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Bodhichitta, o Desenvolvimento da Mente do Despertar
Lama Tharchin Rinpoche


A prática da bodhichitta é a essência do caminho Mahayana. Ela significa "grande atitude iluminada" e tem duas dimensões. A primeira, a bodhichitta relativa, é o grande coração da compaixão. A segunda, a bodhichitta absoluta, é a grande abertura e vacuidade. Quando você tiver atingido e verdadeira realização, estes dois serão inseparáveis porque a essência da vacuidade é a compaixão.

1. Bodhichitta relativa

A bodhichitta relativa tem dois aspectos. Estes são a bodhichitta aspiracional [ou simplesmente bodhichitta da aspiração] e a bodhichitta engajada [ou bodhichitta da ação].

1.1 Bodhichitta relativa aspiracional

A bodhichitta aspiracional é o desejo de que todos os seres sencientes atinjam o estado búddhico, que eles sejam libertados do sofrimento e que nunca sejam separados da felicidade. A bodhichitta aspiracional inclui as quatro atitudes imensuráveis: a bondade amorosa; a compaixão; a alegria; e a equanimidade.

[1.1.1] Meditar sobre a equanimidade significa reconhecer que todos os seres sencientes são iguais em natureza. Esta atitude deve ser gerada a fim de desenvolver a bodhichitta. Para impedir uma visão distorcida e parcial, sempre comece sua prática meditando sobre a equanimidade. Um foco distorcido é causado por nossa mente criar conceitos limitadores, como o de amigo-e-inimigo ou gostar-e-desgostar. Este foco distorcido perpetua os fenômenos dualistas que são sinônimos com o samsara. Se limitarmos nossa habilidade de perceber todos os seres como iguais, como poderemos desenvolver nossa atitude vasta e sem direção da bondade amorosa, da compaixão e da alegria para todos os seres sencientes? A raiz do problema é a mente dualista, a mente que constantemente escolhe lados, amigos separados de inimigos, e que rejeita ou aceita os outros. Na verdade, não há razão para criar estes conceitos limitados. Temos de reconhecer que todos os seres sencientes já estiveram em todo tipo de relacionamento conceptível conosco.

Eles foram nossos pais, nossos amigos e nossos inimigos. Neste momento, eles podem ser nossos inimigos. Porém, já determinamos que tudo é impermanente, então é bem possível que no futuro nossos inimigos novamente se tornem nossos amigos.

Dentro de uma perspectiva mais ampla, enquanto nossos inimigos são considerados trazedores de mal, eles também podem ajudar. Através de sua bondade, eles podem apontar nossas faltas. Examinando honestamente o que eles dizem, podemos encontrar alguma verdade. Se alguém diz a verdade, então ficar com raiva ou rejeitá-los? Reconhecendo e aceitando nossas faltas, ganhamos as qualidades da sabedoria. Isto é também o que nosso mestre faz por nós. O trabalho do mestre é apontar nossas faltas e nos mostrar modos de removê-los. Este é o modo de atingir a sabedoria. Então comece sua meditação estabelecendo a serenidade da equanimidade, que produz a habilidade de amar sem limite ou direção. Reconheça o quão estes seres nos ajudaram e nos amaram no passado. O desejo de recompensar sua bondade amorosa desdobra-se naturalmente.

[1.1.2] A atitude da bondade amorosa é o resultado de reconhecer que todos os seres sencientes foram nossos pais durante algum tempo em nossos incontáveis renascimento. Eles nos deram um corpo e cuidaram de nós. Pense em sua bondade, sinta seu amor e por sua vez invoque um sentimento por eles.

Medite sobre aqueles que foram muitíssimo bondosos nesta vida. Eles são o mesmo que todos os seres que foram com você em vidas passadas. Crie uma bondade amorosa igual para todos os seres enquanto você reconhece o presente deles. Se alguém é tão bondoso, então você deve retornar sua bondade. Você pode recompensá-los fazendo surgir verdadeiramente uma atitude de imensurável bondade amorosa.

[1.1.3] Agora gere uma compaixão imensurável por todos os seres. Eles não têm idéia do que causa o seu sofrimento e ao mesmo tempo o seu único desejo real é o de felicidade. Os seres senciente não têm idéia de qual é a diferença entre ações virtuosas e não-virtuosas, e portanto criam continuamente mais karma negativo. Através da ignorância e cheios de desejo por felicidade, tudo o que fazem cria apenas mais e mais sofrimento. O desejo de que todos os seres sejam liberados do sofrimento surge natural e espontaneamente da contemplação do sofrimento dos outros e de suas causas. Reconheça o qual inconcebivelmente grande é o sofrimento deles e tenha misericórdia daqueles pobres seres sencientes que não têm idéia de como escapar deste ciclo infinito. Dê surgimento a um sentimento de compaixão infinita por eles. Realize o quão afortunado você é por ter encontrado um caminho com o potencial de o conduzir para fora deste ciclo.

