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O Espelho dos Pontos Essenciais

por Nyoshül Khenpo Jamyang Dorje

Uma Carta de Louvor à Vacuidade
de Nyoshül Khenpo Jamyang Dorje à sua Mãe

Presto homenagem aos pés de lótus de Tenpe Nyima,
Que é inseparável do senhor do Dharma, Longchen Rabjam,
E que percebe o estado natural de vacuidade
Da infinidade de coisas que é como o oceano.

Ofereço uma carta de conselho a você, minha nobre mãe, Peldzom;
Ouça por um momento, sem distração.

Permanecendo aqui sem desconforto,
Estou em bem-estar e livre de preocupações,
Em um estado de mente alegre.
Você está bem, minha cara mãe?

Aqui, em um país do oeste,
Há muitas pessoas de pele vermelha e branca.
Eles têm todos os tipos de mágicas e aparições,
Como voar através dos céus
E se mover como um peixe nas águas.
Tendo maestria sobre os quatro elementos,
Eles competem na exibição de milagres
Com milhares de belas cores.

Há uma quantidade infinita de espetáculos,
Como desenhos de cores de arco-íris,
Mas como um mero sonho, quando são examinados,
Eles são as percepções confundidas da mente.

Todas as atividades são como os jogos que as crianças brincam;
Se são feitas, elas nunca podem ser finalizadas.
Elas só são completadas uma vez que você as deixa,
Como os castelos feitos de areia.

Mas isto não é a história toda;
Todos os fenômenos do samsara e do nirvana
Não duram, apesar de pensarmos que eles são permanentes.
Quando examinados, eles são meras formas vazias
Que aparecem sem existência.
Apesar de irreais, pensamos que eles são reais,
E quando examinados, eles são irreais como uma ilusão.

Olhe externamente, para os objetos aparentes;
Como a água em uma miragem,
Eles são mais delusivos do que uma ilusão.
Irreais, como sonhos e ilusões,
Eles são como luas refletidas e arco-íris.

Olhe internamente para a sua própria mente;
Ela parece bem excitante quando não é examinada.
Mas quando é examinada, nada há para ela.
Aparecendo sem ser, ela nada mais é do que o vazio.
Ela não pode ser identificada ao dizermos, "é isso!",
Mas é evanescente e enganosa como a névoa.

Olhe para tudo o que possa aparecer
Em qualquer uma das dez direções.
Não importa como elas possam aparecer;
A coisa em si, a sua própria natureza,
É a natureza da mente, que é como o céu,
Além da projeção e da dissolução do pensamento e do conceito.

Tudo tem a natureza do ser vazio.
Quando o vazio olha para o vazio,
Quem está lá para olhar algo vazio?
De que serve fazer uso de muitas classificações,
Como "ser vazio" e "não vazio",
Já que isso é a ilusão olhando para a ilusão,
A delusão assistindo a delusão?

"A natureza da mente, sem esforço é como o céu,
A vasta expansão do insight,
É o estado natural de todas as coisas.
Nela, tudo o que você faz é correto;
Onde quer que você descanse, você está em bem-estar."
Isto foi dito por Jetsün Padmasambhava
E pelo mahasiddha Saraha.

Todos os projetos conceituais,
Tais como "são dois" ou "não são dois" -
Deixe-as como as ondas de um rio,
Espontaneamente livres em si mesmas.

O grande demônio do pensamento ignorante e discursivo
Nos faz afundar no oceano do samsara,
Mas quando somos liberados do pensamento discursivo,
Há um estado indescritível, além da mente conceitual.

Além dos meros pensamentos discursivos,
Não há nem mesmo as palavras "samsara" e "nirvana".
A pacificação total do pensamento discursivo
É a essência do dharmadhatu.

Não produzido pelas afirmações complexas,
Esta única gota não-fabricada
É a vacuidade, o estado natural da mente.
Assim foi dito pelo Sugata.

A essência do que quer que possa aparecer,
Quando simplesmente deixada em si,
É a visão não-fabricada e não-corrupta,
O dharmakaya, a mãe da vacuidade.

Todo pensamento discursivo é a vacuidade
E o vidente da vacuidade é o pensamento discursivo.
A vacuidade não destrói o pensamento discursivo
E o pensamento discursivo não bloqueia a vacuidade.

