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INTRODUÇÃO À MEDITAÇÃO
Uma visão da meditação budista através dos textos
Este é um trabalho de seleção e ordenação de textos
de vários autores e mestres budistas por
Karma Tenpa Darghye.

Ensinamentos de Namkhaï Norbu Rinpoche

Retirados do livro: Dzogchen – O Estado de Auto-perfeição.

Tradução para o português: Maria Heleosina Ribeiro Pessoa

Encontrar-se no estado de contemplação significa estar completamente relaxado, assim se a pessoa se torna apegada a experiências de prazer, ou condicionada por uma visão ou um estado sem pensamentos, isto terá um efeito oposto ao desejado. A fim de relaxar, o indivíduo não deve estar "bloqueado" por uma experiência, tomando-a erroneamente pelo estado de contemplação. Este pode ser um grande obstáculo à realização. Se um praticante permanece absorvido por dias e dias num estado de prazer, ou de vacuidade, sem manter a presença da contemplação, isto é como cair adormecido em uma experiência. Isto acontece quando as experiências são erroneamente assumidas no lugar do verdadeiro objetivo da pessoa.

A prática do Dzogchen pode começar pela fixação em um objeto, a fim de acalmar os pensamentos da pessoa. Então ela relaxa a fixação, dissolvendo a dependência do objeto, e fixa o olhar no espaço aberto. Então, quando ela consegue tornar o estado calmo estável, é importante trabalhar com o movimento dos seus pensamentos e energia da pessoa, integrando este movimento com a presença da contemplação. Neste ponto a pessoa está pronta para aplicar a contemplação ao seu cotidiano.

Se alguma coisa maravilhosa aparece diante de nós, mas nós não entramos em julgamento em relação a ela, ela permanece parte de nossa claridade. O mesmo é verdadeiro se alguma coisa horrível nos aparece. Assim por que nós desenvolvemos desejo por uma e aversão pela outra? Claridade não pertence à nossa mente racional, mas à essência pura do estado primordial, que está além tanto do bom como do mau.

É importante manter a presença na contemplação, sem corrigir o corpo, a voz, ou a mente. O indivíduo precisa encontrar-se numa condição relaxada, mas os sentidos precisam estar presentes e alertas, porque eles são as portas para a claridade. A pessoa relaxa sem esforço nenhum, abandonando toda tensão com respeito à posição do corpo, respiração, e pensamentos, apenas mantendo uma presença vívida.

Quando alguém começa a praticar, pode parecer que a confusão de seus pensamentos está aumentando, mas isto é na verdade devido ao relaxamento da mente. De fato, este movimento de pensamentos sempre existiu; é que apenas agora a pessoa está Quando alguém começa a praticar, pode parecer que a confusão de seus pensamentos está aumentando, mas isto é na verdade devido ao relaxamento da mente. De fato, este movimento de pensamentos sempre existiu; é que apenas agora a pessoa está consciente deles, porque a mente ficou mais clara, da mesma maneira que, enquanto o mar estiver agitado, não se pode ver seu fundo, mas quando ele se acalma pode-se ver o que está lá embaixo.

Quando nos tornamos conscientes do movimento de nossos pensamentos, precisamos aprender a integrá-los com presença, sem segui-los ou deixar-nos distrair por eles. O que queremos dizer com "deixar-nos distrair"? Se eu vejo uma pessoa e tomo uma antipatia imediata por ela, isto significa que eu permiti a eu mesmo ser pego num julgamento mental; isto é, eu me distrai. Se eu mantiver a presença, por outro lado, por que eu deveria tomar antipatia por alguém que eu vejo? Aquela pessoa também é realmente parte de minha própria claridade. Se eu realmente entender isto, todas as minhas tensões e conflitos se dissolverão, e tudo se estabilizará num estado de completo relaxamento.

Uma pessoa que está começando a praticar geralmente prefere retirar-se para um lugar ermo, porque ela precisa encontrar um estado de calma e equilíbrio mental. Mas quando alguém começa a ter verdadeira experiência de estado de contemplação ela necessita integrá-la às atividades diárias de caminhar, conversar, comer, etc. Um praticante Dzogchen nunca necessita se afastar da sociedade e retirar-se para meditar no topo de uma montanha. Isto é especialmente impróprio na nossa sociedade moderna, na qual todos temos que trabalhar para comer e viver normalmente. Se nós soubermos como integrar nossa contemplação à nossa vida diária, entretanto, manifestaremos progresso em nossa prática do mesmo modo.

