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O reencontro Justamente uns dois ou três dias antes, ela teve um estranho sonho. Tach Lang e ela estavam vagando à procura da mãe, da sua Má. Inicialmente, eles se achavam em pé numa colina, de manhã, com o sol quente de verão brilhando acima deles. Havia sete ou oito sóis e também havia uma lua e estrelas, nem podia acreditar! Somente sabia que tudo estava alegre como numa festa. De repente, ouviu explosões e os sóis começaram a desmoronar, um após o outro, extinguindo-se ao descer. O céu, então, escureceu; lua e estrelas desapareceram. Em seguida, gritos angustiados chegaram-lhe de todos os lados. Deu-se conta de repente que todos esses terríveis acontecimentos ocorriam devido à perda da mãe. Se ela pudesse reencontrá-la, reapareceriam no céu os sóis, quentes e brilhantes; a lua e as estrelas também voltariam, numa noite de luar sem nuvens. Vagou, tropeçando na escuridão, os ouvidos cheios de gritos de milhares e milhares de outras crianças sem mãe, quando, então, de lugar nenhum, apareceu Thach Lang, com um girassol na mão. Era uma flor, grande como uma cidra de Bien Hoa e cheia de luz. Thach Lang a segurava como um lampião. Então foram em aldeias e vilas mergulhadas em profunda escuridão. Pararam uma vez, Thach Lang levantou seu girassol e começou a cantar. Pouco tempo depois, uma porta abriu-se e um raio de luz escapuliu. Alguém saiu e acenou, mas não conseguiu ver o rosto. T’ô se perguntou depois por que Thach Lang e ela não tinham se adiantado e pedido notícias da Má: só haviam acenado e tinham ido embora. Pararam novamente, desta vez frente a uma carreira de casas, encostadas umas contra as outras tal qual uma montanha silenciosa e gelada em noite negra. Thach Lang novamente levantou seu girassol e cantou. Após um longo tempo, longo mesmo, abriu-se uma janela deixando asca par uma pálida luz; em seguida, outras janelas se abriram e pessoas apareceram, havendo uma luz atrás de suas formas escuras. Enquanto as pessoas acenavam para eles, ouviram feras rosnarem e, como esses terríveis rosnados se tornassem cada vez mais fortes e mais próximos, T’ô pegou a mão de Thach Lang e fugiram correndo. Depois, viu Thach Lang e ela própria numa densa floresta e ele dirigia seu girassol para cada árvore, cada arbusto e cada pedra. Então, eles se encontraram no fundo do oceano e, à luz da flor, olharam cada peixe e cada alga. Foram em todos os lugares e em cada lugar olharam com muita atenção até que encontraram um homem velho, muito velho, cujos cabelos eram brancos como neve, O velho deu a Thach Lang algo grande e redondo como uma cabaça cuja cor cintilava como nácar. Disse-lhes que era o sol do Palácio do Mar e que eles podiam pedi-lo emprestado para voltar à terra e procurar sua Má. Quando T’ô ia levantar a mão para pegá-lo, acordou de repente. Tentou adormecer novamente e continuar sonhando, mas não conseguiu. Ao longe, ouviu o tiroteio dos canhões e ficou muito deprimida. Devia ser muito tarde e todos dormiam profundamente. Levantou e abriu a janela. O ar fresco, quase frio, penetrou no quarto, o que lhe fez muito bem. T’ô foi tateando ao lado da cama e encontrou a flauta que ergueu até os lábios. Começou a tocar muito suavemente, pois não queria acordar ninguém. Ela tocou demoradamente até que ouviu algo mais do que, sua música. Recolocou a flauta no lugar. Era um passarinho, um que devia conhecê-la bem. Era o passarinho que tinha "conversado" com ela, várias vezes, na floresta de sua aldeia natal e uma vez no riacho. Ela ficou feliz como se tivesse reencontrado Thach Lang. O passarinho dizia-lhe agora que Thach Lang tinha também chegado aqui. T’ô levantou a flauta e, tocando, pediu para ele confirmar o que ela havia entendido. Sim, realmente, não havia erro: o passarinho estava dizendo que Thach Lang voltara. Colocou um casaco nos ombros e, com a flauta na mão, abriu a porta e saiu para o pátio. Ao chegar no portão, puxou o trinco, empurrou o portão e saiu. Então ouviu alguém chamá-la pelo nome: — T’ô! Voltou-se e era Thach Lang. Ele se precipitou em sua direção e abraçaram-se fortemente. T’ô estava calma, chorando suavemente. Em seguida, ouviram o passarinho gritar no céu e Thach Lang disse a T’ô: — Vamos partir agora, antes que amanheça. |