A vacuidade quádrupla da mente em si
É o aspecto último de todas as coisas.
Profunda e tranqüila, livre da complexidade,
A luminosa claridade não-composta,
Além da mente das idéias conceituais -
Isto são as profundezas da mente dos vitoriosos.

Nela não há uma única coisa a ser removida,
Nem qualquer coisa que precise ser adicionada.
É meramente o imaculado,
Olhando naturalmente para si mesmo.

Resumindo, quando a mente tiver cortado totalmente
Os grilhões do apego a alguma coisa,
Todos estes pontos são condensados aí.
Esta é a tradição do ser supremo Tilopa
E do grande pandita Naropa.

Um profundo estado natural como este
Está entre todos os tipos de êxtase,
A sabedoria do grande êxtase.
Entre todos os tipos de deleite,
É o rei do deleite supremo.
É a quarta iniciação suprema
De todas as seções tântricas dos mantras secretos.
É a instrução de apontamento último.

A visão do "samsara e nirvana inseparáveis"
É a visão do Mahamudra, do Dzogchen, do Madhyamika e dos outros
Têm muitos títulos variados,
Mas apenas um significado essencial -
Esta é a visão do lama Mip'ham.

Como uma ajuda a este rei das visões,
Devemos começar com a bodhichitta
E concluir com a dedicação.

Para cortar, através dos meios hábeis,
A fixação sobre o ego, a raiz do samsara,
O rei de todos os grandes métodos
É a bodhichitta insuperável.

O rei da dedicação perfeita
São os meios para aumentar as raízes de virtude.
Este é o ensinamento especial de Shakyamuni
Que não é encontrado com outros professores.

Para realizar a iluminação completa,
Mais do que isso não é necessário,
E menos do que isto será incompleto.
O caminho rápido das três excelências,
Chamadas de "coração", "olho" e "força vital",
É a abordagem de Longchen Rabjam.

A vacuidade, a jóia que realiza desejos,
É a generosidades não-apegada.
É a ética não-corrupta.
É a paciência sem raiva.
É o esforço não-deludido.
É a meditação não-distraída.
É a essência da sabedoria.
É o significado nos três yanas.

A vacuidade é o estado natural da mente.
A vacuidade é o refúgio não-conceitual.
A vacuidade é a bodhichitta absoluta.
A vacuidade é o Vajrasattva que absolve o mal.
A vacuidade é o mandala das acumulações perfeitas.
A vacuidade é o guru yoga do dharmakaya.

Permanecer no estado natural da vacuidade
É chamado de "permanência calma" do shamatha,
É percebê-la de maneira vividamente clara
É a visão "visão clara" do vipashyana.

A visão do perfeito estágio de geração,
A sabedoria do êxtase e da vacuidade no estágio de perfeição,
A grande perfeição não-dual
E a gota única do dharmakaya -
Todos estão incluídos na vacuidade.

A vacuidade purifica os karmas.
A vacuidade elimina as forças obstrutoras.
A vacuidade doma os demônios.
A vacuidade realiza as divindades.

O estado profundo da vacuidade
Seca o oceano da paixão.
Ela amassa a montanha da raiva.
Ela ilumina a escuridão da estupidez.
Ela acalma a tempestade da inveja.
Ela vence a doença dos venenos mentais.
Ela é um amigo no sofrimento.
Ela destrói a vaidade na alegria.
Ela conquista na batalha com o samsara.
Ela aniquila os quatro maras.
Ela transforma os oito dharmas mundanos em um mesmo sabor.
Ela subjuga o demônio da fixação no ego.
Ela transforma as condições negativas em ajuda.
Ela transforma os maus presságios em boa sorte.
Ela faz manifestar a iluminação completa.
Ela dá nascimento aos buddhas dos três tempos.
A vacuidade é a mãe do dharmakaya.

Não há ensinamento mais alto do que a vacuidade.
Não há ensinamento mais rápido do que a vacuidade.
Não há ensinamento mais excelente do que a vacuidade.
Não há ensinamento mais profundo do que a vacuidade.

A vacuidade é o "conhecendo-se um, liberam-se todos."
A vacuidade é o rei supremo dos remédios.
A vacuidade é o néctar da imortalidade.
A vacuidade é a realização espontânea além do esforço.
A vacuidade é a iluminação sem esforço.

Meditando sobre a vacuidade,
Sentimos uma compaixão tremenda
Diante dos seres obscurecidos pela crença num eu, como nós mesmos,
E a bodhichitta surge sem esforço.