Praticar significa integrar-se com a visão. O termo "visão" aqui inclui todos os nossos sentidos de percepção. Se eu estou numa sala ouvindo uma música agradável, ou em algum lugar onde existe um barulho muito ensurdecedor, tal como numa fábrica, não deve fazer diferença, porque tudo é parte da visão. Se eu sinto o delicado aroma de uma rosa, ou o odor de um banheiro, estes também são parte da visão, e na contemplação esta visão é percebida como a manifestação da energia do estado primordial, com nada a ser rejeitado ou aceito. Assim, a essência da prática é encontrar a si mesmo num estado de presença relaxada, integrada com qualquer percepção que possa surgir.

Quando nós estamos no estado de contemplação, mesmo se um milhão de pensamentos surgem, nós não os seguimos, apenas permanecemos observando tudo o que acontece. Isto é o que significa presença. Encontrar a si mesmo no estado de "o que é" significa manter continuamente a presença. Assim a samaya do Dzogchen significa não se tornar distraído, e apenas isso. Mas isto não significa que se alguém se torna desatento quebrou sua samaya. O que a pessoa tem que fazer é notar o que aconteceu, e tentar novamente não se distrair.

Existem duas maneiras de não se distrair. A mais elevada destas é quando a capacidade de contemplação da pessoa é suficientemente desenvolvida para que ela consiga integrar todas as suas ações com o estado de presença. Este é o ponto final de chegada da prática, e é conhecido como a Grande Contemplação. Mas na medida em que a pessoa não é capaz de atingir este nível, existe uma maneira de não se distrair que está mais ligada à mente, na qual a pessoa tem que manter um mínimo de atenção. Esta não é a verdadeira contemplação, porque existe ainda uma certa quantidade de intencionalidade, de trabalho ativo com a mente racional, envolvida. Mas este estágio, contudo é muito útil para nos ajudar a desenvolver o estado de presença.

Se nós notarmos qualquer intenção surgindo, é importante relaxá-la, mas sem entrar numa atitude de lutar com nossa distração, que nos traria o efeito oposto ao desejado. Nas nossas vidas diárias precisamos relembrar sempre de relaxar, porque esta é a chave de tudo para nós. Tomemos um exemplo concreto: suponha que enquanto estamos sentados em uma sala, vem à nossa cabeça a idéia de ir e pegar um objeto em uma outra sala. Assim que este pensamento surge, nós o reconhecemos, e estamos conscientes dele, mas não tentamos bloqueá-lo, ou fazê-lo dissolver-se. Sem nos tornarmos distraídos, mantendo uma presença relaxada, nós nos levantamos e vamos à outra sala, tentando permanecer presente em tudo o que fazemos. Esta é uma prática extremamente importante, que não requer nem uma posição particular e controle da respiração, nem qualquer visualização. Tudo o que a pessoa tem que fazer é permanecer presente e relaxada.

Mas no Dzogchen, na Série da Natureza da Mente, lhagtong é um nível da integração do estado de presença com o movimento. É também chamado de "estado inalterável" (mi.g.yo.ba), que não pode ser perturbado por qualquer movimento. "Movimento" aqui inclui também a energia do prana cármico, que usualmente tem influência considerável na mente. Neste estado, todos os aspectos do corpo, fala e mente estão integrados com a contemplação. Se um praticante estiver meditando próximo de uma máquina barulhenta, ele não tem que procurar um lugar quieto, porque neste estágio de prática ele está completamente integrado com qualquer tipo de percepção. O praticante não está mais obrigado a permanecer ligado ao estado calmo, mas está consciente da dimensão cármica do movimento, e não o percebe como externa a ele.

Quando os níveis de progresso na contemplação são explicados, as imagens de uma corrente, um rio, e um mar, etc, são usados como exemplo do desenvolvimento da capacidade de integração alcançada. Quando um praticante conseguiu estabilidade completa na contemplação, mesmo se ele não estiver engajado em qualquer prática em particular, tão logo ele adormece ele encontra a si próprio no estado da luz natural, e quando ele sonhar, está consciente de que ele está sonhando. Tal prática individual está completa, e se ele viver ou morrer, ele está sempre presente tendo alcançado o Sambhogakaya. Quando ele morre, e o "Bardo da Condição Essencial" (dharmata) se manifesta, ele está pronto naquele mesmo instante para se integrar na realização.


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