Caros amigos, muito se tem falado sobre o fato do Zen ser ou não ser uma religião (até agora ainda não chegaram a uma conclusão), não que isso importe em alguma coisa, para um praticante zen o nome que é dado ao seu treinamento ou método de vida não faz a menor diferença, porque faria diferença alguma coisa ser chamada desse ou daquele nome, o que importa, no final das contas é o resultado final. Desse modo aí vai o que pensam os mestres:

"As coisas boas podem se transformar em coisas ruins. Por exemplo: quando a pessoa está fazendo coisas boas, ela pode começar a cobrar dos outros: "você tem que fazer isto, você está errado", e assim por diante. Agindo desta forma a pessoa começa a machucar os outros. Mesmo as coisas boas correm este risco. Devemos sempre lembrar de não prejudicar os seres vivos, não prejudicar os outros.

Se você está fazendo o bem, tudo certo, mas às vezes pode prejudicar os outros. Por que acontece tal coisa? Porque o egocentrismo ainda existe.

Existem dois tipos de bem: o bem deste mundo e o bem que está além deste mundo. O bem deste mundo é aquele que a pessoa pratica esperando uma recompensa.

A Bíblia também fala a respeito das pessoas que doam enormes quantias de dinheiro e que fazem isso na presença de muita gente. O que significa essa atitude? Sem querer, ou querendo, a pessoa está mostrando que está fazendo o bem, mas a isto se chama um falso bem, porque o egoísmo está sempre presente.

No Zen, algo semelhante pode ocorrer: a pessoa treina, esperando a Iluminação, e incorre neste erro. Para evitar tais procedimentos, o Zen budismo ensina o 'Shikantaza', que significa 'só sentar'. Não há 'Koan' dentro do 'Zazen' e não se almeja ganhar a Iluminação. A pessoa simplesmente se senta.

Existem muitas religiões e, no caso do Brasil, estão presentes todos os tipos de religiões que se possa imaginar, inclusive as religiões novas do Japão. Estas Igrejas, geralmente, fazem propaganda de si próprias, como por exemplo: "Se você entrar para a nossa escola religiosa toda a sua família vai ficar feliz; seus negócios vão andar bem e você ficará rico; todas as suas doenças vão acabar, etc." E realmente, deste modo estas escolas religiosas

ganham muito dinheiro.

No entanto, essas são ainda religiões deste mundo. E a religião é algo que está além deste mundo. É necessário eliminar a idéia de egocentrismo para que todas as coisas estejam bem. Não prejudicar os outros significa não esquecer o Caminho para com o próximo e quer dizer entender a situação das outras pessoas.»

(Tokuda Sensei - Psicologia Budista, pág.s 45-6)

Ainda sobre isto, Joko Beck acrescenta:

«A verdadeira prática (...) é muito mais voltada para enxergarmos como nos ferimos e magoamos os outros com pensamentos e atos iludidos. É enxergarmos de que maneira magoamos os outros, talvez por estarmos simplesmente tão perdidos em nossos próprios pensamentos que nem sequer conseguimos vê-los. Não acho que de fato causemos danos aos outros; é só que não vemos muito bem o que estamos fazendo. Posso saber como está indo a prática de uma pessoa vendo se seu interesse pelos outros está aumentando, interesse que vai além do que meramente EU quero, do que está ME ferindo, se como a vida é terrível, e assim por diante. Esse é o sinal de uma prática que está avançando. A prática sempre é uma batalha entre aquilo que queremos e aquilo que a vida quer.» (Nada de especial: vivendo zen, pág. 71).