Todas as qualidades do caminho e dos estágios
Aparecerão naturalmente e sem esforço,
E sentiremos uma convicção, de coração,
Na lei dos efeitos infalíveis das ações.

Mesmo se tivermos apenas um momento da certeza
Neste tipo de vacuidade,
A corrente apertada do apego ao ego
Se quebrará em pedaços.
Isto foi dito por Aryadeva.

Meditar sobre a vacuidade é mais supremo
Do que oferecer, aos Sugatas e aos seus filhos,
Todos os infinitos campos de Buddha
Preenchidos com a oferenda dos deuses e humanos.

Se o mérito de descansar neste estado natural,
Mesmo que apenas por um instante,
Tomasse uma forma concreta,
O espaço não poderia contê-lo.

O senhor incomparável dos sábios, Shakyamuni,
Por causa desta vacuidade profunda,
Jogou seu corpo em piras de fogo,
Deu sua cabeça e seus membros,
E realizou centenas de outras austeridades.

Apesar de você encher o mundo com grandes montes
De presentes de ouro e de jóias,
Este ensinamento profundo sobre a vacuidade,
Mesmo quando procurado, é difícil de ser encontrado.
Isto foi dito nos cem mil versos da Perfeição da Sabedoria.

Encontrar este ensinamento supremo
É o poder esplêndido do mérito
De muitos éons, além da contagem.

Resumindo, através da vacuidade,
Para o benefício de nós mesmos,
Estamos liberados na vasta expansão do dharmakaya não-nascido,
A iluminação completa e manifesta
Dos quatro kayas e das cinco sabedorias.
A exibição não-obstruída do rupakaya
Irá então surgir incessantemente para ensinar o que quer que seja preciso,
Movendo as profundezas do samsara para o benefício dos outros
Através da atividade espontânea, constante e que tudo permeia.
Em todos os sutras e tantras,
Isto é dito como sendo a fruição última.

Como alguém como eu poderia colocar em palavras
Todos os benefícios e virtudes disto,
Se nem mesmo o Vitorioso, com sua língua-vajra,
Não pôde exauri-los, mesmo que ele falasse por um éon?

O senhor glorioso, o mestre supremo
Que dá os ensinamentos sobre a vacuidade,
Aparece na forma de um ser humano,
Mas sua mente é verdadeiramente um Buddha.

Sem engano e hipocrisia,
Suplique a ele a partir do se próprio coração,
E sem precisar de qualquer outro expediente,
Você atingirá a iluminação nesta mesma vida.
Esta é a maneira da jóia que tudo corporifica,
Ensinada nos tantras do Dzogchen.
Quando você tiver esta jóia na palma de sua mão,
Não a deixe ser desperdiçada sem sentido.

O aprendizado, como as estrelas no céu,
Nunca terá um fim através dos estudos.
Qual é a utilidade de todos os vários tipos
De muitos ensinamentos pedidos e recebidos?
Qual é a utilidade de qualquer outra prática
Que não é maior do que a vacuidade?

Não pretenda ter muitos trajes ascéticos,
Como carregar um bastão e vestir tranças e peles de animais.
Deixando o elefante para trás, em sua casa,
Não vá procurar suas pegadas nas montanhas.

Mãe, medite sobre a essência da mente
Assim como é ensinado pelo mestre, Vajradhara,
E você terá a essência da essência
Dos oitenta e quatro mil ensinamentos.
É o néctar do coração de um bilhão
De seres instruídos e realizados.
É a prática última.

Este conselho do núcleo do coração
Do monge caído, Jamyang Dorje,
É a mais pura da essência pura
Da gota do meu sangue-vida.
Portanto, mantenha-o em seu coração, minha mãe.

Estas poucas palavras de conselhos do coração
Foram escritas em um belo campo
Na cidade do espaçoso céu azul,
Rivalizando o esplendor dos reinos divinos.

À devota Chökyi Nodzom,
Minha cara e amorosa mãe,
E a todos os meus devotos alunos,
Ofereço esta carta de conselhos.

Esta carta aos meus alunos foi composta por aquele conhecido como Khenpo, o tibetano Jamyang Dorje, no Vale Herbáceo do Grande Êxtase na Dordonha, no país da França, além do oceano, na direção do oeste. Possa resultar em virtude e a auspiciosidade!




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