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INTRODUÇÃO AO BUDISMO de vários autores e mestres budistas por Karma Tenpa Darghye. INTRODUÇÃO AO BUDISMO Uma visão da doutrina budista através dos textos Este é um trabalho de seleção e ordenação de textos de vários autores e mestres budistas por Karma Tenpa Dargye
Budha desenvolveu muitos métodos táticos para levar as pessoas a abandonarem os apegos das suas mentes discriminadoras (que ele via como a fonte dos problemas). Explicou por que agia desta forma, através da parábola da casa em chamas:Em uma cidade de um determinado país, havia um grande ancião, cuja casa era enorme, mas só tinha uma porta estreita. Esta casa estava muito estragada e um dia, de repente, irrompeu um grande incêndio que rapidamente começou a se alastrar. Dentro da casa estavam muitas crianças, e o ancião começou a implorar para que saíssem. Mas todas estavam absortas nas suas brincadeiras e, embora tudo levasse a crer que iriam morrer queimadas, elas não prestaram a menor atenção ao que o ancião dizia e não mostravam pressa de sair. O ancião pensou um momento. Como era muito forte, poderia colocar todas dentro de um caixote e tirá-las rapidamente. Mas, depois, viu que, se o fizesse, algumas poderiam cair e se queimar. Por isso, resolveu alertá-las sobre os horrores do incêndio, para que saíssem por sua livre e espontânea vontade. Aos gritos, pediu que fugissem imediatamente, porém as crianças deram uma olhada e não tomaram conhecimento. O grande ancião lembrou-se que todas as crianças queriam carroças de brinquedo e, assim, chamou-as dizendo que viessem depressa ver as carroças de bodes, veados e bois que tinham chegado. Ao ouvirem isto, as crianças finalmente prestaram atenção e caíram umas sobre as outras, na ânsia de saírem, fugindo, desta maneira, da casa em chamas. O ancião ficou aliviado por terem escapado ilesas do perigo, e, quando elas começaram a perguntar pelas carroças, deu a cada uma não aquelas simples que elas queriam, porém carroças magnificamente decoradas com objetos preciosos, puxadas por grandes novilhos brancos. O simbolismo desta estória talvez esteja bastante óbvio. O ancião é Budha, a casa em chamas é a natureza da existência que Budha chamou de ‘Duka’ (isto é, incapaz de dar uma satisfação duradoura, porque, em todos os aspectos, é inconsistente e transitória). As crianças são a humanidade e suas brincadeiras representam as diversões mundanas com as quais estamos tão ocupados que, muito embora estejamos vagamente conscientes da vida e da verdadeira natureza, não prestamos atenção para isto. As carroças de bode, veado e boi são os métodos de ensino temporários, na realidade o ‘chamariz’ através do qual Budha pode nos fazer escutar e começar a praticar o Dharma, e as carroças magníficas, puxadas por grandes novilhos brancos, representam a própria Iluminação, para a qual Budha só nos conduzirá se tiver nossa cooperação e entrega. O espírito da estória toda do Dharma de Budha talvez esteja resumido nesta estória. Ela foi adaptada e difundida por meio de todos os seus grandes sucessores do Dharma. Demonstra também a natureza provisória daquilo que Budha ensinou, associando seu ensinamento a um barco, que é útil enquanto a pessoa está atravessando o rio, mas que poderá ser abandonado depois. É por isso que, na tradição Zen, o Dharma foi chamado de o dedo que aponta para a lua. No Sutra Lankavatara, Budha é mencionado como tendo dito: "Se um homem se apega ao significado literal das palavras.., a respeito do estado original da iluminação, o qual é não-nascido e que não morre..., começa a ter pontos de vista positivos ou negativos. Assim se as diferenças dos objetos são vistas como verdadeiras, e distinguidas como reais, se afirmações errôneas forem feitas, as distinções errôneas continuam. É por meio do ignorante que as distinções continuam, e o sábio faz o contrário." E, como vemos no Vajrachedika Sutra (Sutra do Diamante): Assim você deve pensar deste mundo fugaz; Uma estrela ao amanhecer, uma espuma no regato; Uma faísca de relâmpago, em uma nuvem de verão; Uma lâmpada cintilando, um fantasma, e um sonho. Muito embora o Dharma tenha sido formulado dentro das Quatro Nobres Verdades, do Caminho Óctuplo, das Cinco Virtudes Espirituais e dos Cinco Obstáculos à Prática, dos Doze Elos da Existência Condicionada e muito mais, todos estes constituem os diversos meios práticos para compreendermos a verdadeira natureza do coração e da mente humanos. Por isso, em outro lugar, os Sutras nos falam que, entre a Iluminação, em Magadha, e a morte ou paranirvana, em Kusinagara, Budha não proferiu nenhuma palavra de ensinamento; que não alcançou a Iluminação embaixo da árvore Bodhi, em Magadha, e que eternamente esteve sentado sobre o "Pico dos Abutres", pregando o Dharma para a assembléia (o Sangha). Em Zen Flesh, Zen Bones, tradução para o inglês de Nyogen Senzaki e Paul Reeps, encontramos o seguinte: Budha disse: "Considero a condição dos reis e legisladores como grãos de poeira. Observo os tesouros de ouro e as pedras preciosas como sendo tijolos e seixos. Para mim, as mais finas vestes de seda são trapos esfarrapados. Vejo mundos de miríades, no universo, como pequenas sementes de fruta, e o maior lago da Índia como uma gota de óleo no meu pé. Percebo os ensinamentos do mundo como a ilusão dos mágicos. Distingo a mais alta concepção de libertação como um brocado dourado de um sonho, e vejo o caminho sagrado dos iluminados como flores que aparecem nos olhos de alguém. Encaro a meditação como o pilar de uma montanha, o samsara como um pesadelo no dia. Considero o julgamento do que é certo e errado como a dança sinuosa de um dragão, e o aparecer e desaparecer das crenças como nada mais do que vestígios das quatro estações". Extraído de "Elementos do Zen" de David Scott e Tony Doubleday |