[1.1.4] Gere um sentimento incomensurável de alegria enquanto você reflete sobre as boas qualidades dos outros seres sencientes. Tente ver as qualidades positivas nos outros, desenvolvendo o desejo de que suas qualidades positivas aumentem ainda mais e que outros as emulem. Medite sobre uma pessoa que tem atributos maravilhosos e então expanda essa observação para incluir o desejo de que todos os seres pudessem ter estas características maravilhosas. Rogue que todas estas qualidades cresçam e aumentem em todos os seres. Com a mesma motivação, deseje que todos os seres nunca sejam separados da felicidade suprema do estado búddhico e da causa da felicidade. Então rogue que todos os seres sencientes sejam separados permanentemente do sofrimento e das causas do sofrimento, e que eles experienciem a felicidade suprema completamente além o sofrimento e da causas do sofrimento, e que eles experienciem a felicidade suprema completamente além de qualquer sofrimento. Então reflita sobre os sentimentos positivos que surgem quando soubermos que os seres sencientes estão sem qualquer sofrimento e medite sobre esta alegria. estes são os Quatro Imensuráveis.

1.2 A bodhichitta relativa engajada

A ação da bodhichitta engajada é a prática das seis paramitas [ou perfeições]:

[1.2.1] Generosidade, ou a doação de coisas materiais - isto significa a doação de Dharma, a doação de proteção e o salvamento de vidas.

[1.2.2] Moralidade, ou a acumulação de ações virtuosas, a abstenção de ações não-virtuosas e a motivação de sempre beneficiar os outros.

[1.2.3] Paciência na prática, paciência com os outros e paciência enquanto ouvir o Dharma.

[1.2.4] Diligência, ou coragem e crença de que você pode realizar seu potencial búddhico, e a diligência para praticar imediatamente porque o futuro é incerto.

[1.2.5] Meditação. Todos os seres sencientes experienciam as três emoções venenosas da raiva, do desejo e da ignorância. Sobre o caminho, enquanto você medita, estes três venenos transformam-se nas três experiências de claridade, êxtase e vacuidade ou não-conceitualidade. No nível do resultado, estas três experiências transformam-se nos três kayas. Sobre o caminho, há três estágios de samadhi ou experiência. Isto é como a meditação de uma criancinha. Durante o segundo estágio, o apego à experiência desaparece, mas há ainda um apego sutil à vacuidade. Durante o terceiro estágio da meditação, até mesmo o apego sutil à vacuidade é cortado e o meditar descansa no estado desperto profundo e não-conceitual da natureza absoluta.

Aqui, as experiências podem ir e vir como nuvens no céu, mas a realização é imutável como o céu em si. Os três kayas são reconhecidos como sendo inseparáveis porque nunca foram separados desde o princípio sem princípio. A paramita da meditação tem este tipo de resultado poderoso.

[1.2.6] Sabedoria, que pode ser divida em três categorias: educação, contemplação e meditação.

[1.2.6.1] A primeira, a da meditação, refere-se à sabedoria adquirida juntando conhecimento de acordo com o samsara e o nirvana. A educação de acordo com a visão samsárica envolve o conhecimento intelectual, como o de idiomas, medicina, mecânica, informática e assim por diante. O conhecimento da sabedoria de acordo com o nirvana inclui todos os ensinamentos do Dharma, dos comentários, dos sutras e dos tantras. Deve-se educar a si mesmo através do ouvir e do entendimento sem erro. Aprenda o tanto quanto for possível sobre o Dharma ouvindo ensinamentos, lendo e ouvindo os outros que têm conhecimento. Esta é a sabedoria da educação. Até você alcançar um estado sem dúvida, estudar é importante. De outro modo, o entendimento errôneo pode surgir em relação ao Dharma, que é em si mesmo perfeito.

[1.2.6.2] A segunda, a sabedoria obtida pela contemplação, permite que a fé nascida da inteligência surja. Acreditar que algo é verdadeiro simplesmente porque foi dito, sem ter sido verificado por você mesmo, pode causar uma fé cega ou estúpida. Este tipo de fé não tem sabedoria. Então reflita profundamente sobre os ensinamentos puros do Buddha até que a sua realização amadureça e que todas as suas dúvidas sejam removidas. Quando você tiver estabelecido um entendimento profundo além de qualquer confusão sobre a infalibilidade dos ensinamentos, esta será a sabedoria da contemplação. Até esse momento, você deve continuar a contemplar os ensinamentos.

[1.2.6.3] A terceira, a sabedoria da meditação, é atingida aplicando o seu entendimento das palavras e do significado dos ensinamentos. Faça isto sem intelectualização e sem erro. Através da meditação, você obtém a realização que é a manifestação verdadeira da natureza de sabedoria de sua mente. Para resumir, a sexta paramita da sabedoria significa se educar sobre o Dharma sem entender erroneamente nem mesmo uma única palavra; contemplar os ensinamentos profundamente, sem cometer um erro no entendimento; e então meditar, aplicando seu entendimento. Isto resulta no atingimento da iluminação pura sem qualquer falta.

As cinco primeiras das seis paramitas pertencem à categoria dos meios hábeis. A sabedoria, a sexta paramita, é o estado perfeitamente puro da mente do Buddha e é o oposto da ignorância. O resultado da realização perfeita da sabedoria é, de fato, a realização da bodhichitta absoluta porque se terá atingido o estado búddhico.

2. A bodhichitta absoluta

A bodhichitta absoluta é a realização última da grande vacuidade, o coração-essência do coração da compaixão. Esta vacuidade não é como um cadáver. Ela tem a qualidade da radiância não-obstruída da compaixão. A vacuidade e a compaixão são completamente inseparáveis. Este é o ponto essencial da motivação de bodhichitta, e é o ponto mais essencial da prática do Dharma.

(Lama Tharchin. A Commentary on the Preliminary Practice of the New
Treasure of Dudjom. Corralitos: Bero Jeydren Publications. Pág. 28-30.)




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