamente. Do mesmo modo, aquela pessoa que você amava ontem e fez votos de amar para sempre hoje já não parece mais tão atraente, e pessoas que gostavam muito de você agora o tratam com frieza. Assim é o samsara, o mundo condicionado: impermanente, sem um sentido último, cheio de esperança e medo.

Nem sempre as inquietações surgem. Na verdade, acostumamo-nos às limitações e as julgamos perfeitamente normais. Temos uma doença coletiva que não é reconhecida como tal, mas que também se manifesta como tensão, rosto crispado, problemas cardíacos, relações desarmônicas, incapacidade de ouvir, dificuldade de concentração, inadaptação no trabalho, notas ruins na escola, depressão, isolamento, sensibilidade às críticas, impossibilidade de sentir afeto, falar torrencial, competição contínua, sobressalto constante, satisfação flutuante, insônia, etc. Esses problemas psicossomáticos manifestam-se espontaneamente, inexplicavelmente, sem aviso ou justificativa.

Todos esses aspectos são dificuldades, sofrimentos. Buscar resolvê-los mudando tudo em volta é a prática mais comum. Ter filhos, marido, esposa, colegas, mudar de casa, de emprego, de cidade, sonhar com a praia, com os picos do Himalaia, com o Nepal, o Tibete, a Índia, com riqueza. Estar em um lugar pensando em outro. Estar com uma pessoa pensando em outra. Estar no trabalho pensando nas férias.



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